Anjo Capoeirista

Capítulo 41

    Na segunda-feira fui na parte da manhã até a universidade para fazer a minha matrícula no curso de Medicina. Depois de devidamente matriculado, fui para o trabalho e tive uma reunião com Judith, minha chefe, que tinha que ver como ficaria a questão do meu horário na ONG, já que o meu curso é em horário integral, mas ela mesmo preferiu dizer que veríamos essa situação com mais calma, já que minhas aulas só começariam em dois meses. E não tivemos muito tempo livre depois da reunião, porque surgiu uma demanda de última hora para a equipe resolver, que ocupou toda a equipe durante o expediente inteiro. Tivemos até que almoçar os quatro juntos: Judith, eu, Bia e Mariano, porque quando fomos perceber, já tinha passado e muito da hora do almoço e quase não tivemos tempo de almoçar. Voltei pra casa depois de um dia cheio, mal tive tempo de ligar ou mandar mensagem pro meu namorado.

     Chegando em casa, encontrei apenas tio Bené e Ernesto, que estavam sentados na sala discutindo sobre o caso em que meu tio estava trabalhando. Só quando me viram chegar que eles perceberam o avançado da hora.

     — Eta porra, olhe só a hora, Ernesto... Nós já estamos mais de quatro horas de relógio vendo esse caso e não chegamos nem na metade da papelada. Até Márcio já chegou do serviço. – Disse meu tio, olhando pra mim.

     — E ae tio, a parada tá difícil aí?

     — Tá barril, Márcio... Tá pior que a gente podia imaginar. – Dessa vez quem respondeu foi Ernesto, que estava ajudando o meu tio com o processo. — Não sei se o Dito vai conseguir resolver tudo que tem que ver aqui no fórum nessa semana. Descobrimos que tem gente graúda envolvida...

     — Vai dar tudo certo, meu nego. E você, meu sobrinho? Fez a matrícula? Era hoje, não é?

     — Fiz sim, fui lá de manhã cedo e já resolvi essa parada. Agora é só esperar o começo das aulas, daqui a dois meses. – Respondi aos dois, que pararam de olhar a papelada que estavam analisando e começaram a conversar comigo. — Mas tão só vocês em casa? Cadê a Vavá e o Vitinho?

     — Foram dar uma volta com seu irmão, ele saiu mais cedo hoje e levou os dois para um passeio, acho que iam buscar a Rosa no plantão e depois rodar a cidade.

     — Marco tá precisando de um descanso mesmo. Ele e Rosa trabalham que nem dois burros de carga. Ele só para nos domingos e Rosa, quando não está de plantão sempre inventa alguma coisa pra fazer. – Comentei com eles.

     — Seu irmão é igual ao seu pai quando estava com a idade dele, se deixasse ele ficava no trabalho o tempo todo. – Tio Bené falou, enquanto olhava uma papelada que ele retirou de uma pasta. — Achei o documento, Ernesto... Isso vai poupar dias de ida ao fórum.

     — Que ótimo... Vai avisar ao promotor, que você achou a peça do quebra-cabeças que estava faltando? – O marido do meu tio perguntou, fazendo que eu prestasse atenção no que eles estavam olhando.

     — Vou, ele vai ficar que nem pinto no lixo, quando tiver esses dados. Essa organização vai cair que nem um castelo de cartas...

     — Caraca tio, a parada é tão sinistra assim?

     — É, pior do que você imagina, meu sobrinho. E como Ernesto disse, tem gente graúda envolvida. – Meu tio me falou e de repente, como se lembrando que o processo era sigiloso, ele mudou totalmente de assunto. — Márcio, ontem eu falei um pouco com o seu namorado. Bem tímido o rapaz!

     — Pois é, tio... Tinha que ver quando ele conheceu o pai... Sabe como o Seu Sebastião é...

     — Seu pai já me contou... – Me respondeu, rindo. — Mas me diga outra coisa. Você já conheceu a família dele?