Natasha
Sinto que estou perdida em um sonho. Eu esperei tanto tempo por algo doce assim, que minhas ocupações como dona de casa agora são as atividades mais deliciosas do mundo.
Os dias neste lugar pareciam o mais abençoado Céu. Sem dúvidas, estive mais feliz do que nunca.
A vida, apesar de bruta, é mágica.
Correu tudo muito bem, depois de muitos anos eu me sentia... Me sentia corajosa. A sensação era... era como pequenas punhaladas em um coração que há muitos anos está adormecido e, de repente, voltou a bater. Viva, eu me sentia viva. Sozinha, senti meu coração pulsar forte, e foi o som mais doce que poderia ter ouvido em todos os anos que vivi dentro daquele lugar.
Assim entendi que não pertencia a ninguém, a não ser a mim mesma.
"Eu não pertenço a ninguém. E mesmo que eu fosse de alguém, sua eu não seria."
Não posso expressar em palavras os sentimentos que sinto, uma satisfação imensa ao acordar de manhã e comprovar que o que aconteceu não foi um sonho. Porém, por mais feliz que meu rosto aparentasse, no fundo do meu coração, sabia não estar completamente realizada.
Sempre fui covarde. E quando aquele ímpeto de coragem finalmente brotou em mim, me senti invencível. Não tenho medo quando estou com Nate, é quando penso naquela casa e neles que fico apavorada. Ainda fico muito nervosa quando coisas inesperadas acontecem.
Do que adianta essa coragem se ele não está aqui? Eu disse que não o deixaria.
Aquele louco fez da minha vida um verdadeiro inferno para ter Joey, e, mesmo sabendo de como foi gerado, escolhi nunca mais machucar meu bebê e jurei que nunca deixaria de protegê-lo. Mas o que eu diria para Joey? Olhe, o homem que você chama de pai é um desequilibrado que me sequestrou, e há um mundo enorme lá fora, cheio de coisas incríveis e não irá poder desfrutar de nenhuma delas como uma criança normal.
Fui eu quem o impediu de enlouquecer, fui eu quem se lançou sobre ele para que Jeff não o machucasse. E se ele não reconhecer o que eu fiz? Tudo que tive que suportar. O mundo estava lá fora e tinha tantas coisas que fariam qualquer um ficar tonto se parasse para pensar em todas elas, e o único que eu tinha para lhe oferecer, ficava cada vez mais estreito. Eu era, e ainda sou, torturada pela lembrança de tudo o que ele nem sequer sabia que queria.
Joey poderia ter sido escolhido por uma família e vivido sua vida como uma criança normal: ele teria ido à escola, feito amigos, ido à praia, brincado em parques de diversão e desfrutado de tudo a que uma criança tem direito. Jeff podia tê-lo deixá-lo na porta de algum hospital, e eu deveria ter ao menos tentado convencê-lo a levá-lo embora. Ele teria sido adotado, como a minha mãe foi, e de maneira muito feliz.
A melancolia não havia me abandonado por completo, tendo que suportar noites de choros vindos do âmago mais profundo da minha alma ferida, como se todas as tristezas e horrores eternos deste nosso mundo ebulissem dentro do meu peito. E a minha única solução no momento para essa sensação, seria esta: chorar.
Sem Joey, ficava tão desanimada e infeliz ao pensar nele que, quando me deitava sobre a cama à noite, meu coração era cruelmente oprimido por um fardo tão grande de tristeza que parecia prestes a se romper. Não sei o que dói mais, ficar longe do meu filho ou não ter a coragem suficiente para contar toda a verdade de uma vez.
Me recolhia em vão na varanda na esperança de encontrá-lo passeando pelo campo de flores. No entanto, apenas presenciei breves aparições dele, escolhendo ir pelo caminho da casa apenas para me infernizar com seus olhares venenosos.
No fato de eu ter ido embora, ele não pensou em nada além de seu prejuízo. Ele poderia assistir à minha língua sendo arrancada, e teria prazer em me ver queimar até as cinzas em fogo lento, ou sendo estraçalhada até a morte por cachorros, desde que lhe trouxesse o sentimento saboroso da vingança por tê-los deixado. Isso faria jus ao homem cruel e injusto que é.
