Anjo Capoeirista

Capítulo 4

     Acordei com a claridade entrando pela janela. Eram seis e meia da manhã ainda, precisava levantar e voltar para casa. Fernando continuava abraçado a mim, como quem abraça seu brinquedo favorito. E estava animadinho o garoto, seu pau duro roçava na minha coxa. Tentei me levantar sem acordá-lo, fui me soltando lentamente de seu abraço e me sentando na cama. Ele se mexeu um pouco, mas virou de lado continuando a dormir.

     Me levantei e fui em direção ao banheiro, precisava fazer minha higiene matinal, ninguém aguenta ficar com bafo após levantar. Escovei meus dentes e tomei um banho rápido. Vesti a bermuda que tinha usado ontem, sem cueca e a mesma camiseta. Saí do banheiro e voltei ao quarto para ver se ele já havia acordado, mas Fernando continuava dormindo, com um semblante tranquilo.

     Fui até a cozinha para preparar o café da manhã para nós dois e depois iria acordar o "Belo Adormecido". Coloquei o pó de café na cafeteira, peguei a caixa de leite que estava na geladeira e coloquei uma quantidade suficiente numa leiteira para ferver. Essa quantidade dava para nós dois tomarmos o café com leite sem maiores problemas.

     Olhei novamente na geladeira, peguei o pote de manteiga e o queijo que estavam lá. Peguei o pão de forma que estava em cima do armário e fiz dois "queijos quentes" para nós, peguei a sanduicheira que estava no armário, liguei e coloquei os sanduíches para esquentar.

     Arrumei a mesa da cozinha para o nosso café da manhã e voltei ao quarto, para acordar o Fernando. Ele continuava dormindo, agora abraçado ao travesseiro que eu usei. Me aproximei da cama e o chamei:

     — Fê, acorda meu lindo!

     Ele se remexeu na cama e resmungou algo, que não entendi.

     — Fê, acorda vai. Eu tenho que voltar pra casa, fiz o café pra gente... Levanta, toma um banho, toma o café junto comigo, depois tu volta pra cama.

     Ele se virou novamente e começou a falar, mas ainda dormindo:

     — Não tia, a vovó não gosta que eu fique andando só de cueca pela casa!

     — Fernando, acorda!!!

     — Não tia, eu sei que tá calor, mas a vovó...

     — Fernando! – Falei o sacudindo levemente.

     — Hã! Que foi? Cadê a tia?

     — Você estava sonhando, meu anjo! – Falei, rindo da cara de confuso que ele fez. — Levanta, vai tomar um banho, pra gente tomar café. Tenho que passar em casa antes de ir trabalhar.

     Ele me olhou, ainda meio sonado e confuso.

     — Tá, eu vou levantar, mas a tia já voltou?

     Eu dei uma gargalhada, esse garoto quando acorda perde a noção do tempo.

     — Fernando, acho que você ainda está dormindo... Esqueceu que sua tia voltou pra Vitória ano passado? Levanta e toma um banho, senão vou tomar o café sozinho e vou embora.

     — Tá, já vou... – Falou, resmungando novamente...

     — Ei, não é pra ficar bravinho não, hein. Senão te dou umas palmadas... – Disse isso e fui saindo rumo a sala.

     — Ai Marcinho, você fica tão mandão essa hora da madrugada!

     Falou, indo em direção ao banheiro. Tive que rir do comentário, onde já se viu achar que quase sete e meia da manhã é madrugada.

     Fiquei esperando ele acabar o banho e enquanto ele não acabava resolvi mandar uma mensagem para o Ricardo. Não tinha falado com ele desde ontem. Devia ter ligado, perguntando se chegou bem em casa e confirmado o cinema para a próxima sexta, mas com a "despedida" do Fernando, acabei esquecendo completamente de ligar pra ele. Melhor mandar uma mensagem.