As pessoas são uma pilha miserável de segredos.

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Jeff

Joseph, prostrado no banco de trás do carro, desmaiava e recobrava a consciência como um dos milhares de cracudos que vi em minha vida na sarjeta. Nos quatorze anos da sua existência, nunca pensei que teria que presenciar isso.

Eu não pregava os olhos. Não sei descrever exatamente o que senti quando peguei Joey pela primeira vez. Vê-lo ali, finalmente, onde sempre deveria estar, em meus braços, foi um encaixe perfeito. Coloquei-o contra o peito, passei a mão pela pele gordurosa da cerviz, cheio de mofo branco. Contemplei a inocência; a que eu jamais voltaria a ter. Segurei as mãozinhas redondas, como pães de ló tão fofinhos. Meu Deus, que desgraça é pensar nele desse tamanho. Como odeio recordar essas coisas.

Natasha, inquieta, vagava pela casa, gemendo de dor e chorando profusamente ao mesmo tempo, "Não, não preciso da sua ajuda. Saia daqui. Preciso fazer xixi." tremendo com as ondas dolorosas que infligiam seu corpo, agarrando-se às paredes de casa, "Quero sair. Quero dar uma volta. Aiiiii.", parando para recuperar o fôlego, 1, 2, 3, depois mais ruídos guturais para sacudir as paredes do banheiro. E então o momento que Joey saiu, afinal, roxo e lambuzado como se de iogurte, estranho feito um sapo gordo, escorregando para a banheira.

Filhote.

Encarava o teto acima de mim, imaginando as mudanças futuras que ocorreriam. Joseph, quente e gordo, dormia embrulhado sobre meu peito, sentindo-o subir e descer com minha respiração, tão calmo, e eu descia os olhos para vê-lo vermelho igual um leitão abaixo do meu queixo. Mesmo após o banho, o cheiro de coisa crua ainda emanava dele, de ser expelido pela carne da sua mãe, suando com os corrimentos vaginais, o suco de fertilidade.

Pensar que não foi a primeira vez que ele correu risco de vida. Do conforto do peito de Natasha, ao dar de mamar, ele foi levado impiedosamente para a água fria e infeliz, cobrindo sua cabeça de todos os lados, comprimindo a garganta, como se voltasse para a bolsa sem ter as condições adequadas. O cordão umbilical já havia sido cortado. Ela faria um estrago com um lençol ou um travesseiro, se eu baixasse a guarda por alguns minutos enquanto preparava mamadeiras de leite. "Estou fazendo o certo. Ele vai ser infeliz pelo resto da vida. Uma hora você vai quebrá-lo, que nem me quebrou." Ela não estava em condições mentais de cuidar dele. Essas paranóias não pararam aí, e sim deram início a piores. Quando Joseph era recém nascido, tenho certeza de que foi a época em que menos dormi.

"Ele é só um bebê, sua piranha desalmada", eu disse, rangendo os dentes, enquanto balançava meu recém nascido que chorava audivelmente. "Não fez nada de errado. Se for para ter raiva de alguém, tenha só de mim."

Jeffrey gritava em meus ouvidos. Seus berros sinfônicos quebravam meu crânio como um martelo. Minhas têmporas ardiam e eu tremia de ódio, enquanto dirigia o carro de John, com o capô amassado, pelas ruas. Eram exatamente 02:30 quando cheguei na porta do Hospital das Clínicas de Denver.

— Não, Francine. — Empurrei-a para dentro outra vez. Do carro, ela chorava na janela, arranhando suas patas no vidro para sair.

Deixei Joseph em um dos bancos do hall de espera do hospital. Havia uma recepcionista solitária atrás do balcão. Os olhos esbugalhados de peixe morto me contemplaram entediados. "Simpatia não é conosco, senhor."

— Boa noite, Hospital das Clínicas de Denver. Posso ajudar? — As unhas longas batucavam sobre o teclado, escrevendo e terminando relatórios do hospital. — Me informe qual é o problema.

— Meu filho foi atropelado.

— Vocês têm convênio médico? — perguntou, mascando seu chiclete na boca, uma vaca mastigando pasto.

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⏰ Última atualização: Jan 20 ⏰

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