Jeff
A primeira coisa que vi, ao abrir meus olhos, foi a luz insípida e estéril de um quarto de hospital. Experimentei sensações nostálgicas ao ouvir o apito das máquinas cardíacas e sentir o cheiro acre de materiais de limpeza. As coisas se embaralharam, se dividiram em dois, ao mesmo tempo, distorcidas, como quando você coça a vista repetidamente, após um cisco entrar em seus olhos. Minha boca, seca, produziu um som estranho de sofrimento, um gemido sofrido de cachorro. Liu estava parado, me encarando, e quase saltou de um pulo ao me ver acordar.
— Ainda bem que você acordou — disse, aliviado. — Como se sente?
— Loo — Minha voz saiu. Rouca, mais que de costume. — Loo, puta que pariu. Como isso dói.
— Eu sei. — Ele mordeu o lábio, um tanto aflito. — Antes de qualquer coisa, quero saber o que houve, assim resolveremos tudo nos conformes. A mamãe quer chamar a polícia e prender quem fez isso com você.
— Não houve nada — Me prontifiquei em dizer, irritado.
— Como assim não houve nada?
— Cadê ela?
— Ela quem? Mamãe?
— Não! Minha mulher. — Levantei o torso, olhando em volta, sem saber o que fazer. — Cadê a minha mulher?
— O quê...? — Uma pontada de confusão passou por sua expressão. — Barbara disse que viria? Ela sabe do seu estado? Eu não a vi em casa quando te encontrei.
Antes que meu irmão pudesse terminar, uma figura conhecida adentrou o recinto. Da porta, por um instante seus olhos castanhos encontraram os meus, refletidos em uma familiar expressão de preocupação, seguida de um apressado passo até meu leito.
Garotinho da mamãe.
— Jeffrey, meu bem, fiquei preocupada. — ela esbaforiu, agora posicionada ao meu lado esquerdo, apertando carinhosamente minha mão repleta de agulhas. — Mal pode imaginar o que senti quando Liu me ligou e me informou sobre seu estado.
Ao vê-la de perto, pode-se ter alguma ideia de qual seja sua idade. Os olhos suplicantes carregavam alguns pés de galinha. A casa dos cinquenta havia chegado há um tempo para minha mãe e, apesar das rugas que a idade trouxe, ela preservou os traços atraentes em seu rosto. Suas roupas, embora simples, ostentavam a vaidade que nunca deixara de ter, acumulando calor em um cardigan azul escuro, maternal. Fitei o pingente de coração em seu pescoço, dado por Liu, e divaguei para longe, no momento em que se pôs a falar demais.
— Não sabe as coisas horríveis que imaginei que poderiam ter acontecido. — Ela mordeu os lábios, enquanto massageava meu punho. — E-eu pensei o pior, pensei que você poderia...
Uma lágrima escapou-lhe do olho, molhando os cílios docilmente emaranhados, e logo foi limpa pela mão livre. O fungado audível do nariz se misturava com o vermelho da sua tez, provavelmente irritada devido a um prévio ensaio antes de adentrar o local. Até eu, caso não a conhecesse muito bem, poderia ser facilmente enganado por esse choro primoroso.
Ela virou seu rosto na direção de Liu, meio prostrado na cadeira de visita, observando-nos sem certeza de como reagir. Quase sempre, quando minha mãe e eu estamos juntos em um ambiente, ele fica assim, como se nunca soubesse o que fazer ou como se comportar, como se estivesse deslocado.
— Faz muito tempo que ele está acordado, meu amor?
— Não. Na verdade, Jeff acabou de acordar. — Ele desviou os olhos para espreitar de relance a saída do quarto. — Eu... eu vou deixar vocês sozinhos. — Tornou a olhar para mim, ignorando mamãe. — Quer alguma coisa para beber, Jeff? Posso trazer um refrigerante da máquina no outro corredor.
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Before and After (HIATUS)
FanfictionJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...