Capítulo 27

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     Meu pai atravessou a sala como um raio e puxou Ricardo para um abraço.

    — Oxe meu reizinho, dê cá um cheiro nesse baiano velho! Na festa não dava pra te dar a atenção que eu queria, porque tinha gente que só a porra... O painho aqui...

     Ricardo teve nova crise de choro quando foi abraçado por meu pai, que mesmo sem entender o que estava acontecendo, não o soltou e começou a tentar consolá-lo.

     — Ave-Maria, esse menino... Fique triste assim não... Sente aqui mais eu... Não chore assim...

     Meu pai foi levando Ricardo abraçado com ele até o sofá e o colocou sentado ao seu lado. Eu me abaixei em frente a eles dois e tentei acalmar meu namorado. Meu pai enxugava suas lágrimas enquanto tentava entender o motivo de Ricardo estar em prantos. Minha mãe apareceu na sala, querendo saber o porquê de meu pai ter gritado por ela.

     — Que berreiro é esse, Sebastião? Onde já se viu homem tão alvoroçado que nem esse!

     Quando viu meu namorado chorando, sentado ao lado do meu pai no sofá, comigo em frente aos dois, minha mãe ficou preocupada, mas rapidamente tomou as rédeas da situação:

     — Márcio, meu filho, vá na cozinha e traga um copo d'água com açúcar pra ele. Sebastião, deixe o menino respirar, não precisa sufocar o pobre assim! Fique calmo menino, que mainha tá aqui...

     Deixei Ricardo aos cuidados dos meus pais e fui pegar a água com açúcar pra ele. Quando retornei à sala, ele já estava mais calmo e meus pais faziam o sabem fazer de melhor, cuidar das pessoas. Dona Maria do Céu conversava com Ricardo, enquanto Seu Sebastião afagava meu namorado. Lembrei das muitas vezes que eles tranquilizavam a mim e a meu irmão, da mesma forma, na nossa infância. Sempre com carinho, conversando, tentando entender o que havia acontecido. Encarei meu namorado, que ainda soluçava um pouquinho, mas me deu um meio sorriso. Entreguei o copo d'água para ele, que bebeu uns goles. Minha mãe afagou mais um pouco meu namorado, deu um beijo em sua testa e se levantou do sofá, sinalizando que era para eu sentar ao lado do Ricardo.

     — Filho, fique aí com seu pai, cuidando do seu namorado, eu vou pra cozinha, terminar o almoço. – Ela foi andando em direção à cozinha, mas parou e falou com Ricardo. — Não fique triste com as atitudes de seus pais, eles ainda vão ver o menino lindo que você é, só espero que não seja tarde demais para eles quando perceberem as barbaridades que estão fazendo com você. Se eles não querem te dar o amor que você merece, você tem uma família inteira que está aqui de braços abertos pra você, e que vai te dar todo o amor e carinho!

     — Viu só, meu reizinho... Minha rainha é mãezona que só a porra! Se aqueles lá não te querem, a gente te quer aqui, bem juntinho do meu neguinho... Já pode até vir morar com a gente. – Meu pai falou, dando um novo abraço de urso no Ricardo, que estava quietinho, só sendo mimado pelos dois baianos.

     — Posso ficar com meu namorado agora, painho? – Perguntei, rindo pro meu pai.

     — Oxe, é claro que pode! Mas tu cuides direitinho do meu novo filhotinho, senão te dou umas peias, entendeu, meu preto? Agora sente aqui mais a gente. E tu não me deu bom dia hoje... Não dormiu em casa e quando chega, não pede a benção... Só vou relevar porque tu devias estar preocupado com esse menino.

     Me sentei ao lado deles e puxei Ricardo para mim, fazendo meu pai resmungar que eu estava muito possessivo, não deixando ele ficar abraçado ao meu namorado. Olhei, já rindo, para Seu Sebastião, que pra me provocar, puxou Ricardo de volta e ficou fazendo carinho nos cabelos do meu ruivo, como se estivesse cuidando de um bebê. Ricardo já estava ficando envergonhado e meu pai percebeu.

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora