Joey
A grama estava banhada pelo luar; mas, além da casa, a floresta estava cheia de sombras. Eu inalei o ar úmido e pisei no solo macio sob nossos pés. A pele de Francine estava quente e seca sob o pelo escuro, e eu sentia o peso das finas gotas de chuva pingarem minha pele, ouvia o ruído ameno dos grilos e o zumbido dos mosquitos no ar, afugentando-os com o calor do candeeiro. Um galho seco quebrou no vazio do silêncio e me assustou.
Era um sapo. Ele coaxou e saiu pulando em nossa frente.
As corujas, cujos olhos brilhavam na escuridão da noite e suas garras faiscavam à luz do luar, nos observaram em silêncio, abrigando-se por entre os galhos, e ergui a lamparina para vê-las melhor. Com seus corpos redondos e olhos enormes, esses pássaros noturnos podem ser considerados adoráveis por outrem, mas quando eu olho para eles vejo um animal misterioso e mal-humorado; me lembra a severidade característica das pessoas mais velhas.
Passamos pelo bosque de bétulas, cujos troncos brancos pareciam ser feitos de papel em meio à escuridão da floresta. Chegamos perto do riacho e o silêncio foi quebrado pela ondulação das águas inquietas e pelos sussurros das árvores. O candeeiro ainda estava firme em minha mão, enquanto Francine continuava ao meu lado, como se estivesse preparada para qualquer coisa. Reconheci o perfume doce das agulhas de pinheiro e do musgo úmido. É uma das coisas que mais gosto na floresta: os cheiros.
A clareira era iluminada pela lua. No centro residia o antigo lago cristalino, refletindo a lua e as estrelas tão perfeitamente que parecia estar preenchido com o céu noturno. De relance, vi uma estrela cadente riscar o céu acima das árvores. As estrelas são crianças cósmicas, livres na vastidão gelada e escura que é perigosa e bela e ainda assim um mistério.
Guardo aqui as memórias dos dias maravilhosos da minha infância, lembro-me de correr e brincar com a Francine neste local, ela podia mergulhar no fundo do lago, correr e brincar o dia todo e ainda poder caçar com o meu pai. Ela me carregava nas costas e rolava comigo no gramado; além de estarmos juntos quando fui pego tentando afanar frutas silvestres dos canteiros de groselhas e framboesas. Nas noites de inverno, ficávamos juntos aos pés de papai em frente ao fogo crepitante na lareira da sala de estar. Por mais que o tempo passasse e ficássemos mais velhos a cada dia, nossa relação nunca mudou. Francine é e sempre será minha irmã de outra espécie.
No entanto, minha irmã canina começou a latir e a rosnar de forma selvagem, toda arrepiada e furiosa, pronta para atacar qualquer que fosse a coisa que viu.
Balancei a cabeça em aborrecimento e um som fraco se fez presente, quase como um ruído sibilante em uma televisão, e em minha imaginação perturbada, podia sentir toda a natureza se agitando para me sufocar, meus olhos confusos procurando por algo entre as árvores, o barulho insuportável ficando mais alto, estonteante, como se o quer que estivesse o causando estivesse bem atrás de mim.
Joey
Nas profundezas da minha mente apareceram imagens de um homem de terno preto, magro e sem rosto. Eu me tornei incapaz de ver qualquer coisa que não fosse Ele, e logo não pude mais me acalmar. Ele se esconde nas florestas e bosques. As crianças desenhavam essa coisa e depois simplesmente sumiam, e ninguém conseguia explicar o porquê.
Demônio sem rosto. Ele é real.
Eu me virei para olhar para trás, ainda de olhos fechados. Meu coração pulava como um coelho, e, assim que abri os olhos, não vi mais nada além da mata a minha frente.
Estranhamente, o ruído cessou e Francine também ficou quieta. Tudo havia se tornado calmo.
Por um segundo, fiquei tão aliviado que as lágrimas transbordaram dos meus olhos. Foi tudo minha imaginação.
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Before and After (HIATUS)
FanfictionJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...