Jeff
Lá fora, Deus trovejava pelo céu como se estivesse explodindo o mundo, quase como um terremoto, em várias dimensões simultaneamente, extraindo sua raiva da desobediência humana em ameaças avassaladoras contra Gaia, tirando proveito de sua natureza intransponível. Ou, se você acreditar em qualquer outra religião, como a mitologia grega, teria como interpretação os raios de Zeus explodindo em alento e cólera absoluta; a cavalgada selvagem das Valquírias através das nuvens, que escoltaram a tempestade implacável provocada por Perséfone em sua vingança mortal, na companhia de suas Erínias. Certamente um cataclismo que Medéia adoraria.
O granizo arrebentava contra o telhado e, embora estivéssemos protegidos do pé d'água, ainda tínhamos que colocar baldes para conter os vazamentos no teto. Porém, à medida que o frio penetrava em minha casa, Lilian esfregou seus braços na intenção de se aquecer e eu dei a ela um lençol antes de atirar lenha na lareira.
Isis começou a se esfregar por minhas pernas, ronronando em expectativa de carinho e arqueei as sobrancelhas.
- O que foi, safada? - perguntei quando ela saltou e se esticou no sofá, mostrando seus mamilos inchados.
Isis me tolerava, apesar de ainda ser frígida, encarando-me através de meus acessos de embriaguez, como se me julgando com seus olhos oblíquos esverdeados, muito diferente de Francine, que durante a maior parte da vida foi apenas uma estúpida e agradecida cachorra, arfando e sorrindo, sempre pronta para brincar.
A gata, por outro lado, estava mais morosa do que de costume, como antes, mesmo que sempre fosse preguiçosa e sonolenta, andava pelos cômodos, pulava nos móveis e brincava com tudo que encontrava jogado pela casa, como meias sujas, bolinhas de papel ou mesmo emaranhados de cabelo. Agora ela raramente deixava sua caixa, escondida 24 horas por dia, sete dias por semana, apenas saindo de lá para pedir comida. Quanto mais ela comia, mais inchada ficava e, quanto mais inchada, mais devagar e barulhenta, além de exigente, arrastando cobertas velhas para seu covil, não totalmente satisfeita com o conforto de seu espaço.
Então eu soube que se tratava dela arrumando seu enxoval.
- Há algo de errado com ela? - Lilian perguntou, temerosa.
- Ela está prenha.
Compreendendo a situação, Lilian ergueu as sobrancelhas e sorriu feliz, uma estranha alegria que a gestação costuma proporcionar às pessoas.
Com um salto, Isis desceu do sofá e preguiçosamente deitou-se no tapete da sala, em frente à lareira crepitante. Seus bebês davam voltas e mais voltas em seu ventre, com o passar dos dias a protuberância em seu estômago tornava-se cada vez mais evidente, obviamente, muitos filhotes nasceriam.
- Vai doar os filhotes? - Lilian quis saber.
- Provavelmente. Não teria como eu cuidar de todos, então você pode ficar com a ninhada, caso queira.
Ela não pôde deixar de sorrir.
- Ficaria com todos se pudesse, mas minha mãe com certeza iria me xingar se eu aparecesse em casa com uma gangue de gatos.
Um trovão ensurdecedor estourou como um tiro repentino de canhão, quebrando o silêncio da sala, e Lilian estremeceu ao meu lado.
- Tem medo de trovão, Lilian?
- Não gosto de barulhos altos. - ela disse, e forçou mais um sorriso. - O que o senhor faz em noites assim?
- Nada.
Ela lambeu os lábios, pensando no que dizer.
- Nada? Bem, quando tinha mais companhias, sua esposa, por exemplo, deviam fazer algo, não?
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Before and After (HIATUS)
FanfictionJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...