<17>

172 18 10
                                    

Akira não respondeu de imediato. Primeiramente cuidou de se sentar no banco de madeira, qual servia de descanso para as pausas do treino, na direção da vidraça; que compunha a parede naquela cobertura.

Gabrielle entendeu o gesto e tratou de fazer o mesmo. Arrancou as luvas e se acomodou ao lado do fiel empregado de Hiroshi. Antes de proferirem qualquer palavra admiraram a exuberante vista da selva de prédios iluminados, com um risco verde no final da pintura viva, constratando harmonicamente com o céu alaranjado, que findando a tarde; convidava o nascer da lua.

— Os sobreviventes é uma organização milionária. — começou ele, procurando cruzar os braços e não encarar a jovem nos olhos. — Pelo que sei, ela existe desde mesmo antes de eu nascer. Ergueu-se por volta do século 15, quando os agiotas arranjaram essa forma de cobrar seus devedores. Com o passar das décadas, ocorreram diversas modificações gritantes, até se tornar o que é hoje! Uma briga de galo humana.

— Isto é horrível. — a brasileira meneou a cabeça, indignada.

— As pessoas são capazes de tudo por dinheiro e poder.

— Nunca imaginei que existisse tanta maldade.

— Isto não tem nada a ver com índole, Gabrielle. É só um acordo de interesses.

— Não fiz acordo nenhum com o Mitsuo, e ele iria me obrigar a lutar para enriquecê-lo ainda mais. Se é que isso é possível!

— A ganância pode ser destrutiva, mas se você não tiver ambição, não irá chegar a lugar nenhum.

— Não luto Muay Thai por dinheiro.

— Mas, deve ter algum motivo em especial. A intenção é fazer aquilo que gosta, não?! — a fitou de soslaio.

— Sim. Mas, não dá pra comparar. Jamais faria algo que prejudicasse meu próximo para me elevar em algo. As artes marciais me ensinaram a ter disciplina.

— A própria vida já não é uma luta diária? Todos não somos prisioneiros de alguma forma? Não se engane, Gabrielle. Estamos num ringue e provavelmente acorrentados por amarras invisíveis. Não foi Mika que te prendeu aqui? Não foi a ambição que te trouxe até Tóquio?

Gabrielle deu seu silêncio como resposta.

— Não há muita diferença dos guerreiros dos sobreviventes, das pessoas lá fora. — prosseguiu Akira, apontando o queixo em direção da civilização.

— Talvez você tenha razão. — suspirou fundo, após profunda assimilação — Porém, todos nós podemos fazer nossas próprias escolhas.

— E qual será a sua? — a fixou, curioso.

(...)

Quando Mitsuo chegou na suíte do casal, a esposa afagava os fios da filha, e distribuía beijinhos carinhosamente em sua cabeça.

Ele parou para observá-las. Kyoko se deliciava no colo da mãe. Não conseguia entender como Toyo era capaz de maltratar seres tão doces e indefesos.

— Mitsuo... — chamou Mika, quando se deu conta da presença do marido.

— Desculpe interromper. Mas, precisamos conversar. — sorriu, amigável.

— Tudo bem. Kyoko vá brincar com a Nara, enquanto papai e eu conversamos.

A menina obedeceu. Deu um longo beijo na bochecha da mãe, passou pelo pai, fez o mesmo e se foi.

Mitsuo pigarreou:

— Não me agrada ver minha filha tão arisca.

— Ela vai superar, Mitsuo. Só precisamos ter um pouco de paciência.

Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio Onde histórias criam vida. Descubra agora