Sou um cachorro perseguindo carros. Eu não saberia o que fazer se alcançasse um.

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Nate

Certa vez, encontrei um gatinho em uma velha caixa de papelão jogada na estrada. Ele era lindo, branco e magro como um palito. Uma coisa peluda cheia de pulgas. Papai esmagou seu crânio com uma pedra, ele disse que a última coisa que precisava era de outra boca para alimentar.

Foi a primeira vez que o vi ser cruel.

Isso foi depois que ganhamos Evangeline de uma moça que criava cavalos na região. Quando a conheci, ela ainda era um potro e tinha acabado de ser desmamada. Uma coisinha fina, interessante e elegante, mas também desajeitada.

Ele me disse que todas as noites que passa fora e todo o dinheiro que ganha com a caça é para alimentar minhas entranhas. Alimentar. Eu te alimento porque te amo. Papai disse que não conseguia contar o número de vezes que havia roubado latas de leite em pó para me alimentar, eu não tinha leite materno então só pude tomar formula até os três meses.

Às vezes, quando não tinha nada, ele me colocava nas tetas de Babá.

Era isso ou você morreria de fome, Nathaniel.

Papai quem fez meu arco e flecha. São feitos inteiramente de madeira. Ele me ensinou a fazer flechas com gravetos e a caçar animais. Coelhos são meus favoritos, papai diz que minha pontaria é muito boa. Eu nunca perco um tiro.

No interior da floresta, os animais vagam livremente, e há preocupações adicionais como cobras venenosas, animais violentos, e nenhum caminho real para seguir. Há também comida se souber como encontrá-la. E saber o que pode e o que não se pode comer. Perambular a cavalo para cima e para baixo das colinas lamacentas e dos morros rochosos me faz sentir como uma criança novamente, e eu me deixo ir. Recuar para a floresta não é tão diferente de ir para a cama. Deixar tudo para trás, estará lá para me preocupar quando acordar do meu sono. Aqui, posso ignorar o mundo por um momento e não me estressar, uma forma de me livrar da minha ansiedade. Tento não me sentir muito responsável pelas coisas que estão acontecendo em minha vida. Não há nada a temer aqui.

No entanto, tenho de estar atento com os adoráveis encrenqueiros noturnos: os guaxinins, os esquilos e as tâmias, que perambulam em bandos procurando qualquer recipiente ligeiramente aberto. Eles desaparecem com qualquer coisa que seja comestível, acabando com caixas de chocolate e principalmente biscoitos de manteiga de amendoim.

Meu instinto territorial foi aguçado ao ver duas criaturas no meio do bosque de carvalhos, uma delas sentada em uma cadeira de rodas, possivelmente um deficiente físico. Um incapacitado.

Os encrenqueiros do dia são os visitantes. Os visitantes são estressantes, os visitantes causam poluição, os visitantes são rudes, sujam e destroem as florestas com lixo, usam seus cigarros podres para prejudicar os animais e poluir o ar. Os visitantes não são bem-vindos aqui.

Por ordem minha, Evangeline atravessou a floresta e me fez parar em frente a eles.

Os olhos do cadeirante se arregalaram com a minha presença, ele me olhou como uma criança indefesa e um sorriso se formou no rosto da garota de cabelos cacheados.

Desci de Evangeline, ainda olhando para os dois, esperando qualquer movimento suspeito.

- Oi! Meu nome é Hannah, esse é o Joshua.

Ela estendeu a mão para mim.

- Como vai? Prazer em conhecê-lo.

Tenho sempre a impressão de que as pessoas da cidade estão rindo de mim secretamente. Talvez eu não esteja longe da verdade, já que não sou o que a maioria pensa como amigável. Não tenho amigos, tampouco vou à cidade nos fins de semana.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora