À ti, menina, porque até o avesso da tua alma é força.

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Jeff

Lilian se afastou no banco da praça, os gestos atentos, como se ela fosse uma gatinha assustada e eu um vira-lata prestes a mordê-la.

- Não precisa se encolher. - eu disse. - Está tudo bem.

- O senhor... é o senhor do grupo de apoio, não é?

Eu ri.

- Por favor, não me chame de senhor. Me faz parecer velho.

Assim, sentei ao seu lado, mostrando um comportamento mais amigável e inofensivo possível.

- Está um belo dia, não? - indaguei, em um tom gentil. - Adoro o céu em tardes assim.

As nuvens brancas e fofas riscavam o céu como algodão doce, e meu relógio mostrava que faltavam algumas horas para o sol se pôr.

- Então, o que faz aí? - apontei para o caderno. - Você escreve, desenha ou o quê?

Ela parou, incerta do que responder, e folheou-o, mostrando timidamente o esboço de um vestido: uma peça longa com decote em V que definia claramente a silhueta, a saia volumosa exalando juventude e elegância, um traje digno de uma debutante, definitivamente um vestido de baile.

- Você tem talento.

Ela baixou os olhos, envergonhada, as bochechas rechonchudas rosadas como duas maçãs.

- Sinto muito pelo que houve. Estamos lá para ajudar, qualquer coisa é só contar para a gente.

Lilian ficou em silêncio por um momento e uma lágrima escapou de seus olhos, de alguma forma doeu um pouco assistir.

Um carrinho de sorvete passou perto de nós e uma ideia me veio à mente.

- Você gosta de sorvete, Lilian?

Ela mordeu os lábios e balançou a cabeça.

- Qual sabor?

- Morango.

Saí de meu lugar para pegar o sorvete e tive que esperar na fila, entre muitas crianças gordinhas e gulosas, pais que não hesitavam em encher os filhos de besteiras calóricas, tudo para que os pivetes calem a boca e não encham as cabeças sobrecarregadas de seus pais. Ao fazer isso, eles criam crianças mimadas e sedentárias que se tornam adultos dependentes e preguiçosos. Nem todos os pais percebem que seus filhos estão acima do peso, e a maioria não acredita que o barrigão faça mal à saúde nesta fase da vida.

Calmamente, voltei ao banco da praça e ofereci o sorvete para Lilian, que aceitou de bom grado.

- Obrigada. - ela disse, com um sorriso. - Você tem filhos?

- Tenho. Dois.

Ela engoliu em seco.

- Quantos anos eles têm?

Franzi a testa, relembrando os anos que ambos nasceram.

- O mais velho tem sua idade e o mais novo quatorze.

- Sua mulher... ela é uma boa esposa?

- Às vezes, nossa relação é complicada. Ela é teimosa e nunca reconheceu o que eu fiz.

- Ah... minha mãe também não reconhece o que meu pai faz. Ele é um bom homem, bem, ele não merece ela.

- Eles são casados?

Lilian balançou a cabeça e tomou o sorvete.

- Sim, só que ultimamente as coisas não tem dado muito certo.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora