Um dia a mim tu voltarás, e no canteiro materno do meu seio, tranquilo dormirás.

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Natasha

Instantes depois, me vi em um pequeno recinto isolado, quentinho, sentada confortavelmente no meio do que parecia ser uma sala de jantar.

Analisei um pouco o ambiente e, às vezes, perdia o rumo em resmungos sussurrados, passando o dedo pela camada de poeira em cima da mesa diante de mim. Me repreendi ao começar a ter opiniões enxeridas, fixando os olhos em meu avental gasto, pois, afinal, quem sou para falar da aparência deste lugar se o meu próprio aspecto não é lá dos melhores? Aqui é visivelmente bem diferente do buraco em que vivi e não desejo mais voltar. Espero que as coisas sejam diferentes, enquanto eu ainda poder ficar.

O arqueiro não parecia prestar muita atenção em mim, optando por ir e vir, mudando algum objeto de lugar, com seus lábios se movimentando como se cochichasse coisas para si e, vez ou outra, olhando furtivamente para mim. Até que finalmente sentou-se junto à mesa.

Os olhos castanhos quase relampejaram quando me olharam diretamente e observei os seus trejeitos. Ele mordeu a boca rosada, como se estivesse pensando no que dizer, e eu sorri amigavelmente, para que ele não se sentisse apreensivo.

- Não tenha vergonha. - eu disse. - Quer dizer alguma coisa para mim?

Ele abriu a boca, pronto para falar, mas logo a fechou, desviando os olhos para baixo.

- Vamos, você sabe falar. - murmurei, tocando sua mão pousada na mesa.

Ele olhou para mim de novo e lembrei de quando ele nasceu. Órbitas escuras que me encaravam como se eu tivesse todas as respostas existentes deste mundo, enquanto lhe dava de mamar. Minhas palavras emergiam em uma onda, lábios que sussurravam: eu te amo. Gerando o maior calor humano, me fez a companhia mais bela, e, por um período de nove meses, eu me senti salva.

- Qual é o seu nome? - perguntei, surpresa por ainda conseguir falar.

- Nate. - contou, fazendo meu coração bater acelerado. - Nathaniel, para ser mais exato.

Sabendo que não estava errado, meu coração fez com que o fundo dos meus olhos se tornasse quente, e lágrimas começaram a escorrer por minhas bochechas.

- Senhorita...?

Consequentemente, agarrei meu filho pelos braços e colei meus lábios sobre a sua pele, apertando-o em um abraço caloroso. Não quis dar outro sinal de vida além dos soluços que sacudiam o meu corpo, chorando audivelmente como uma tempestade noturna.
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Jeff

Eu chamei Natasha. Mas ela não veio.

Franzi a testa ao ver o cesto de roupas sujas intocado em frente a porta do banheiro. Hoje era o dia em que ela deveria ter lavado a roupa.

Eu avisei que voltaria mais cedo hoje?

A porta estava aberta quando cheguei, escancarada, e, do mesmo jeito, era como se escondesse um segredo, um convite para qualquer um entrar. Ou até mesmo sair...

Não... não é possível.

- Joey!

Chamei e ele veio, o rosto inchado e os cabelos bagunçados indicavam que devia estar cochilando quando ela...

Pare com isso.

- Oi, pai. - ele bocejou. - O que foi? Por que voltou cedo?

- Cadê a sua mãe?

Joey piscou e olhou em volta da sala, como se fosse encontrá-la por perto, preparando o jantar, varrendo o chão ou dobrando roupas. Mas não viu nada além de um ambiente vazio.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora