"O medo faz o lobo maior do que ele realmente é."

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Jeff

Enquanto caminhávamos pelo campo, assistindo as infinitas copas das árvores fragmentarem o sol em cores derretidas, os pássaros silvestres escondiam-se em seus ninhos conforme vermes buscavam abrigo sob o solo, anunciando que uma tempestade já já se aproximaria.

Ver a floresta em tardes como esta é como dar vida a uma pintura, e Lilian sabia disso; ela deixou seu espírito flutuar enquanto seu corpo franzino vagava sobre o mar de cores. Seus olhos castanhos chocolate estavam fixos no céu cinza enquanto seus pensamentos retrocediam para ouvir o som de seus próprios pés pisando a grama alta e a canção tímida dos pássaros.

Embora eu tivesse o privilégio de chamar este "paraíso" de lar, não me sentia mais tão inebriado quanto antes. Todos os dias eu vivia no piloto automático, cruzando estradas de terra e sentindo o mesmo sol arder cada centímetro do meu cérebro, depois aproveitava um breve momento de sossego no final da tarde e o tão esperado crepúsculo quando chegava em casa ao anoitecer, após horas de trabalho duro. Porém, nos dias em que as cores do arco-íris passavam ao longo da costa do rio e atingiam suas águas após uma tarde de chuva, na exata hora do pôr do sol ou quando a lua punha seu véu negro sobre o céu e suas incontáveis estrelas salpicadas apareciam além do horizonte; sim, eu percebia que me sentia como se estivesse vendo este lugar pela primeira vez, apesar de morar há anos nele. Eu ainda conseguia olhar para certas coisas e achá-las fantásticas, o que deixava até eu mesmo espantado.

- Cuidado onde pisa. - alertei, olhando ao redor.

Então Lilian se virou, sorridente e radiante, e um leve arrepio nostálgico percorreu minhas costas.

- É lindo. - ela disse, seus olhos brilhando como estrelas. - Como é viver aqui?

Dei de ombros.

- É normal. Por um lado, acho melhor morar aqui do que na cidade.

Durante a caminhada, Lilian decidiu saltitar sobre a grama, e eu cruzei os braços olhando para ela.

- Deve ter sido ótimo criar seus filhos aqui. Eu teria amado todo esse espaço para brincar, seria tão divertido.

Lilian avistou uma criaturinha gordinha se esgueirando ao longo de um dos galhos de uma árvore e, com um suspiro de alegria, aproximou-se e eu logo soube o que era: um esquilo.

- Cuidado, ele pode jogar alguma coisa em você. - avisei, cautelosamente.

Ela ergueu as sobrancelhas, curiosa.

- Jogar?

- É, um galho ou uma pinha.

Lilian caminhou até a árvore e, apoiando o pé em uma pedra e a mão em um dos outros galhos, manteve os olhos no esquilo. Quando viu que o roedor tinha medo, quis acariciá-lo suavemente com a ponta dos dedos. Em resposta, o esquilo manteve-se fiel à sua natureza arisca e atingiu o rosto dela com uma pinha.

Lilian caiu para trás com o susto e eu espantei o encrenqueiro.

- Se machucou, Lilian? - eu quis saber, vendo o roedor se esconder em um buraco no topo da árvore.

- N-não. - ela disse, esfregando o olho. - E-estou bem.

Do alto da árvore, o esquilo enfiava a cabeça para fora do esconderijo e olhava para nós dois, curioso. Para se exibir, tirou uma castanha enorme de seu estoque praticamente inesgotável de nozes roubadas e encheu as duas bochechas, prontas para explodir.

Entretanto, outra cabeça peluda emergiu do abrigo, como se para chamar o esquilo para dentro, e o roedor se escondeu em sua casa para se juntar ao conforto de seus filhotes. Ele tinha uma família, assim como eu tinha a minha alguns meses atrás.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora