Capítulo 31

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     Fomos todos pra mesa, pois minha mãe tinha feito uma macarronada pro jantar. Meu pai já todo animado, queria por que queria contar a história toda da família pro Ricardo, mas mainha não deixou.

     A notícia da minha aprovação pra Medicina acabou se tornando o assunto principal durante o jantar, não tendo chance do meu pai tocar no assunto "família" até todos termos terminado de comer. Seu Sebastião e dona Do Céu começaram a fazer planos para a festa de comemoração do meu sucesso no Enem, enquanto ainda comíamos. E chegaram a conclusão que o Vatapá seria o carro-chefe do almoço comemorativo. Meu pai já tinha dito praticamente que seria isso, em vez de um churrasco, e minha mãe concordou com ele, já imaginando que não seria apenas um almoço de família, e sim quase que um mini-aniversário meu, já que ele queria comemorar o meu sucesso. E começaram a debater qual seria a melhor data para o "evento", que aconteceria depois da vinda de tio Bené, de Salvador.

     Como sempre fazia, desde que nos entendemos por gente e tivemos idade para ajudar nas tarefas de casa, Marco recolheu as louças e foi pra cozinha lavá-las. Rosa o acompanhou, para que terminassem rapidamente. Minha mãe foi junto para ajudá-los a guardar as louças e ficamos os três à mesa: meu pai, Ricardo e eu.

     Meu pai ainda estava transbordando alegria pela notícia do meu ingresso na faculdade, Ricardo também, mas por sua timidez tão grande, ele se controlava e só trocava olhares comigo, me dizendo através deles o quão feliz estava por eu ter conseguido. Mesmo tendo passado três semanas convivendo com meus pais, meu namorado ainda ficava envergonhado com o carinho com que era tratado por seu Sebastião e dona Do Céu. E percebendo os olhares de Ricardo, que meu pai voltou a tocar no assunto da família.

     — Chegue mais meu reizinho, agora que já está todo mundo de bucho cheio, você vai tomar pé do que esses desassuntados dos meus pivetes não te falaram. Tem que saber como é essa família, pra ver que não tem que ficar avexado na frente da gente.

     Meu pai se levantou e foi levando Ricardo pela mão até o sofá. Meu ruivo o acompanhou como uma criança segue o pai. Me levantei também e me sentei na poltrona de frente para os dois.

     — Olhe só, meu menino, agora que entraste pra família, e já que eles não te contaram os motivos que eu e Do Céu temos pra não deixar ninguém falar um "Ai" sequer de ninguém da nossa família sem defender. Eu tenho que te falar pra você perder esse medo da gente...

     — Mas seu Sebastião...

     — Oxe, chame de painho, meu filhote... No meu coração e de Do Céu, tua mainha, tu já és nosso filho, então não se avexe e me chame de painho...

     — Painho, pegue leve com ele... Já que é pra Ricardo se acostumar com o seu jeito, melhor ir com calma. – Falei pra meu pai.

     — Tu tome tento, Márcio Antônio, já devia ter contado pra ele do seu tio Bené. Se tivesse feito isso, ele já teria entendido como é nossa família!

     — Calma aí, só falei pra ir devagar na história!

     — Ó paí ó, tu não contaste, então agora conto eu... E do meu jeito... E pegue aquela cachacinha que Herculano me deu de presente, essa história não é pra contar de bico seco...

     Me levantei e fui buscar a cachaça e os copos enquanto meu pai continuava a contar a história da família.

     — Olhe só, meu menino. Eu sou o caçula de cinco irmãos e Benedito é meu irmão mais velho. Nossa família é de Nova Ibiá, uma pequena cidade na região cacaueira da Bahia. Benedito é o maior responsável por eu ser o homem que sou hoje e por saber respeitar as diferenças.

Anjo CapoeiristaOnde histórias criam vida. Descubra agora