Jeff se amaldiçoou por não ter nada firme na mão e declarou que, quando eu voltasse, trataria de me aquecer bem; sim, ele me deixaria mais quente do que o reino de chamas no qual às vezes acredito que ele próprio algum dia morará. Me tirar daqui ou das proximidades a força ou por meio de morte parecia ser, nos últimos dias, o pensamento e a paixão dominante dele. Por isso não saio daqui se Nate não estiver por perto.
Como uma órfã, cheguei aqui somente com as roupas do corpo. Porém, fui acolhida e protegida tanto quanto um filhote é pela sua mãe. A convivência entre nós acaba sendo divertida pois nos entendemos e conversamos sobre diversos assuntos. Ao lado de Nate, deixo de ser somente uma casca e vivo uma felicidade cega.
No momento em que saí da cama de madrugada, pressentia que as coisas estavam meio fora dos eixos. Como previsto, assim que liguei a luz, vi que tudo estava um caos - os armários da cozinha estavam escancarados e a pia que lavei de tardezinha já estava completamente cheia de louça suja. Um homem estava sentado à mesa e comia sucrilhos direto da caixa.
Por um momento, nos entreolhamos, como dois gatos assustados.
- N-Nate. - eu sussurrei, na tentativa falha de gritar. - N-Nate!
Dei alguns passos vacilantes para trás, à procura do quarto de meu filho e o homem logo se levantou, pegando um machado ao pé da mesa.
Seus olhos estavam focados em mim, selvagens, calculando o momento do acerto e da pressão dos braços. Para ele eu era só uma presa pronta para ser abatida.
O medo parecia querer colar meus pés ao chão. Eu me encontrava presa em um pesadelo, não conseguia abrir a boca e gritar, tampouco correr.
Abri a porta do quarto de Nate, com os dedos da mão pesados e o frio do horror ainda passando por mim.
A garganta começou a incomodar. Eu finalmente havia gritado.
- NATE!
Ele abriu os olhos rapidamente e rolou sobre o colchão, levantando da cama em um pulo.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa?
As lágrimas e os soluços de desespero foram impossíveis de controlar, mesmo que a última coisa que queria fosse chorar na frente de Nate.
- Há um homem aqui. - soltei, ainda respirando com dificuldade. - Um homem invadiu a casa.
Nate franziu a testa, pegou seu arco debaixo da cama e virou-se para mim.
- Escute. - ele mandou. - Só saía daqui quando eu voltar.
Então saiu e esperei, agarrada aos travesseiros da cama. Fico surpresa por Nate ainda manter a calma em momentos assim, não sei se ele que é muito corajoso ou eu que sou medrosa demais.
De repente, ouvi uma algazarra, gritos roucos e autoritários, e logo a curiosidade pelo ocorrido me fez olhar pela fresta da porta. Embora sua atitude rebelde fosse evidente, meu filho ainda era cauteloso. Era óbvio que o homem poderia esmagá-lo com apenas um polegar.
No calor do desespero, não tinha a mínima ideia de quem poderia ser aquele homem.
- Já falei que não quero nenhum contato seu com aquela família. - rosnou. - Os problemas deles não são nossos.
Nate não disse uma palavra, seus olhos escuros me localizaram rapidamente e consegui sentir que estava esperando minha resposta. Ele iria tomar uma decisão.
- Leve-a de volta para a casa. Agora.
Mergulhando cada vez mais no medo de voltar, fugi do quarto e quase ajoelhei-me aos seus pés, pedindo misericórdia.
- Por favor, imploro que me deixe ficar só por mais alguns dias. Eu posso oferecer meus serviços, posso cozinhar, costurar e cuidar da casa, sem cobrar nada ao senhor.
Exaurida de implorar, respirei fundo e meus braços caíram.
- Se o problema for os gastos, pode dar-me de comer só pão e água. Mas não me deixe voltar, é tudo que peço a ti. Não me deixe voltar.
Assim o homem largou seu machado e declarou, de forma não tão suave, mas o suficiente para que me acalmasse.
- Só por mais alguns dias. Depois a quero fora daqui.
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Before and After (HIATUS)
FanfictionJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...