Jeff
A dor é uma sensação curiosa. Ela vem como se em ondas batendo contra as rochas de um mar. Ao longo da minha vida, imaginei que a experimentaria de diversas maneiras, mas a que rasga o peito prevaleceria sendo uma das piores. Parece-me que eu estava errado.
Não havia uma parte em mim que não estivesse dolorida.
Minha agonia, neste instante, era semelhante a uma maré furiosa, excruciante e latejante. Essa dor, embora tenha atingido meus músculos terrivelmente, não foi suficiente para me impedir de recuperar os sentidos e insubordinar meu corpo. Meus olhos, assim que se abriram, nada viram além de rabiscos do que uma hora foi o meu quarto, agora empesteado de sangue e vômito aos arredores, enquanto um zumbido afiado como uma faca reverberava por meus ouvidos.
Ao tentar usar minhas pernas, a dor vertiginosa da lesão me fez emitir um grito. Suplício de um cão maltratado, talvez. Em contrapartida, me arrastei no chão a caminho da cama, suportando grunhidos que me custaram baba marejando pelas ventas, ao nível de ensopar-me não só de sangue, ou que quer que fosse, mas também de saliva quente e borbulhante.
As calças empapadas de sangue pingavam, pegajosas, quase envernizadas. Diante disso, apressei-me em agarrar o lençol e, com os dentes, rasguei uma parte, enrolando-o firmemente em volta dos quartos. Durante o processo de estancamento, conforme minha dor se agravava, não pude evitar reprimir um grunhido. Fiquei tão incomodado que engasguei e bati a cabeça no travesseiro para não gritar.
A minha patética conjuntura atual me fez relembrar tudo o que havia acontecido até então: antes de tudo, vieram as imagens de Natasha entrando sorrateiramente no quarto de Joseph, representando falsamente o papel de mãe enlutada, fingindo se importar, como a maldita atriz que ela é; para que, assim, seu cavaleiro negro pudesse me pegar de surpresa, tal qual um célebre Hero du Jour, e me fazer de saco de pancada, chutando-me para o meio fio igual uma puta de sarjeta. De forma que eu terminasse atirado sobre uma cama bagunçada, em um quarto com o chão ensanguentado e de cheiro nauseabundo.
É assim que seria sua vingança? Ah, Nathaniel, apesar de dolorosa, não foi nem um pouco criativa.
Contudo, ao interromper minhas divagações e enxugar o suor frio que descia pelo meu rosto, ocorreu-me o mais óbvio dos fatos. Logo, saltei da cama com um pulo doloroso e me arrastei o mais depressa possível, apoiando-me na parede como um maldito aleijado.
Atropelando a porta com um só golpe, parei diante de meu quarto para encontrar o que eu já sabia: um cômodo vazio.
______________________________________No quarto silencioso, o som da porta abrindo e fechando chegou debilitado aos meus ouvidos, acompanhado por passos vacilantes se aproximando da cama na qual eu estava apagando. A imensidão do nada foi se desvanecendo lentamente ao perceber que naquele momento eu não contava mais com minha própria companhia. Enfim, uma mão deslizou pela minha testa e senti seus dedos, embora tensos, limparem cuidadosamente minha pele suada.
Agora, uma pessoa indesejada se deu ao trabalho de lembrar que eu existia, e, pasmem, a infeliz felicidade de não querer me ver morrer.
- Jeff? Meu Deus, porra. - chiou, xingando. Uma breve amostra da vida. Meus ouvidos, assim como meu corpo, estavam tão dormentes que quase não consegui distinguir a voz de quem encontrava-se ao meu lado.
No entanto, assim que minha visão se tornou minimamente aceitável e minha audição começou a funcionar normalmente, percebi que a pessoa ao meu lado era alguém que eu conhecia incrivelmente bem.
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Before and After (HIATUS)
FanfictionJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...