"Deus só frequenta as igrejas vazias."

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Joey

O tempo se transforma em pó e a poeira é levada pelo vento. Uma rajada, e já se foi. Já fazia quase duas semanas desde que saí de casa. Duas semanas do meu ato de rebeldia. Duas semanas me escondendo do papai sempre que possível, mas por mais que eu tentasse negar, meu coração ainda doía tanto que tive que procurar apoio em algum lugar.

Sentado em um dos bancos da Igreja de Denver, eu tremia enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto e as janelas estreitas iluminavam o velho piso de granito. Francine, com um pulo, subiu em cima do banco da igreja e me deu várias lambidas no rosto, porque não queria me ver triste, enquanto Isis ronronava e esfregava sua cabeça peluda contra meu peito. Ambas sabiam do meu desespero, então me confortaram.

Ouvi passos ecoando no chão e sapatos pretos chamaram minha atenção, a igreja estava estranhamente quieta naquele final de tarde.

- Está tudo bem? Precisa de ajuda? - uma voz calma e doce, como melaço sobre panquecas. 

Levantei a cabeça e meus olhos foram recebidos por um idoso de olhos caridosos. Era o padre.

- Olá, padre. Como vai o senhor?

Ele sentou-se ao meu lado no banco e olhou para mim enquanto falava. 

- Vou bem, meu filho. E você?

Minhas mãos acariciaram a cabeça macia de Isis e Jesus me encarou da cruz com um olhar de tristeza.

- Não vou muito bem. - murmurei, enxugando as lágrimas que insistiam em cair.

- Quer conversar sobre isso?

- Estou com fome. Minha barriga dói.

Com essas palavras, ele me pediu para acompanhá-lo até a porta ao lado do órgão da igreja e, no caminho para a cozinha da catedral, um cheiro delicioso de pão recém-assado encheu minhas narinas e fez meu estômago vazio se contorcer, não sendo nada comparado à dor que senti no peito quando me lembrei imediatamente da cozinha de casa.

Mamãe.

- Por favor, sente-se e coma. - o padre disse, puxando uma das cadeiras da mesa. Uma sugestão, não uma ordem.

O padre rapidamente trouxe um pouco de pão com manteiga e uma jarra de suco sobre a mesa, mas minha tristeza era tão grande quanto minha fome e não me atrevi a tocar em um pedaço do que ele me oferecia, apenas dando de comer e beber à Francine e Isis.

- O senhor conhece meu pai, não conhece? - perguntei, erguendo os olhos para ele.

- Sim, Joey. Ele vinha aqui com você, quando ainda era um bebê.

- Eu fugi de casa, padre. - declarei, simplesmente.

O padre ergueu as sobrancelhas, surpreso.

- Fugiu de casa? O que houve?

Dei de ombros, tão cansado que mal pude respondê-lo. Eu só queria fechar os olhos e dormir para sempre.

- Minha mãe saiu de casa. Sinto falta dela.

- Não sabe onde ela está, criança? - os olhos dele estavam cheios de compaixão.

Balancei a cabeça, com inúmeras lágrimas me descendo pelo rosto.

- Ah, meu filho. - ele pôs a mão sobre a minha. - Não conversou com seu pai sobre isso?

- Não, padre. Mesmo que eu tentasse, tudo com ele é na base do grito e da força bruta.

Ele suspirou.

- Seu pai é um homem difícil, mas você acha que fugir melhorou as coisas? Não é assim que funciona, criança.

Before and After (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora