Sebastião
Estava voltando com Marco da obra, os dois "bragueados" e eu ainda "destabocado" por causa do "nó-cego" do novo engenheiro, que resolveu levar metade da minha equipe para a obra nova e deixando na que estava sendo terminada, só eu, meu filho e mais três cabras. Amanhã vou ter que ter uma conversa séria com o engenheiro-chefe, oxe, o sujeito tá pensando o quê. Não pode desfazer a equipe assim antes de concluir o serviço pesado da obra.
— Painho... Dá pra me deixar na lanchonete do Casemiro? – Marco me perguntou, me tirando do mundo da lua.
— Oxe, tu não vai pra casa direto? Rosa tá de plantão?
— Não, ela tá em casa... É que ela pediu pra eu levar aquele sanduíche que ela gosta e uma salada lá, que a mainha ensinou pra Vânia. A gente vai fazer uma refeição leve.
— Marapaiz, por que vocês não vão comer lá em casa? Do Céu faz a salada, visse!
— Não precisa, pai. A gente não quer dar mais trabalho que já dá pra mainha, e hoje é o dia que a gente fica só no sanduíche.
— Ave-Maria, não entendo vocês... Ficam só nos "belisquetes", em vez de comer um prato que dê "sustância"! – Reclamei e meu filho ficou rindo de mim.
— É bom sair do "prato de peão" de vez em quando! – O pintão falou rindo pra mim.
— Deixe de "ozadia"! Tome tento, seu pintão! – Respondi, fingindo estar bravo, o que fez Marco rir mais ainda.
Peguei o caminho que deixava em frente a praça onde os meus meninos faziam a roda de capoeira e onde ficava a lanchonete do velho Casemiro. Parei quase em frente a loja. Meu filho desceu do carro e foi falando: — Pode ir pra casa, painho. Daqui eu vou a pé, é pertinho.
— Oxe, deixe de bestagem. Te peguei em casa e vou te deixar em casa. Não custa nada. Ande, vá logo pegar o seu lanche...
Marco desceu do carro e entrou na lanchonete, enquanto eu esperava, parado lá na frente. Fiquei vendo o movimento na praça e num momento achei que tinha visto o queixão que vivia perturbando o galeguinho Fernando. Oxe, mas esse cabra não tinha sumido, depois da peia que levou do meu afilhado? Olhei novamente, mas não vi mais o sujeito. Vai ver que foi impressão minha.
Meu filho voltou com os embrulhos de sanduíche e salada da lanchonete, acompanhado do menino Patrick, que veio do lado de fora, no passeio, só pra falar comigo.
— Oi, tio Sebastião, faz tempo que o senhor não aparece por aqui. – O galego me cumprimentou.
— É muito trabalho, esse menino. Mas pode deixar que apareço. No sábado devo vir na roda, aí aproveito pra fazer um lanche.
— Olha que eu vou cobrar, hein... A Vânia e o sogrão também tem falado que nem o senhor e nem a tia Do Céu vieram mais aqui. Ah tio, viu que a reforma do casarão lá da minha rua tá quase completa? Eu tinha falado com o Marcinho, que era pra vocês pegarem aquela empreitada. Deve ter sido uma grana boa... Só espero que quem comprou seja gente fina.
— A gente até pegaria, se conhecesse os novos proprietários. – Marco respondeu. — O Ricardo me falou que foi lá com meu irmão e com aquele colega dele da faculdade, pra ver as obras. Mas o mestre de obras falou pra eles irem no outro dia, porque o engenheiro não estava. Acabou que eles não voltaram lá depois disso.
— Oxe, tinha como a gente pegar essa obra não. A equipe já estava sendo dividida em duas obras. Pegar mais uma é "descobrir um santo pra cobrir outro". Não gosto de pegar um serviço, estando no meio de outro. – Respondi pro galego. — Mas depois passo por lá, pra dar uma curiada. Quem sabe eu conheço os pedreiros que estão trabalhando lá.
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Anjo Capoeirista
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