Joey
Estava escuro de madrugada e assim que papai pôs mamãe para dentro de casa, me deitou a mão como já esperava. Neste momento, não chorei nem gritei. Eu deixei de gritar há muito tempo. Porém, enquanto ele me arrastava para dentro, senti as lágrimas escorrerem pela face.
Além da surra, toda aquela situação me levou a outra coisa: ficar de castigo.
Contudo, os dias continuaram a passarem entediantes. Minha semana continuava a mesma, a única diferença gritante era que não estava mais autorizado a ir à cidade por uma semana.
- Ei. - ele disse. - Você não está prestando atenção.
Levantei os olhos para ele, e vi o seu olhar autoritário pairando sobre mim, enquanto segurava a lousa nas mãos. Isso é chato.
- Sabe que tem que ouvir quando eu falo. Repita o que eu disse.
Esse é o problema, eu não faço a mínima ideia do que ele estava falando.
- Eu... Eu não sei, não estava prestando atenção. - admiti. - Desculpe.
Então, ele pegou a régua do seu lado direito e estalou-a na minha mão esquerda. Gritei.
- Não seja tão bruto com ele! - advertiu mamãe, do outro lado da sala. Papai bufou e olhou de relance para ela, depois se virou para mim.
- O que é um binômio?
- É uma expressão matemática que contém dois... termos. - eu disse, esfregando a pele atingida. Minha mão ardia. - X mais Y é um binômio.
As minhas semanas se resumem - além de estudar e levar tapas com a régua quando não acerto uma pergunta que meu pai fez ou não presto atenção -, em ajudar minha mãe a limpar a casa, cozinhar e cuidar do jardim. Às vezes tricotamos juntos. Ela encaixa a meada de lã em minhas mãos estendidas e começa a enrolar. A lã é cinza e absorve a umidade do ar, como um cobertor de bebê molhado e papai diz que cheira a ovelha úmida. Mamãe enrola devagar e com determinação, ela é boa nisso tanto quanto é em cozinhar e limpar. Fico pensando se sua vida já foi diferente. Eu nunca conheci meus avós por parte de mãe, assim como também nunca conheci por parte de pai. E eu não pergunto sobre isso para ela.
Normalmente tenho que ir para a cama cedo, mas hoje meu pai milagrosamente me deixou ficar acordado até tarde e ansiosamente apertei os botões do controle remoto. Eu poderia rever comédias e jornais noturnos, mas nada parecia me entreter. Os filmes para maiores de dezoito anos já estavam passando e tive uma faísca de curiosidade.
Um tremor de hesitação me percorreu a espinha e apertei com força o botão, de olhos bem fechados. Assim que os abri, deparei com uma mulher beijando arduamente um rapaz enquanto era tocada. Seus seios eram de um branco leitoso. Os bicos ligeiramente cor de café. Ele correu as mãos por cima deles; e um estremecimento me atravessou o corpo.
Não digo que estavam fazendo amor, porque essas coisas não tem nada a ver com paixão ou amor, ou romance ou qualquer daquelas outras noções com as quais as pessoas costumam se empolgar. Copular ou acasalar também seria inadequado. Sexo. Eles estavam fazendo sexo. Eu não podia ousar vê-los, mas parecia quase impossível não prestar atenção. Eles pareciam focados. Havia uma impaciência no ritmo dos dois, um sobe e desce e uma euforia tão gritante que tive de mudar de canal imediatamente. Era tudo tão real. Como conseguem atuar assim?
Um calor me atingiu o pé do estômago ao lembrar das pernas trêmulas, das mãos ansiosas e que agarravam o pecado. Das suas peles lambuzadas com o suor da luxúria; e, de repente, eu quis sentir isso também, e vi que era a coisa que estava palpitando dentro de mim. Isto é o mal, a lascívia e a maldade, que faz a gente se sentir fraco. É o pecado da carne. Senti vontade de arrancar minha pele fora e expulsá-la aos gritos do meu corpo. Eu não podia deixar essa sensação me dominar.
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Before and After (HIATUS)
FanfictionJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...