Nate
Montado em Evangeline, caminhamos atentamente pela floresta e observamos os arredores. As corujas gorjeavam na grande quietude da noite e os grilos cricrilavam esquecidos. O vento uivava entre os ramos e a lua pálida se fez presente entre as inúmeras estrelas que cintilavam no céu noturno, de modo que os vagalumes, atraídos, forçaram a escuridão a recuar e nos iluminaram com a sua dança através da mística camada branca de névoa.
Mas um relâmpago quase cegou meus olhos e os de Evangeline ao irromper na escuridão da mata, mais brilhante do que as luzes dos vagalumes, quase mais quente do que mil sóis.
Uma figura tremeluzia mais do que qualquer coisa entre as árvores, quase deslumbrante, algo com mãos e pés se formando e se preparando em seu encanto rodeado de tantas cores vivas que eram como um arco-íris denso, um formoso sol, em todo o esplendor de sua beleza.
Uma gota de suor escorreu por minha testa. As mudanças nos sons e nas luzes deixaram Evangeline nervosa, e tive que abraçá-la e acariciar seu pelo sedoso para acalmá-la.
Algo nascia no seio da floresta e ria, ria ruidosamente enquanto uma suave névoa prateada envolvia tudo com ternura e enchia o mundo de perfume, brotando como se de um casulo frágil que nunca tinha visto antes. Então eu a vi, sob a luz do luar, ela. Tão formosa. Oh Deus.
Uma menina.
E de um salto só, desci de Evangeline.
Foi chocante achar alguém sozinho no bosque, principalmente uma garota, e o que mais me surpreendeu foi o fato de ela ser linda, pálida como um fantasma e delicada como um botão que acabara de abrir. Uma flor que germinou de repente, semente que não se sabe de onde veio.
- Como a senhorita é linda. - deixei escapar, em um silvo. Não conseguia parar de olhar para ela.
Ela não pareceu se importar com o que eu disse e apenas ficou lá olhando para mim. Embora estivesse assustado e surpreso, a única coisa que me ocorreu quando olhei para ela foi: Como você é linda...
Fiquei sem palavras diante de tal criatura formidável, cujo cabelo loiro flamejante caía sobre seus ombros, dando-lhe uma aparência angelical. Era a mesma coroa de ouro macia que eu penteava e trançava quando criança.
Não. Pare com isso.
- Olha para mim, Nate. Sou eu, Alice.
Meu coração deu um pulo. Ela estendeu a mão para mim, e pequenas listras azuis percorreram sua pele como uma teia de aranha.
- Pode me tocar. Não vai doer. - ela avisou, com um riso.
Relutante, concordei em apertar sua palma e, ao sentir seu toque, meus olhos encheram de lágrimas.
- Por que você sumiu?
Alice sorriu tristemente.
- Eu olho você há anos, Nate. Estive aqui sempre. Eu nunca fui embora.
Meus lábios se separaram para dizer algo, mas o que estava preso na minha garganta era muito estranho para ser dito somente em palavras. Enlacei sua mão delicada, o calor das ondulações em meu peito intensificando-se com a frequência de seu toque, apaixonadamente. Amor que é transmitido apenas pela ponta dos dedos.
Fiquei fascinado com sua aparência e mal pude conter minha admiração. Não era uma simples flor, mas uma rosa, tão linda e tão deslumbrante, oh Deus, tão maravilhosa, suas bochechas refletiam seu rosto branco como porcelana cara, enquanto seu nariz fino e arrebitado estava vermelho de tanto rir e seus finos lábios rosados se curvaram em um sorriso doce. Eu me senti um tolo perante tamanha aparição miraculosa. Não sabia mais o que dizer. Não sabia como parar as lágrimas jorrando dos meus olhos e me senti muito desajeitado, vulnerável, não havia necessidade de chorar, mas meu corpo teve que expelir água para mostrar como se sentia.
Alice olhou diretamente para mim, o rosto rosado aberto, os olhos claros, minha irmã nem precisava sorrir; eram seus olhos, sua postura de bailarina, a maneira como parecia pensar em cada movimento de seu corpo, assim como mamãe.
Eu fixei meus olhos nela, enfeitiçados pela criatura de beleza sobrenatural, e mal pude conter a vontade de chorar e sorrir, tudo ao mesmo tempo. Alice. Seus dedos, braços, ombros, nariz, olhos e seus lábios, todas as coisas vindas da mamãe. Alice não era como eu. Ela não tinha nenhum traço dele.
- Me conta.
- Hum?
- Você ficava esperando no bosque deserto?
- Papai disse que me visitaria todo dia, mas ele não veio, ele nunca vem. - ela disse, baixando os olhos.
- Nunca espere por ele. Não quero que ele visite você. E não o chame de pai. - mandei, sério. - Ele te machucaria. É só isso que aquele homem sabe fazer.
Eu nunca deixaria aquele infeliz tocar na minha irmã. O que para ele estava morto e enterrado era um anjo lindo que pertencia somente a mim.
Alice agora era só minha.
- Eu queria que ele estivesse morto. - eu falei, entredentes.
- Mas não no Céu.
- Não, fora dele.
- Toc, toc! - Alice brincou, batendo em uma porta imaginária. - Mas ele não pode entrar.
Eu sorri maldosamente.
- Exato.
Seus olhos, como seu corpo, eram fontes de calor materno. As mãos de Alice eram firmes e macias e ela gentilmente acariciou minhas mãos enquanto o cheiro de biscoitos recém-assados provinha de sua pele.
- Você tem um cheiro diferente. - eu disse. - Tem cheiro de biscoito.
Alice se aproximou de mim, mais perto do que antes, e cheirou minha bochecha, pressionando seus lábios macios contra minha pele.
- Você tem cheiro de grama. - ela sussurrou, e eu sorri.
- Pensei que fosse de cocô de cavalo. - apontei para Evangeline.
Ela riu mostrando todos os dentes, e sua risada teve um efeito indescritível em mim, mil estrelas explodindo ao meu redor. Comecei a ouvir o chilrear alto dos grilos perto e vi os vagalumes se aglomerando em um enxame acima de Alice, como se estivessem em um canteiro de flores.
- Você pensa nos mortos, Nate? - ela perguntou, e eu estremeci ao ouvir meu nome saindo de seus lábios.
- Eu não esquecia de lembrar de você um único dia.
Quando eu disse isso, Alice sorriu e encarei seus olhos de oceano, úmidos de alegria e ternura.
- Poderá ficar por mais tempo?
Alice mordeu o lábio, o azul de seus olhos voltaram-se para a lua e suas filhas, e eu entendi o que queria dizer, o tempo não era mais apropriado, ela tinha que descansar entre as estrelas.
Da maneira mais carinhosa possível, fechei nossos dedinhos juntos e beijei a superfície plana da sua testa, gentilmente encostando-a à minha.
Então ela sumiu.

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Before and After (HIATUS)
FanfictionJoey tem quatorze anos e mora em uma cabana com seus pais. Tímido e retraído, tem como único amigo, sua fiel cadela, Francine. Ele poderia ser um adolescente comum, mas sua existência esconde um terrível segredo. Sua mãe é Natasha Hoffman, jovem seq...