Capítulo 37

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     Eu já havia falado com meu pai que deixaríamos Ricardo em casa, antes de irmos às compras, porque eu já tinha uma quase absoluta certeza que ele estava com ideia de carregar todo mundo pro mercado e não só eu, ele e o Vitor. Meu primo Vitor já estava no banco traseiro e meu pai já estava impaciente, aliás, meu pai é o único baiano impaciente que eu conheço... Até tio Bené é mais no ritmo baiano de ser, que o seu Sebastião... Acho que meu pai deve ter nascido de sete meses, nunca vi homem tão alvoroçado.

     Eu e Ricardo entramos no carro e meu pai foi avisando que passaríamos na casa do meu irmão pra buscá-lo.

     — Pai, é mesmo necessário o Quinho ir também? Eu e o senhor damos conta de comprar tudo!

     — Oxe, você sabe muito bem que pra todas as festas de família, a gente faz as compras todos juntos. Sempre foi desse jeito. Tua mãe diz o que vai precisar e a gente compra. O teu irmão vai com a gente e Ricardo vai junto também.

     Ricardo olhou espantado de mim para o meu pai. Ele ia falar alguma coisa, mas foi interrompido pelo sogro que foi logo dizendo:

     — Você já faz parte da família, então tem que participar das nossas atividades.

     — Mas pai, o Ricardo tem aula! A gente ia deixar ele em casa pra ele ir pra faculdade!

     Meu pai simplesmente ignorou metade do que eu estava falando, olhou pro meu namorado e perguntou diretamente a ele:

     — Olhe só, meu menino, você tem alguma prova ou trabalho pra entregar nessa aula de manhã?

     — Eu... Eu não tenho... As primeiras aulas... Só depois das onze horas... E o professor não... É... Ele não costuma fazer a chamada no início da aula e... Eu já tenho média na matéria dele...

     Ai caralho, eu tento evitar que o meu namorado seja arrastado pro mercado junto com a gente e ele em vez de concordar comigo, entrega o ouro pro bandido... Falou tudo que o meu pai queria ouvir. Olhei para Ricardo, que me olhou resignado. Vitinho, que já estava todo animado por meu pai tê-lo trazido, ficou mais eufórico ainda quando ouviu que Ricardo ia junto.

     — Primo, já que você vai mais a gente pra comprar, depois você podia voltar e ficar jogando bola mais eu. – Vitinho falou todo animado com ele. — E amanhã você vai jogar capoeira com a gente também, não vai?

     Eu só balancei a cabeça em negação. Agora eram dois, meu pai e Vitor a cobrar atenção do meu namorado. Ricardo não respondeu nada, só balançou a cabeça confirmando, o que fez meu primo ficar todo animado por ter alguém que ele achava ser da idade dele para brincar, apesar do meu ruivo ser mais velho. Ah, essa carinha de bebê do Ricardo!

     Já estávamos chegando na casa do meu irmão e meu pai foi parando o carro em frente. Marco já estava esperando do lado de fora e ficou admirado ao ver Ricardo e Vitor no carro. Quando meu pai parou, eu desci e passei para o banco de trás, junto do meu namorado e do meu primo.

     — Eita caralho, vai a tropa toda fazer compras? – Meu irmão perguntou, enquanto entrava no carro. — Achei que só íamos nós três!

     — Eu falei com o pai que dava só pra eu e ele comprar tudo, mas como sempre, fui voto vencido. – Respondi pro Quinho, que começou a rir.

     — Imaginei...

     — Oxe, vocês dois parem de resmungar, parecem até duas velhas reclamonas! E desfaçam esses bicos... Arre... Vocês tão ficando iguaizinhos a mãe de vocês... Tudo reclamam...

     Meu irmão olhou pra mim, piscou e mandou a letra, só pra ver a reação do meu pai:

     — Ah é, então deixa eu avisar a dona Maria do Céu que o marido dela tá dizendo que ela é uma velha reclamona...

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora