A maior rebeldia é aquela feita com a cabeça e com o coração.

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Joey

Quase tremendo de raiva, corajosamente subi as escadas e chutei a porta do quartinho com um estrondo. Francine e Isis me encararam atentamente em meu mau humor enquanto ambas se levantavam de sua curta soneca. Elas me viram pegar minha mochila, abri-la impaciente e imediatamente despejar todas as coisas que faltavam dentro dela. Não hesitei em pegar os artigos de higiene que o padre havia comprado e colocá-los juntos às minhas outras tralhas também, afinal, agora eram meus.

Lá fora ouvi vozes e voltei a arrumar minhas coisas o mais rápido possível, independentemente de qualquer consideração, eu sabia que não poderia ficar mais tempo.

No entanto, assim que me virei, meu pai estava encostado na porta, de braços cruzados.

- Como sabia onde eu estava?

- Não importa. - disse, estranhamente calmo. - Vamos para casa.

Recuei com minha mochila, enquanto o olhar dele estava fixo em mim com impaciência, sabendo que ele tinha era vontade de me dar um tapa e me arrastar para fora da igreja aos gritos.

- Não vou a lugar algum. - declarei, com firmeza. - Por que quer que eu vá para casa? Se quer alguém para lavar suas roupas e cozinhar sua comida, procure uma empregada doméstica.

- Joseph, não comece. - ele mandou, mas o interrompi.

- Aliás, e quem você é para dizer como eu devo viver? Quem é você para dizer o que eu preciso?

Nesse processo, ele perdeu um pouco o controle, suas mãos tremiam e seus nós dos dedos ficaram brancos com a força que os apertava, mas conseguiu não me bater, e na verdade, fiquei muito feliz em irritá-lo.

- Eu sou o seu pai. - ele rosnou. - Você ouve a mim. Eu decido por você e por nós dois.

- Sim, está certo. Obrigado pelo óbvio. O problema agora é que você tem sido um pai de merda.

Com isso, o cretino roubou minha bolsa e usou sua altura para me impossibilitar de pegá-la de volta. Eu pisei em seu pé, com força, o que o fez sibilar, me xingar e jogar a mochila longe. Antes que eu pudesse correr atrás dela, ele me agarrou por trás, me girou e praguejou para eu parar. Seus braços me contiveram com força. No final, mordi seu antebraço para fazê-lo me soltar.

Assim, continuei me debatendo, gritando e arranhando, tal qual um gato arisco, enquanto Francine latia ao fundo e ele me segurava, marcando meus pulsos; ele queria que eu ficasse quieto, silencioso como um ratinho em meio à loucura do mundo.

- Agora, Joey. - grunhiu. - Me escute.

- Pra quê? Fiquei semanas fora e ainda estou vivo! Não preciso de você, nunca precisei e não preciso agora!

Ele revirou os olhos, como se eu fosse um idiota.

- Você não vai durar muito tempo na rua, não sabe como as coisas funcionam.

- E como funcionam? Já morou na rua por acaso?

- Já, é um inferno. - ele contou, e havia sinceridade na voz. - Me escute, porra.

- E por que você foi?

- Porque eu não tive escolha.

- Você nunca fala comigo sobre essa porra. Não sei como foi sua vida, não sei como viveu, não sei de nada! Só sei de poucas merdas do seu passado de caipira, do que isso adianta?

Ele ergueu as sobrancelhas por um segundo, surpreso com a minha língua, ele nunca tinha ouvido essas palavras saírem da minha boca.

- O que você quer saber?

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora