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A Senhora Mikaela Sato Nakashima adentrou a mansão com um sorriso de satisfação íntima – e física – estampado em seus lábios avermelhados devido ao trabalho prazerosamente incansável, executado horas antes, no sexo mais intenso de sua reles existência.

Não tinha mais nenhuma vergonha de admitir que era possível manter um relacionamento amoroso baseado na lealdade, na honestidade, na confiança e na entrega.

Deixar Gabrielle estirada naquela cama, com um brilho peculiar de realização em seus olhos lindamente castanhos, é a imagem que deseja levar na memória pelo resto de seus dias.

O coração de Gabrielle também é seu, não tinha mais dúvidas, e seu lugar nele é insubstituível. Ninguém poderia convencê-la do contrário, nem retirar as impressões gravadas eternamente em seu âmago.
Estava acariciando seus lábios, despercebida, e tocando no próprio braço, entorpecida. Parecia estar sobre as nuvens, sua respiração era fácil, suas bochechas estavam coradas, e sua felicidade duraria para sempre se não fosse interpelada logo na sala, pela presença inconveniente de Toyo e o chefe dos seguranças, ao lado de Mitsuo; com uma expressão indefinível, variando entre indignação, incredulidade e asco.

– Mitsuo. Está tudo bem? – ela pergunta saindo abruptamente de seu delicioso transe.

– Onde você estava, Mikaela? – o marido indagou sem delongas com a testa enrugada de ira.

– Fui dar uma volta. Espairecer... – Mika omitiu sem coragem de encará-lo, fitando os saltos no piso.

– Mentirosa! – o Senhor Nakashima se aproximou e lhe deu surpreendentemente um tapa ferino no rosto.

Uma Mika descrente, petrificada, o fitou com os olhos arregalados e as mãos trêmulas.

– Leve-a daqui! Tirem-na da minha frente! Não suporto mais olhar na face dessa traidora! – Mitsuo cuspia, dominado pelo ódio e o rancor.

O chefe dos seguranças agarrou-na pelos braços por trás.

– Mitsuo, o que está fazendo? O que aconteceu? O que eu fiz? – a japonesa enfim consegue reagir, percebendo a gravidade da situação.

– Você não tem moral, Mikaela? – o homem balançava a cabeça de um lado para o outro, demonstrando o quanto estava indignado e enojado com a presença da esposa. – Por que não confessa que estava com a Gabrielle? Que está do lado dela? Que deseja a minha morte? Minha falência?

– Isto é mentira, Mitsuo! Eu não sei o que colocaram na sua cabeça contra mim, mas é tudo mentira! Eu juro! – se defendia fitando Toyo com decepção em  conjunto de emoções daninhas.

– A única mentirosa aqui é você! – fez um gesto com a cabeça para Toyo – O que está esperando? Suma com essa naja das minhas vistas, e tratem de arrancar dela o paradeiro de Saturno! Eu quero essa brasileira morta, entenderam? Morta! – finalizou num grito e saiu depressa caminhando com dificuldade, deixando claro que sua saúde estava verdadeiramente por um fio.

– Pode deixar, papai. Eu cuido disso – abriu um risinho sem som, desenhando o inferno nos olhos ao fitar Mika, assustada e temerosa.

Toyo a segurou de um lado e o chefe dos seguranças de outro, e em silêncio, enquanto a mulher esperneava aos gritos, tentando chamar a atenção de Mitsuo para sua inocência, arrastaram-na para o interior da casa, onde existia um quarto usado para guardar pertences velhos e inúteis, e a depositou ali como prisioneira.

Mika gemeu de dor quando foi jogada ao chão e bateu as costas em um cofre antigo.

– Isto é o que você merece por ter ficado do lado daquela maldita! – esbravejou Toyo.

O segurança mor ficou parado na porta, vigiando a mesma e se deliciando com a selvageria com que a mulher era vitimada.

– É melhor que colabore. Diga, onde está a macaca e sua vida será poupada! Não terei mais compaixão de você, Mika!

– Você nunca teve, seu monstro! – a japonesa ainda encontrou forças para xingá-lo, ainda que entre lágrimas.

– Pelo visto você não tem amor a sua vida, nem a de sua filha!

– Fica longe da Kyoko! – grunhiu partindo pra cima dele como uma fera e arranhando-lhe o rosto com as unhas.

Toyo revidou dando-lhe uma bofetada, e puxando seus cabelos, ordenou:

– Se não me contar onde aquela desgraçada se esconde, você ficará presa aqui por tempo indeterminado, e Kyoko se manterá segura até o imbecil do meu pai viver, depois que ele morrer, quem vai ditar as regras aqui sou eu, sua vadia lésbica! Eu já fiz a cabeça dele, agora é questão de tempo até tudo estar definitivamente nas minhas mãos!

– Eu sabia! Seu escroto! Eu sabia que você estava fingindo!

Toyo soltou uma gargalhada maltratada:

– Não me importo com o que você pensa! Eu consegui enganar meu querido papai, e é isso que conta! – lançou-a contra o chão novamente, e cuspiu imponentemente. – Então como vai ser? Vai me falar onde está a maldita, ou não?

– Nem que arranque minha língua! – gritou com olhos estatelados de raiva e dor.

– Que assim seja. Como eu disse; é só uma questão de  tempo! – Toyo deu as costas e se foi.

Mika logo pensou em se projetar para entrar em contato com Gabrielle, ou Tomoyo e lhes contar as novidades, avisar que estão correndo perigo, e que não conseguirá manter segredo por muito tempo, não se Mitsuo viesse a falecer, e Toyo ameaçasse ferir Kyoko. Teria que abrir o jogo, a contragosto, mas não poderia permitir que machucassem sua menina.

– Não vai conseguir o que quer – o segurança se pronunciou tentando adivinhar seus pensamentos. – Eu mesmo cuidei de preparar o quarto para sua estadia, Senhora. – ele riu malicioso e saiu trancando a porta atrás de si.

Mika andou desesperadamente pelo cômodo e devido aos seus conhecimentos, mesmo que limitados, logo constatou que eles haviam feito alguma magia que a impede de desdobrar o perispírito.

Não tem para onde fugir. O que fará? Sozinha, presa, sem condições?

Deitou a cabeça no piso de madeira empoeirado e desabou em lágrimas, se sentindo impotente e fraca.

No corredor do lado de fora, a metros dali, Toyo esperou para ter com o segurança.

– Você garante mesmo que ela não vai conseguir entrar em contato com a macaca brasileira? – questionou desconfiado.

– Absoluta. Não confia nos meus métodos? – franziu o cenho, ofendido.

– Não se faça, Ren! – revirou os olhos – Afinal, ela entrou aqui e saiu sem ser percebida por duas vezes, quem dirá que não voltará a fazer o mesmo?

– Fomos pegos desprevenidos! Não imaginávamos que ela detém o poder do Dragão.

– Vocês não são pagos para jogarem na sorte. Fiquem atentos a partir de agora, e encontrem uma maneira de destruir essa maldita!

– Deixe comigo, chefinho. – o olhou irônico com as pálpebras semicerradas.

– É bom mesmo! Não admitirei falhas dessa vez. Meus planos não podem dar errado. É tudo ou nada. Gabrielle deve morrer, dessa vez para nunca mais voltar. E eu, tomarei o lugar do meu pai que sempre me pertenceu.

Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio Onde histórias criam vida. Descubra agora