Capítulo 30

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     Entramos os dois juntos na cozinha e fomos fazer o que fazíamos desde criancinhas quando minha mãe fazia lasanha, ou seja, filar o molho a bolonhesa que ela fazia, e levar uma corrida da dona Maria do Céu...

     — Saiam daqui vocês dois, que o jantar ainda não está pronto! Rosa, venha aqui e dê um jeito no seu marido e no seu cunhado, que eles estão atentando o meu juízo!

     Saímos rindo da cozinha, antes que minha mãe jogasse o chinelo em nós dois.

     — É sério que Rosa está na TPM? – Perguntei ao meu irmão.

     — Sei lá! Só percebi que ela chegou uma arara do plantão hoje. Acho que não é TPM não... Escutei ela comentando ainda pouco com mainha que teve que dar uma "comida de rabo" num residente de medicina que andou fazendo merda. Acho que é por isso que ela está irritada desse jeito, sempre que algum médico faz alguma coisa errada, acaba sobrando pros enfermeiros ajeitarem a cagada.

     — É... Vou me lembrar disso quando for médico, de sempre ver o lado dos outros profissionais que vão trabalhar comigo.

     Voltamos conversando pra sala, onde Rosa estava sentada, lendo. Assim que nos viu entrar, ela já veio falando:

     — Vocês dois não tem jeito, já foram perturbar a sogra lá na cozinha... Parecem duas crianças... Deixa eu adivinhar... Tavam roubando molho a bolonhesa, né?

     Marco foi até ela, sentou em seu colo e ficou fazendo carinha de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

     — Minha preta, cê sabe que não tem como resistir ao molho a bolonhesa de mainha. Duvido que você não ia roubar um pouquinho também, se fosse lá.

     — Ai Marco, levanta do meu colo, que tu tá pesado! E não vão chamar o sogro e o Ricardo não? Daqui a pouco a comida tá pronta!

     — Tão lá no quintal, o pai tá ensinando capoeira pro ruivo. – Quinho respondeu. — Daqui a pouco eles entram, painho sabe a hora exata que a janta fica pronta. Tem vezes que eu acho que o pai e a mãe se falam por telepatia.

     Rimos do comentário que meu irmão fez, mas era uma coisa que parecia verdade. Meu pai e minha mãe, em diversos momentos se entendiam sem palavras, como se estivessem conversando mentalmente.

     — Vou arrumar a mesa. – Comentei, me levantando do sofá, onde tinha sentado e fui até o armário onde minha mãe guardava as toalhas, louças e outros utensílios.

     — Deixa que eu faço isso, irmãozinho. Você chegou praticamente agora, vai tomar um banho. Eu e Rosa cuidamos da mesa.

     — Valeu Quinho!

     Enquanto eu fui tomar banho, minha mãe aprontou o jantar e Quinho colocou a mesa. Quando Rosa pensou em ir chamar meu pai e Ricardo no quintal, eles apareceram na sala, com meu pai falando com ele que no começo era difícil de lembrar de cada golpe, mas que com o tempo, ele saberia todos.

     — Agora vá tomar um banho, meu filhote, que daqui a pouco teu preto tá chegando. A janta tá quase pronta.

     — Márcio já chegou, meu sogro. Ele está tomando banho. – Rosa avisou ao meu pai.

     — Oxe, e porque ele não foi lá no quintal falar comigo e com o menino?

     — A gente foi, pai. Mas preferimos ficar olhando o senhor ensinando capoeira. – Meu irmão respondeu.

     — Oxe, oxe... Vocês podiam ter ido me ajudar a ensinar, assim meus filhos iam ficar tudo junto!

     — Vai ter outra oportunidade, pai. Tenha certeza disso! – Marco falou. — Vai lá cunhadinho, surpreenda teu namorado, garanto que ele vai adorar tomar banho junto com você. – Completou com uma piscadela, deixando Ricardo vermelho como um tomate.

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora