Em todo amor feminino há no fundo uma ternura maternal.

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Natasha

As galinhas me seguiam de um lado a outro do galinheiro em um redemoinho, girando sem parar, ansiosas pela última refeição do dia, o som da minha voz anunciando "Jantar! É hora do jantar!" quase abafada em meio a enxurrada de cacarejos e cantos agudos enquanto distribuía generosas porções de ração e grãos de milho de minha tigela. Entretanto, o ruído da caminhonete me roubou qualquer distração e, surpresa por Tobias estar ali tão cedo, imediatamente me endireitei e acenei com um sorriso. Assim que o automóvel foi estacionado, o lenhador saiu e sequer me olhou, pegando uma das galinhas pelo pescoço.

Apavorada, a galinha bicou incessantemente as mãos que a prendiam, determinação fadada ao fracasso; todavia, meus olhos se arregalaram quando vi o lenhador tirar uma faca do cinto e não hesitar em cortar a garganta da ave. Um último "pó!" agudo foi ouvido por nós assim que um mar de púrpura fluiu, a cabeça decepada caindo tal qual uma maçã aos pés de Tobias. Minutos depois, ele pôs o corpo em um balde com água fervente para amolecer a pele e esperou antes de começar a depenar. Pálida feito uma folha de papel, acompanhei o processo, inalando o ar doentiamente quente de sangue e pele crua.

Depois, eu me agachei inquieta contra um tronco de árvore, a luz dourada da tarde derretendo lentamente nos cumes das copas das árvores, e meus pulmões respiraram fundo, sedentos pelo ar fresco da floresta.

No entanto, ouvindo passos esmagarem a grama, me virei e Tobias inesperadamente se sentou ao meu lado, me assustando com o ato. Dando-se ao luxo de me encarar com um sorriso que me incomodou, imediatamente olhei para o horizonte.

- Te assustei? - ele perguntou, irônico, arqueando as sobrancelhas.

- O que acha?

- Não foi de propósito.

Apesar de seu temperamento calmo e seu carisma, Tobias não recuou, sabendo ser persistente, mesmo em momentos em que eu não queria falar muito. Quando dois introvertidos se encontram, parece-me que se sentem naturalmente à vontade para expor seus interesses. Mas quanto mais eu me retraía, mais Tobias queria estar comigo, com sua matraca, comentários engraçadinhos e, muitas vezes, piadas sem graça.

- Não sente calor com esse vestido? Deve ser quente. - ele comentou, casual. - Minha vó tinha um igualzinho.

De olhos cerrados, me voltei para ele de novo, suspeitando que ele estava só juntando munição para zombar de mim.

- Isso foi uma crítica maldosa? - indaguei, arrumando minha saia. - Eu gosto de vestidos assim. Não me importo se pareço com sua avó.

Ele sorriu.

- Não estou te julgando, minha vó era bonita, bem, pelo pouco que consigo me lembrar dela.

Mal pude conter o impulso de revirar os olhos.

- Engraçadinho. - eu disse, cabreira. - Se está tão incomodado, me compre tecidos para que eu possa costurar minhas roupas.

Desse modo, endireitei as alças do meu decote e os olhos de Tobias se arregalaram, desviando-os em seguida, claramente desconfortável, e fiquei com vergonha, porque de alguma forma tive a sensação de que estava provocando-o, então logo me cobri com meu cardigã.

- Está escurecendo. - Tobias falou, para mudar de assunto.

- Gosto do ar gelado da noite.

Ele contraiu um lado da mandíbula.

- Não recomendo ficar aqui de noite.

Eu sorri.

- Não vai acontecer algo ruim comigo enquanto eu estiver com você, certo?

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora