"Por que? Por que meus pais não são que nem os seus, Márcio?"...
Ouvir aquelas palavras na boca do meu namorado deixaram meu coração apertado. Sei que sou afortunado por ter uma família como a minha, que me aceita, luta contra o preconceito e parte pra cima quando vê alguma injustiça. Somos uma família de negros e que conhece toda a forma de racismo que existe, hoje em dia, já não tão velado. E ver que o meu namorado não tinha apoio na própria família me deixou triste. Mas não podia demonstrar isso pra ele, tinha que fazê-lo superar esses percalços. O apertei nos meus braços, beijei o topo de sua cabeça e fui andando com ele agarrado a mim até o sofá, onde me sentei o puxando para meu colo. Murilo que ainda estava sentado lá, me cumprimentou com um tapinha no ombro. Dei um sorriso pra ele falando que ficaria ali até tudo ser esclarecido, ele fez sinal que estava tudo bem. Fiquei fazendo carinho no Ricardo, que já tinha se acalmado um pouco, mas ainda tinha lágrimas escorrendo do seu rosto. O aninhei no meu peito e sequei suas lágrimas novamente. Murilo ameaçou se levantar do sofá, mas Ricardo pediu para que ele e Joana permanecessem junto com a gente na sala.
— Anjo, você quer me contar o que aconteceu? – Perguntei.
— Eu... Eu fui almoçar com minha família... Eu tava tão feliz com a festa de ontem, de como fui tratado na sua casa, que... Que aceitei quando Luciana me chamou pra almoçar lá.
— Sua irmã... Aquela que eu conheci?
— É, ela mesma!
— Ela passou aqui perto da hora do almoço, pra buscar o Ricardo. – Joana comentou.
— Tava indo tudo bem, minha mãe tava calma, meu pai também... Ele não reclamou por eu fazer arquitetura e não administração... Parecia que Luciana tinha convencido eles dois a me deixarem seguir as minhas escolhas...
— O que deveria ser o normal! – Murilo disse, apertando o ombro do Ricardo, pra demonstrar apoio.
— Murilo! – Joana olhou de cara feia pro namorado.
— Deixa Joana, o Murilo tá certo! Eles tinham que aceitar minhas decisões. Eu não ia seguir uma carreira, que não tem nada a ver com o que eu gosto de fazer, só pra continuar os negócios da família...
Continuei fazendo cafuné em Ricardo, pra que ele visse que eu estava ali para apoiá-lo em todas as suas decisões. E era a primeira vez que eu via meu namorado falando sobre a sua família. Até então ele só tinha comentado da irmã, porque eu a conheci naquele dia na república. Eu sabia que ele tinha duas irmãs mais velhas, porque Andrei e Sérgio tinham falado. Ricardo era bem reservado nesse sentido. E ele continuou contando:
— Eu achei que só seríamos eu, meus pais, minha irmã e seu noivo no almoço. Era isso que Luciana tinha me dito, quando veio me buscar.
— Seus pais sabem sobre você? – Perguntei, pois fiquei com a impressão de que Ricardo tinha se assumido naquele almoço.
— Sabem... Mas não me aceitam, e esse é um dos maiores motivos da revolta deles. Além de ser gay, não seguir os passos do meu pai, para administrar os bens da família. – Ricardo falou, com tristeza na voz.
— Muita imbecilidade da parte deles! – Joana comentou.
— Bom, eu fiquei a maior parte do tempo conversando com o Thiago, noivo da Lu. Minha mãe falou comigo quando cheguei, mas ela nunca foi muito calorosa com os filhos, não gosta de muito contato. E meu pai só acenou com a cabeça. Não me abraçou, não apertou minha mão... Mas, pelo menos não gritou, como das outras vezes.
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Anjo Capoeirista
RomanceAtenção! ******** Nova capa - Design by @BrunoJovovich ********** Se você estiver lendo esta história em qualquer outra plataforma que não seja o Wattpad, provavelmente está correndo o risco de sofrer um ataque virtual (malware e vírus). Se você de...