Capítulo 20

3K 206 102
                                    

     De sexta-feira em diante começou a loucura em casa, com meu pai deixando todo mundo a ponto de arrancar os cabelos com a insistência dele em saber se os preparativos para festa estava correndo do jeito certo, melhor dizendo: "do jeito Dele". Coitada da minha mãe, estava ficando maluca com as ideias que o meu pai inventava de última hora. Ele ligava pra ela, pra mim, pro Quinho e pra Rosa, só pra saber se tinha alguma novidade; se vinha alguém que ele não conhecia, se já tinham providenciado as mesas e cadeiras, se tinha que providenciar som. Tava vendo a hora, minha mãe colocar ele num avião pra Salvador pra ele ficar lá até a próxima sexta-feira e não perturbar mais ninguém e só voltar na hora do aniversário. Ele tava conseguindo irritar até o cara mais tranquilo da família, no caso o meu irmão. E olha que pra tirar o tagarela do Quinho do sério tinha que fazer muito esforço...

     Eu cheguei na sexta, em casa depois do pré, achando que iria tomar banho, jantar, ligar pro Ricardo, ficar namorando um tempinho por telefone com ele, depois iria dormir, mais cedo que o normal, para estar descansado para a Roda de Capoeira que teria no sábado. Mas não... Foi só eu colocar o pé dentro de casa, que fui praticamente arrastado pro mercado por um Sr. Sebastião apressado, dizendo que a gente tinha que aproveitar a promoção de carne que estava acontecendo e comprar logo as carnes pro churrasco.

     Não satisfeito em me arrastar pro mercado, ele ainda cismou de arrastar meu irmão também. Não bastava ir com um filho fazer compras... Não... Pro nosso pai, compras pra serem bem-feitas tem que levar os dois filhos... Meu irmão já estava se preparando pra dormir quando chegamos na sua casa. Rosa ficou rindo da situação e Quinho olhando pra nós como quem diz "Ai não, não vai me dizer que é o que eu estou pensando!". E essa loucura se repetia todos os anos, sempre no aniversário do pai. Porque nos nossos, depois que crescemos e no da minha mãe, nós conseguimos travar as loucuras do velho Sebastião.

     E lá fomos nós três pro mercado, quase nove horas da noite. Chegando lá, achando que iríamos comprar só as carnes, eu e meu irmão fomos nos encaminhando direto pro setor de açougue, quando nosso pai quis saber onde iríamos.

     — Ué pai, pra seção de carnes. Não foi pra isso que a gente veio? – Meu irmão respondeu.

     — Oxe, vamos aproveitar que já estamos aqui e olhar logo as bebidas, vai que tenha promoção! – Meu pai retrucou. Meu irmão me olhou com cara que dizia "nós não vamos sair daqui tão cedo!". Eu respondi com o olhar de "agora é tarde, vamos escolher as paradas rápido, senão a gente só sai daqui com o mercado fechando!".

      Mesmo apressando nosso pai, saímos do mercado com o mesmo quase fechando e com três carrinhos lotados com carne, cerveja, refrigerantes, e outras coisas que ele cismou que seria bom ter na festa também. Colocamos as compras no porta-malas do carro e quando meu pai se encaminhou pro lado do motorista, eu me adiantei e disse que iria dirigindo pra casa. Foi um milagre ele não se opor, então saímos do mercado e primeiro deixei meu irmão em casa, pra só depois tomar o rumo da nossa casa. Ainda tive que aturar meu pai perturbando o meu juízo, que era pra ter vindo direto com o Quinho, pra ele ajudar a descarregar as compras e que depois eu deixava ele em casa.

     Chegamos em casa, descarregamos as compras, colocamos as carnes no freezer e as bebidas na despensa. Deixei meu pai falando com minha mãe na cozinha e fui ligar pro meu ruivinho. Ainda não tinha conseguido falar com ele à noite, só tínhamos nos falado rapidamente na hora do almoço. Pude namorar um pouco com meu gatinho e perguntar como tinha sido a tarde dele, agora que ele tinha conseguido a vaga de monitor em uma das matérias do ciclo básico. Conversamos só um pouco, porque ele estava caindo de sono, tanto que estava quase dormindo sentado, durante a chamada de vídeo. Falei pra ele ir descansar e encerramos a chamada. Tomei meu banho e fui comer alguma coisa, pra depois ir dormir, pois tinha que levantar cedo por causa da capoeira no sábado.

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora