Joey
O cheiro pungente de coisas velhas atingiu meu nariz durante o sono. Atônito, ergui a cabeça da superfície em que meu corpo foi aconchegado. Abri um olho, depois o outro, e minha visão foi recebida por um travesseiro amassado e fedorento. Aos poucos, voltei a consciência em um quarto precário, não no beco escuro onde outrora desmaiei.
Encontrava-me em um quarto mal aquecido, deitado sobre um colchão manchado e rasgado, possivelmente infestado de percevejos. Uma mesa solitária estava situada no centro do barraco, e ao lado dela havia armários antigos, talvez vazios. Enruguei o nariz pelas pilhas de lixo espalhadas por todo o lugar; latas de feijão, ervilha, milho e sopas prontas transformaram a barraca em um lixão ambulante. Como alguém pode viver assim?
Contudo, a barraca se abriu e um homem, não, um ogro, fedorento e trajando roupas rasgadas manchadas de alvejante e calções largos, apareceu da escuridão do lá fora, fechando rapidamente as cortinas atrás de si. Ao vê-lo, fechei os olhos e me encolhi de pavor. Não sabia o que esperar, nem o que fazer, não fazia ideia de onde estava ou de quem era aquele homem, mas entendia que possivelmente estava em apuros.
- Quero saber seu nome. - o ogro foi o primeiro a falar, seu tom tão áspero que mal pude distinguir se era um comentário ou uma ordem.
- O que pretende fazer comigo?
- Vou traficar seus órgãos no mercado negro. - ele disse, e eu estremeci. - E fazer uma peruca com seu cabelo.
Temeroso, abracei a bolsa com força, sem saber se ele estava brincando ou falando sério. Qualquer cuidado era pouco.
- Tem o quê aí dentro? - ele perguntou, apontando com a cabeça para a mochila.
Não responda.
Ele fungou, talvez irritado com o meu silêncio, e vasculhou um dos armários em busca de algo para comer. Ele tirou um pacote de biscoitos de lá, se virou e fez sinal para que eu pegasse.
- Tá mudo por quê? - disse, comendo um dos biscoitos. - Vai querer não?
Olhamos um para o outro por um momento e eu continuei me recusando a dizer uma única palavra, então ele perdeu a paciência, jogando o pacote na mesa com um baque.
- Quer voltar para lá, moleque? Então vai! Mas quando te fizerem de puta, não reclame.
Com essa declaração, meus olhos se encheram de água. Tentei me controlar para evitar que as lágrimas fluíssem, mas mal consegui vencer a maré minguante de frustração e horror. Eu sabia que as coisas poderiam piorar lá fora. Muito pior do que estar com esse cara neste barraco.
- Eu não tenho para onde ir. - eu disse, com minha garganta fechada.
- Você tem quantos anos?
- Eu fiz quatorze em fevereiro.
- Onde tu mora?
- Na floresta com meu pai. - eu contei, olhando em volta do barraco. - Onde está Francine?
Ele franziu o cenho.
- Quem é Francine?
Pelo tom de sua pergunta, já soube que ele tinha, sim, uma ideia de quem poderia ser Francine. Francine nunca iria embora, ela jamais me deixaria, sobretudo agora que vivemos nas ruas. Minha cachorra é minha irmã. Se eu não a tenho, não tenho mais nada neste mundo.
- Onde ela está? O que fez com ela?
Irritado, dei um passo à frente e repeti as perguntas de forma abrupta. Sem responder, ele ficou me olhando como se dissesse "vai continuar o show, madame?".
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Before and After (HIATUS)
FanfictionJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...