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Um corte reto no lábio superior. Um roxo no olho direito e diversos hematomas espalhados pelo corpo, são o resultado da luta para Gabrielle, além do passaporte para a fase seguinte.

Ela está habituada com os ferimentos e as dores depois de uma batalha acirrada como foi a da noite. Mas, as dores físicas não se comparam com as da alma.

O Muay Thai é uma forma eficaz dela lidar com os traumas desde a infância. Sua satisfação não cabe somente em golpear o adversário como é para muitos lutadores ao transferir as tensões íntimas, mas sobretudo quando ela própria recebe os golpes. Ela tem uma necessidade psíquica de sentir algo além do que há em seu coração amargurado, como uma válvula de escape para fugir momentaneamente de dentro de si mesma.

Muitas pessoas tem preconceito e não compreendem porque os lutadores de modo geral optam por este caminho. Consideram esses torneios superficiais e desumanos. Outros são fanáticos e se deliciam com a selvageria no ringue. Ignorando eles, que a luta mais difícil e importante acontece no próprio cotidiano. Matar um leão por dia: é esse o ditado popular que lhe define.

A própria avó de Gabrielle é contra o esporte. Ela diz que a neta gosta de se autoflagelar dando o corpo para ser brutalmente agredido. Que ela é uma sadomasoquista inconsciente.

Mas o lema de Saturno é correr em busca de algo que lhe dê a sensação de estar viva. Prefere se ferir, tanto no campo físico quanto no emocional do que não sentir nada. Acha melhor isto do que ignorar ou esquecer.

Olvida que Hachiro já havia lhe medicado, despeja o pote de analgésicos em cima da pia do banheiro, onde se olhava com demora no espelho, e toma mais dois comprimidos com o auxílio da torneira.

Mika Nakashima é o nome da japonesa. A informação veio lhe dando alívio e causando tormento.

O sentimento parece um redemoinho bagunçando todas suas convicções a respeito de se apaixonar. Ela passou a adolescência presenciando como as pessoas fazem loucuras em nome da paixão. Como elas ficam cegas, mas o que mais lhe chama a atenção é o fato delas terminarem sofrendo e desiludidas.

Quer experimentar mais disso, deixar fluir e ver até onde as emoções a levarão. Está disposta a correr o risco, mesmo que Mika seja comprometida, não irá desistir sem tentar.

Não permitirá que o novo e delicioso anseio morra antes de ir atrás de uma chance de fazê-lo se concretizar.
Se ela está ali, irá viver cada minuto intensamente, para que quando voltar para o Brasil, não haja espaço para arrependimentos do que não fez na bagagem.

Ela passa as mãos pelos seus fios ondulados ainda úmidos e vai para o quarto, onde pega sua jaqueta de couro preta favorita, e sai da suíte com ela apoiada no ombro.

- Oh, Gabrielle! - Li a fixa do sofá, se levantando - Pode se vestir socialmente pelo menos por hoje?

- O que tem de errado com a minha roupa? - ela analisa o traje despojado. Uma calça jeans branca, uma camiseta vermelha, e nos pés uma bota marrom com os cadarços soltos compõe seu vestuário.

- Arg. Nada! Vamos, já demoramos demais. - ele murmura impaciente pegando as chaves do carro na mesa de centro e caminha até a porta - Espera. - ele cessa o passo impelindo-a ao mesmo. - Me promete que vai manter distância da Mikaela?

Gabrielle levanta as sobrancelhas achando a exigência absurda:

- Tenho mesmo que te prometer isso?

- Oh, sim! - ele estala os dedos de modo firme - Agora!

- Porra, Li! Eu não mordo, está legal?

Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio Onde histórias criam vida. Descubra agora