"As pessoas da cidade conhecem os prazeres, as pessoas do campo as alegrias."

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Natasha

Uma tropa de búfalos, majestosos e imponentes, atravessou a estrada enquanto avançávamos pelas rodovias de Denver, logo de manhã cedo. Eu me acomodava no banco do passageiro e, do meu lado, Tobias dirigia. Ao fundo da picape, Lilian e Nate se espremiam entre caixas de legumes e tubérculos, firmemente amarrados na garupa. De tempos em tempos, desviava meu olhar para trás, certificando-me de que estavam todos bem. Tobias, entre momentos de silêncio concentrado, fazia breves perguntas sobre o estado deles: "E aí? Tá tudo certo aí atrás, Nate? Lilian?".

— Sim. — disseram em uníssono. Olhei para trás e constatei Lilian encolhida, os joelhos bem a frente do seu corpo, e sua face entre eles, abraçando-os como se quisesse se manter aquecida, mesmo que não estivesse frio e o sol pálido da manhã já derramasse seus primeiros raios. Nate, meu filho, estava escorado nas bandas da picape, a cabeça bem próxima do lado de fora para manter o rosto no vento, mais pálido que o normal, quase verde.

— Nathaniel, se estiver com vontade de vomitar, posso parar um pouco. — avisou Tobias, olhando-o pelo retrovisor.

— Não precisa, pai. — murmurou Nate, murcho, respirando fundo para que o enjoo fosse embora.

— Continue assim, meu amor — eu disse, preocupada. — Feche os olhos, pode ajudar.

Lilian, nossa convidada, também permanecia muito próxima da borda, sua cabeça agora apoiada nas laterais, como se estivesse se escondendo do mundo exterior. Ela lembrava um patinho indefeso, encolhido para se proteger. Seus olhos graúdos encontravam-se fixos no horizonte em movimento, mas pareciam obscurecidos por uma sombra de melancolia, absortos em pensamentos distantes. O vento, impiedoso, bagunçava ainda mais seus cabelos, amarrados em duas tranças. Enquanto a observava, me perguntei se ela também estava sofrendo enjoos.

— Está enjoada também, Lilian?

Ela fez que não. Aliviada, voltei meu olhar para a janela. O murmúrio da estrada sob as rodas se misturava ao mugido distante dos búfalos. Contemplei, por um tempo, as vastas montanhas rochosas tocando os céus além das nuvens.

— Acho que estamos precisando de um pouquinho de música. Está muito quieto aqui — Tobias disse, de bom humor, e lançou outro olhar para Nate pelo retrovisor. — O que acha, Nathaniel?

Meu filho acenou lentamente com a cabeça, como se não aguentasse mais, prestes a jorrar a qualquer momento.

Tobias ligou o rádio do carro, escolhendo qual estação sintonizar. A voz envolvente de Michael Jackson começou a preencher o espaço.

— Seu favorito, Nathaniel. — anunciou Tobias, acompanhando o ritmo batendo os dedos no volante.

Com isso, Nate inesperadamente deu murros na lataria da picape e me sobressaltei com a brutalidade. Voltei-me novamente, encontrando Lilian de olhos arregalados diante da fúria do meu filho, que agora estava roxo como uma uva e ainda esmurrando enlouquecido, mesmo com os punhos enfaixados da surra anterior. Agora, gritava "Para! Para!" enquanto Tobias decidia frear. De um salto só meu filho desceu do carro, correndo em direção ao acostamento. Michael Jackson ainda cantava no rádio, e o barulho regurgitante de Nate vomitando na beira da estrada ecoava junto.

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O suave sopro do vento em meu rosto e o ronco do motor me colocariam para dormir se não estivesse tão bem acordada. Da janela, vi a paisagem se desdobrar como uma pintura em movimento. Passamos do enorme lago, azul e brilhante sob a luz intensa da manhã, e percebi estarmos cada vez mais perto. O campo logo sumiu, e deu lugar à cidade. Casas modestas, próximas às colinas verdejantes, se erguiam no meio urbano.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora