Capítulo 2

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     Fomos em direção à lanchonete, chegando lá nos sentamos em uma mesinha lateral que ficava perto do caixa. Eu já conhecia a Eliane, a menina que trabalhava no caixa, ela tinha feito o ensino fundamental comigo, aliás, não só ela, quase todos os funcionários da lanchonete eu conhecia, por isso tinha escolhido levar o Ricardo lá, sabia que os sucos e sanduíches feitos lá eram feitos com muito carinho.

     Ao nos ver entrando, a Eliane (do caixa) fez sinal pro Patrick ir nos atender. Ele nem pegou o cardápio, porque eu sempre pedia o mesmo suco quando lanchava lá. Já veio perguntando se seria o mesmo ou se eu iria variar.

     — Coé Marcinho, tudo belezinha? Vai beber o de sempre ou vai aceitar a sugestão do gordinho aqui?

     — O de sempre Patrick, laranja com acerola. Mas traz o cardápio porque o meu amigo aqui tá vindo pela primeira vez.

     — Tranquilo Marcinho, vou pegar, mas já vou falar pra Jéssica ir adiantando o seu. Vocês vão querer sandubas também? A Vânia tá testando uns sandubas novos que eu acho que vocês vão gostar.

     Olhei pro Ricardo, que estava prestando atenção ao que o Patrick dizia.

     — Então Rick, vai querer um lanche completo, sanduíche e suco, porque os daqui são ótimos.

     — Acho que vou querer sim, um sanduíche e um suco.

     Enquanto o Patrick ia buscar o cardápio eu resolvi perguntar ao Ricardo um pouco sobre ele, agora que ele estava mais solto, menos envergonhado.

     — Mas então Ricardo, como você descobriu o nosso grupo de capoeira?

     — Eu tava vindo da casa de um amigo da faculdade, nós tínhamos um trabalho em grupo pra fazer, aí quando terminamos, ele me trouxe aqui perto pra pegar o ônibus pra casa. Eu vi vocês lutando capoeira na praça e parei pra olhar.

     — Então você não mora aqui perto?

     — Não, eu moro numa república de estudantes, na Tijuca. Quem mora aqui perto é o Maurício, esse meu amigo.

     — Hum Maurício? Não sei, acho que conheço esse cara.

     — Ele faz Arquitetura, junto comigo, estamos no terceiro período.

     — Legal, Arquitetura. Eu estou fazendo cursinho pra tentar o Enem esse ano, vou tentar Medicina. – Falei pra ele.

     — É um cursinho aberto pro pessoal da comunidade, tem um pessoal de uma ONG que mantém esse curso, a gente contribui com o que pode. Não tem mensalidades altas, mas os professores são muito bons.

     — Que legal...

     Quando ele ia continuar a falar, o Patrick voltou com o cardápio.

     — Voltei Marcinho, aqui ó, o cardápio! Tem um sanduba novo que a Vânia inventou que não tá aí ainda, mas como você só come aquele sanduba de pernil, com abacaxi e picles, acho que tu não vai curtir esse muito não. É de frango e você não costuma comer os sandubas de frango. Então, vai ser o de pernil mesmo? – E virou para o Ricardo.

     — Você é novo aqui no bairro? Nunca te vi por aqui. Tá...

     — Caralho Patrick, tu tá parecendo essas velhas fofoqueiras que querem saber de tudo da vida dos outros! Coé gordinho... – Falei rindo, enquanto encarava o Ricardo, que tinha pego o cardápio e estava escolhendo o sanduíche.

     — Foi mal negão, sabe que eu sou curioso mesmo... Mas me desculpa aí carinha. – Falou dessa vez olhando pro Ricardo. — Não quis ser intrometido...

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora