Esse olho roxo deixa minha cara muito inchada?

437 41 45
                                    

Joey

Os raios do sol refletiam como diamante pela janela do carro do papai enquanto Francine cochilava pacificamente no meu colo, minha mão acariciando amorosamente sua cabeça macia. Assistindo as plantações correrem com o carro rodando pela estrada, lembrei-me de que papai trabalhava nessas fazendas quando nossa cabana ainda era uma casa aos pedaços, consertando coisas e ajudando a cultivar alimentos.

Papai nasceu em uma fazenda do Sul, a casa de seus avós; uma casa branca com um gramado amplo e intocado, cercado de árvores antigas com musgo e uma extensão de cascalho repleto de dentes de leão. Desde pequeno, sempre imaginei um lugar com inúmeros acres de milho, vastos campos de aveia, cana de açúcar e algodão. O solo seria essencial para a plantação de alimentos, e a grama estaria sempre alta para que as vacas pudessem se alimentar à vontade. Os animais viveriam todos juntos, soltos e misturados.

Tudo é tão bonito e vivo na minha cabeça, como se eu já estivesse lá, mas papai nunca me levou a esses lugares.

Papai raramente fala sobre sua mãe, minha avó, mas quando o faz, ele se lembra dos momentos felizes de sua vida e me conta sobre brincadeiras da infância, muitas vezes a emoção abandona seu rosto, como se fosse uma maré vazantes, deixando seus olhos miseráveis ​​e sem vida. É a mesma coisa com o seu pai, que seria o meu avô, mas quando me arrisco a perguntar ao papai pragueja que ele já morreu há muito tempo e que devo parar de perturbá-lo. Pelo pouquinho que sei, ele era um alcoólatra.

Vovô Joe, como papai o chama, que seria meu bisavô, também nasceu em uma fazenda e sua infância se resumiu a ser servido por empregados negros e mimado por seus pais. Vovó Mary Alice, era filha de um casal de italianos, uma família de mãos calejadas e regras rigorosas. Papai diz que ela era doce e extrovertida, o oposto de vovô, que preferia manter seus pensamentos a si mesmo. Ele não dizia muita coisa, a não ser que alguém perguntasse, o que pouca gente fazia. Segundo papai, vovô e vovó já se conheciam há muito tempo, mas só aos dezessete anos ele teve a coragem de pedir a mão dela. E, com o "sim", colocou a jovem na garupa do cavalo e rumou para a fazenda.

O pai do avô vinha de uma linhagem muito respeitada e, mesmo com tanta riqueza, era descrito como temperamental e infeliz. Ele descarregava suas frustrações nos outros e era cruel com seus empregados, punindo-os com humilhações, espancamentos ou até mesmo ferro em brasa. Parece-me que ele sofria de depressão grave e com a medicina da época não era muito comum as pessoas procurarem ajuda psicológica, deixava a saúde mental nas mãos de Deus.

Papai me trouxe até a cidade, me largou no mercado e pediu para que o encontrasse no parque depois das compras. Ele quem iria levar Francine para passear. As senhoras olhavam para mim, ou melhor, para o meu rosto, com os olhos um pouco arregalados, espantadas com os meus hematomas. Não sei, parece que quando me veem alguma coisa nelas ativa seus instintos maternos e as faz se preocupar com minha condição.

Os idosos simpatizam muito comigo. Eu sempre ajudo as velhinhas a atravessar a rua ou a carregar suas sacolas de compras. Dona Green, que agora beira os oitenta anos, ainda vive me pedindo para que eu vá lanchar ou almoçar com ela.

As pessoas do mercado pareciam me enxergar, dessa vez. Eu não era mais tão invisível, por isso selecionei nossas compras com o queixo abaixado e voei o mais rápido possível para o caixa.

- Meu Deus, Joey, o que houve com você? - perguntou uma voz. Eu sabia quem era, e evitei olhar em seus olhos.

- Eu... caí da escada, senhora Campbell. - menti, e uma pontada me atingiu o peito. A senhora Campbell era uma das proprietárias para quem meu pai já trabalhou, ela e o marido são donos de uma fazenda bem sucedida. É uma senhora muito amável e sorridente.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora