Anjo Capoeirista

Capítulo 40

     Acordei domingo, de manhã cedo, com batidas na porta do meu quarto. Não era nem sete da manhã ainda. Ricardo ainda dormia, abraçado a mim e não acordou com as batidas na porta. Eu estava me preparando para ver quem estava me chamando àquela hora. Quando consegui me soltar do Ricardo sem que ele despertasse, a porta abriu e minha prima enfiou a cara pelo vão que ficou.

     — Bom dia primo! Já acordou? Posso entrar? – Ela perguntou.

     Olhei pra ela, fechei a cara, mas depois acabei rindo.

     — Fazer o quê, né! Já me acordou mesmo... Mas caralho, Vavá, podia ser mais tarde não... Nem sete da matina ainda... E ainda é domingo, cara... Dia de ficar mais um pouco na cama...

     — Oxe primo, tenho que fazer as fotos, e a luz da manhã está perfeita. Tenho que aproveitar a luz natural, porque não quero fazer essas fotos em estúdio. E já vi que não vai dar pra fazer durante a semana, porque você está trabalhando.

     — Já é, agora deixa eu acordar direito. Marca um dez aí que eu já levanto.

     — Marrapaiz, não fique de prega... Tem que ser agora cedo lá no quintal... Vai ficar massa.

     — Tá, já vou, já vou... Mas para de zona, senão vai acordar o meu anjo.

     — Ó paí ó, pro bichinho tá morgado desse jeito, é porque vocês ficaram de ousadia a noite toda!

     — Porra Vavá, vai ficar zoando... Na moral, me espera lá fora, que eu já vou...

     Ela riu e fechou a porta. Voltei minha atenção pro meu ruivinho, que não tinha acordado com toda essa zona que minha prima tinha aprontado. Olhei Ricardo dormindo. Como em todas as vezes que dormiu aqui em casa, ele sempre teve um sono tranquilo. Sempre acordei antes dele, só que eu nunca fiquei observando seu sono, sempre me levantava e ia tomar meu banho ou escovar os dentes e lavar o rosto e quando voltava, ele já estava acordado. Hoje, por causa da entrada da minha prima no quarto, por ter ficado na cama enquanto falava com ela, ele se mexeu e se aninhou no meu colo.

     Fiquei um tempinho, fazendo carinho no meu ruivo, reparando em cada detalhe do seu rosto, da aparência de menino, com aquelas sardas salpicando seu nariz e suas bochechas, que ficavam rosadas quando ele tomava sol ou quando o tempo estava muito frio e ficavam vermelhas quando ficava com vergonha, os cabelos com aqueles cachos vermelho acobreados, que estavam bagunçados, mas que eu amava acariciar, a boca que sempre dava um sorriso tímido, os olhos tão verdes que pareciam sorrir para mim, quando ele me olhava. O jeito de menino criado no interior, que fica sem jeito quando recebe um elogio. Esse garoto conquistou meu coração, de me fazer ficar pensando o quanto eu era sortudo por ele ter aparecido na minha vida. Depois de um tempo acariciando Ricardo, olhando pra ele e pensando na vida, resolvi levantar logo, antes que minha prima viesse novamente até o quarto e resolvesse fazer a sessão de fotos ali mesmo e inclui-lo no ensaio. Me levantei devagarinho, o ajeitei na cama, o cobrindo com o lençol, dei um beijo em sua testa e fui saindo do quarto, deixando Ricardo dormir mais um pouco, pois ainda estava muito cedo. Ao sair do quarto, dei de cara com meu primo que ia saindo do banheiro, ainda com a cara amassada de sono.

     — Caralho, deu formiga na cama, pra estar todo mundo de pé a essa hora da manhã? – Falei pro moleque, que me olhou com cara de poucos amigos e foi logo reclamando.

     — Oxe, eu tava num sono bom da porra, quando Vavá levantou da cama, foi abrindo janela, acendendo luz, mexendo em mala... Fazendo uma zuada da porra no quarto, que eu acordei no susto. Vô voltar pra cama... Só levanto quando painho Nesto me chamar... Tomara que ela não tenha que pegar mais nada lá... Que arerê da porra que ela faz!