Ao reencontrar os amigos, todos nós já provamos o encanto das más lembranças.

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Joey

Abrindo a porta ao ar fresco, deixei Francine sair. Sentado na grama, coloquei meus braços em volta do seu pescoço e pressionei minha bochecha contra sua cabeça enquanto as lágrimas corriam pelo meu rosto. Pressentindo minha angústia, ela ganiu e lambeu várias vezes minha cara para demonstrar que me amava.

Ouvi um farfalhar nos arbustos e tive a sensação de estar sendo observado. O coração disparou quando dois coelhos saíram correndo, fugindo, e, por um segundo, não entendi o desespero, até ver um cavalo preto enorme, de pelo bonito e tão brilhante que poderia jurar ser, oh Deus, uma visão divina, abrir caminho por entre a mata. Era dele que os coelhos estavam fugindo.

Um rapaz estava montado nele.
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Já passava de meio dia quando voltei para casa, os pássaros se escondiam nos ninhos pelo sol da tarde, famílias se juntavam e as mães alimentavam seus filhotes com minhocas nos galhos das árvores. Tudo ia muito bem, de acordo com minha semana, até minha atenção ficar fixa em algo.

Pela primeira vez, um grupo de pessoas estava reunido em volta da cabana do meu pai, andando impacientes de um lado para o outro e batendo palmas para ver se aparecia alguém, esperando serem atendidos.

Uma criatura redonda de cabelos longos e escuros acenou ao se virar, os gestos animados em minha direção.

Molly.

- Joey!

Droga...

Não esperou um segundo para correr toda animada e envolver os braços em volta do meu corpo, apertando com força minha estrutura esguia contra a sua pele quente. Jesus, por que não fugi enquanto eu ainda tinha chance?

Molly se afastou de mim um pouco e contemplei por um momento os olhos radiantes, o sorriso feliz e animado, tudo isso ao me encarar.

- Ai, achamos que tínhamos errado o lugar. Aqui tudo parece tão igual.

Ela quis envolver o braço por meus ombros, o que recusei educadamente, e nos aproximamos dos outros, vendo que metade da gangue se encontrava ali. Trevor e Oliver estavam escorados na porta e fumavam cigarros, mas não havia nenhum sinal de Hannah.

- Onde está a Hannah? Por que ela não veio?

Foi para ela que contei onde moro.

Trevor virou e olhou para mim, os olhos queimando desaforo enquanto tragou o cigarro nos dedos e o jogou no chão, deixando queimar.

- Ela foi levar o aleijado para passear, se preocupa não.

Aleijado.

Estremeci com o desejo de socar a cara de Trevor. Como Hannah é capaz de namorar um idiota assim?

Não consigo imaginar o quão difícil é ser reconhecido por sua deficiência, os olhares penosos, os comentários de mau gosto referentes a sua condição. Não me admira que Joshua seja tão quieto, deve estar acostumado a ser excluído e humilhado por pessoas como Trevor.

Trevor sorriu e deu uma olhadela na porta, esperando que eu a abrisse.

- Então... não vai convidar a gente para entrar? Que desfeita.

Sorri de raiva para Trevor e tirei a chave do bolso da calça, enfiando-a rapidamente no cadeado.

Levei-os para dentro e capturei uma alteração na atmosfera. Soou um murmúrio, uma ou outra palavra sussurrada e olhares duvidosos para todos os cantos da casa.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora