Você é minha melhor amiga, você é minha única amiga.

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Joey

Eu amei Francine desde os primeiros instantes que a vi. Papai a encontrou ainda filhote dentro de uma lixeira e, assim que a trouxe para casa, se tornou minha irmã. Ela é, e sempre será, a minha melhor amiga.

Os cães precisam estar com alguém e, por sua vez, sentir que têm um líder. Francine me entende e me faz sentir melhor e menos solitário.

Sempre que me demoro para voltar ou saio por algum motivo e não a levo, ladra na entrada e fica esperando. Ela vai até o jardim, volta inquieta, e deita finalmente ao lado da cadeira de balanço, mas ao menor ruído levanta e começa a latir.

Aos finais de semana, nós saímos para fora e brincamos na floresta, o mais perto possível da casa. Não posso ir mais fundo.

Francine gosta de deitar na grama e se banhar com o sol da tarde. Eu lembro do dia em que se deitou na mesa, meu pai viu e disse que a comeríamos na janta.

- Ela vai ser nosso jantar. Joey, Joey, vamos assar esse bicho!

Às vezes, o pai me dá dinheiro para ir à cidade, o máximo para as compras do mês. Mamãe me entrega a lista que guardo no bolso da calça.

- Preciso de ovos frescos, Joey. E um frango, não uma galinha, por favor.

- Está bem.

Tenho de sair e passar pelo jardim da minha mãe, onde os canteiros de flores crescem em abundância. As tulipas estão começando a abrir. Seu passatempo preferido, além de cozinhar, é a jardinagem. Encontra o conforto e a ocupação da mente cuidando daquelas plantas, é quase como um instinto maternal.

Eu a ajudo nele. Gosto do cheiro da terra revolvida, da sensação das sementes nos dedos e dos bulbos prontos para serem plantados. Quando o pai está em casa, ele deixa a mamãe ficar sentada do lado de fora, observando seu jardim com Isis no colo. Aqui é pacífico.

Agora o sol estava quente, tenho de tirar o casaco, amarrá-lo na cintura e passar a mão na testa para limpar o suor. A grande maioria dos dias são bem ensolarados, e eu já deveria estar acostumado. Porém, há vezes que não consigo.

Choveu bastante durante a noite; a grama estava molhada e o ar úmido. Aqui e ali havia minhocas, evidência da fertilidade do solo, apanhadas pelo sol, flexíveis e rosadas, como lábios.

Tenho de ir a um mercado da cidade, não posso comprar nada nas lojas de conveniência. Meu pai diz que é tudo mais caro nelas. Francine está ao meu lado a caminhada toda, parando só quando chegarmos. Não é permitido animais, então espera do lado de fora.

Havia tangerinas na seção das frutas e quase salivei, ansiando por algumas.

"Por favor, macarrão, ovos, frango, lentilha, atum, queijo, suco de laranja. E uvas se possível (ou qualquer fruta fresca ou enlatada) Obrigado."

Mamãe não pediu carne dessa vez. Papai insiste que eu comece a caçar, pela carne ser muito cara. Não gosto da ideia de matar para comer. O fato de o homem ser uma forma de vida "mais elevada" mal justifica a destruição de criaturas não inteligentes.

Quando tento retrucar com esse argumento, ele simplesmente diz: "Pessoas querem sobreviver. Vivemos numa constante luta para viver e estamos sempre dispostos a tudo. Pare com esse moralismo de merda."

Coloquei minhas compras em uma cesta e esperei na fila. Ninguém nunca fala muito, embora haja sempre um farfalhar de idosos, e as cabeças se movam furtivamente de um lado para o outro. Uma mulher grávida e um rapaz estavam na minha frente. Ele segurava as cestas de compras e parecia murcho ao lado da mulher, que repousava as mãos em cima da barriga gigantesca, enquanto esperavam juntos na multidão. Um casal, obviamente.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora