Joey
O pomar, na encosta abaixo da casa, estava coberto de flores brancas e cor-de-rosa, sobre as quais voavam e zumbiam muitas abelhas. Sob a fraca luz do final de tarde, cruzamos juntos o bosque, um do lado do outro, de braços bem enroscados. Eu sorri para mamãe enquanto andávamos, e senti um ímpeto de alegria brotar em mim quando ela retribuiu o meu sorriso.
Eu lembro de me deitar na cama com mamãe e de sentir o seu calor irradiar para todos os lados sob o edredom, enquanto o mundo escurecia do lado de fora e tudo ficava mais calmo ao nosso redor. Estava acostumado com o seu cheiro, o bater doce do seu coração e dos seus braços quentes e protetores me rodeando com carinho e amor. Ela ainda me dava de mamar naquela época.
Eu era um bebê rosado e faminto demais, papai dizia que esvaziava mamãe até os ossos e ela sempre estava precisando comer mais, para poder suprir a minha fome. Mesmo assim, mamãe continuava sendo teimosa e exigia que eu mamasse até quando eu quisesse. Pelo que ela me contou, ele até já chegou a espirrar um pouco de pimenta nos seios dela enquanto eu mamava. Assim eu largava imediatamente e começava a chorar, não querendo mais.
Com isso, minha mãe me segurava e muito lentamente me balançava para frente e para trás, para frente e para trás, para frente e para trás. E conforme ela me balançava, cantava baixinho para eu dormir.
"Levante esta manhã
Sorria com o sol nascente
Três passarinhos
Cantam à minha porta
Cantando músicas doces
De melodias puras e verdadeiras
Dizendo: esta é minha mensagem para você
Dizendo, não se preocupe com nada
Porque cada coisinha
Vai ficar bem."
Houve uma movimentação nos arbustos e um bichinho de pernas longas e finas, pescoço comprido e pelos curtos, saiu rápido da mata, acompanhado da sua mãe. Ambos olhavam atentamente para nós dois, do outro lado do lago.
- Eu queria poder ver um alce de perto, Jeff disse que já viu um bando andando próximo às montanhas. Antes eu só vi um cervo uma vez, quando você ainda era um bebê, e sempre achei esses animais tão... majestosos. - comentou mamãe, observando a pequena família.
Ela deitou a cabeça em meu ombro e continuamos caminhando, sossegadamente.
- Sei que pode parecer estranho, mas isso me fez lembrar de quando você ainda era um bebê.
- Como assim?
- Sabe, ver ele e a mãe juntos e tão protetores um com o outro.
- Não acha que tenha mudado muita coisa? - eu indaguei, rindo e dando um tapinha em seu ombro.
- Sabe do que estou falando. - declarou ela. - Você é meu bebê.
- Eu cresci. Não sou mais um bebê.
- Você ainda é meu bebê. - murmurou mamãe com um ênfase no "ainda", aproximando seu rosto. Eu ri quando seu nariz tocou o meu.
O céu começava a ser pintado de laranja e lilás quando chegamos ao campo. Lírios, cravos, bocas-de-leão, violetas, margaridas, centáureas e gérberas nos recebiam com seus odores perfumados e sua suavidade colorida. Era uma completa explosão de cores, parecia que estávamos andando sobre um arco-íris. Eu poderia ficar admirando isso por horas.
Mamãe olhava tudo ao redor e, de repente, fechou os olhos, respirando o ar suave e calmo, como se estivesse aproveitando a serenidade. As montanhas rochosas pareciam tocar o céu e os pinheiros balançavam com a brisa. Raios de sol dançavam entre suas folhas e passavam pelas montanhas, enquanto a água corria entre as pedras, moldando-as e levando-as consigo. O tempo parecia parar e tudo que importava era sentir os sussurros daquela brisa suave.
Às vezes penso que Deus não vive apenas em igrejas, mas também em lugares como este. Somos abençoados com todas as luzes diferentes e toda a beleza diversa que a Mãe Natureza nos traz, então acho que devemos ser gratos por tudo o que ela tem a oferecer. Seja em dias de verão muito ensolarados e a luz fraca do inverno, ou dias nublados e noites de tempestade.
Mamãe sentou, calmamente, na relva florida, ainda aspirando aquele ar leve e fácil de respirar. Ela parecia estar muito longe, em um mundo delicioso. Aqui é mais apropriado para sonhos do que para línguas mortas.
Também acredito que Deus é uma referência forte para nossas mães. Nossas mães são poderosas, elas nos ensinam, nos alimentam, nos ajudam na vida e seu amor é imenso.
Basicamente, a mãe é Deus aos olhos de suas crianças.
Mamãe, mesmo sabendo o quanto a maternidade doía, ainda mais nas horas em que não sabia o que fazer e se sentia perdida, fez de tudo para cuidar de mim e me ensinar a importância de virtudes como a honestidade, perseverança, esperança e coragem. Muitas vezes imagino como é difícil não saber como acalmar um bebê à noite e aprender a interpretar cada choro. Ela me ensinou coisas importantes e até insignificantes porque o amor consiste em pequenos gestos; pular em poças d'água, olhar os animais, dar beijos e abraços muito fortes àqueles que amo. Ela nunca se esqueceu ou recusou esses abraços, como dizia que me amava em todos os momentos, sempre que pensava em mim.
Quando vi que o céu estava perdendo seus delicados tons pastéis e se pintar de preto, disse à mamãe que deveríamos ir para casa.
Meus pensamentos se desfizeram por um instante, no momento em que abrimos caminho por entre a mata e encontramos certo rapaz treinando suas habilidades. Meus dedos das mãos e dos pés ficaram dormentes quase instantaneamente ao vê-lo outra vez.
A maneira como ele erguia o arco era quase tão fascinante quanto a determinação distante em seus olhos focados. Tudo era incrivelmente calculado e pensado; seus olhos se concentrando em nada além do alvo à sua frente, o movimento metódico de seu braço tirando a flecha da aljava, a mão puxando o tendão, a ponta fazendo um pequeno corte em sua bochecha. E então a esperada calmaria do acerto quando a flecha atingiu o alvo.
Quando ele percebeu nossa presença, primeiro, seu olhar sério e calculista lentamente percorreu a minha figura. No rosto dele não se via vergonha nem rubor, e, com uma súbita nota de medo em minha voz, avisei a mamãe que devíamos ir embora imediatamente.
Entretanto, sua expressão se suavizou um pouco ao ver mamãe. Um olhar estranho, mas cheio de curiosidade substituiu sua fúria territorial. Mamãe baixou os olhos e, bruscamente, mudou de direção, apressando o passo como se tivesse pressa para voltar para casa.
Me limitei a segui-la e, dessa vez, ele não fez nada, apenas observou nossos corpos se afastarem rapidamente e voltarem a desaparecer no verde do matagal. Fomos pelo caminho um pouco mais longo para evitar dar de cara com sua companhia mais uma vez.
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Before and After (HIATUS)
Fiksi PenggemarJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...