Capítulo Especial

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Brooke, sei que você e a Rita são as únicas pessoas no planeta em quem eu posso verdadeiramente confiar. Apesar do pouco tempo que tivemos juntas, foi o suficiente para conhecê-las, gostar de vocês e respeitá-las. Todos os meus planos foram frustrados quando cheguei em Tóquio. Nada saiu como eu havia minuciosamente planejado. A vida é assim, não é mesmo, minha cara? Quando a gente pensa que tem o controle, uma força maior vem e nos mostra, na maioria das vezes de uma forma dolorosa, que somos apenas um grão nesse imenso universo, e que nem tudo depende das nossas escolhas. Agora, posso afirmar com total convicção que há inúmeras coisas que fogem de nosso entendimento. Porém, creio que tudo há de ter um sentido. O sofrimento não pode ser em vão. Envolvi-me com gente da pesada. Me meti em encrencas irreparáveis, pelo menos no exato momento. Por isso, venho através dessa mensagem, te pedir que haja o que houver, que proteja minha velhinha. Ela corre perigo. Peço-te por favor que não faça nada sem meu consentimento. Não me retorne mais nesse número, e nem tente me contatar. Sei o quanto é tinhosa, leal, amiga e companheira. E que não faz parte de você abandonar, seja quem for, ao léu. Preciso de um tempo pra tentar consertar minhas burradas. Assim que puder entrarei em contato. Não irei entrar em mais detalhes para sua segurança, e a da Ritinha. Temo que todos os meus passos estejam sendo vigiados. Um abraço de sua  "Hulka", Saturno.

Brooke releu a mensagem por diversas vezes. Tentou enviar uma resposta, mas dava falha. Ligou, e o número ia direto para a caixa postal.

Foi até todas as redes sociais que Gabrielle mantinha conta, mas em nenhuma delas teve notícias da amiga. Os perfis foram misteriosamente excluídos.

Cogitou arrumar as malas e partir imediatamente para o Japão. Olhou para Rita, adormecida numa montanha de travesseiros macios e moles; como ela gosta. Releu a mensagem, e focou no pedido de Gabrielle, de que não a procurasse, que esperasse seu contato, que apenas protegesse sua avó.

Pelo que conhecera de Saturno, sabia que ela era uma mulher forte espiritualmente, que já havia passado por diversos testes da vida e os superado com a garra que fora presenteada ao nascer. Ao que sabia do crime, ameaças de morte, só eram dirigidas em últimos casos.

Saturno; gozando da disciplina, e da técnica conquistadas como lutadora, e pessoa: inteligente e esperta como era, com certeza arrumaria um jeito de se virar e se manter em segurança. Contudo, sua avó ficava vulnerável. Por isto, o pedido óbvio de proteção.

Conferiu o relógio do celular; 11h:15m no horário de Brasília. A mensagem fora recebida por volta de 10h:18m, o que deixava claro que foi enviada no final da noite, por conta do fuso horário.

Sentiu Rita se remexer na cama, ficou parada observando sua musa negra despertar de modo manhoso, procurando pelo seu corpo na mesma.

Os raios solares invadiam a janela; semiaberta, e o vento convidava as cortinas para uma dança matinal.

— Bom dia, minha linda. — beijou-lhe a orelha.

— Bom dia, meu amor. — virou-se e lhe deu um selo carinhoso nos lábios. — Estava aí me olhando dormir é?!

— Também. Você parece um anjo. Te amo cada dia mais, Rita.

— Eu também, te amo, Brooke. Sou a mulher mais feliz desse mundo!

— Não queria que acordasse de uma boa noite de sono, e eu já ter que te perturbar com uma má notícia.

— O que foi, aconteceu alguma coisa?

— Infelizmente, sim. — pegou o celular e deu à ela, aberto na caixa de mensagens de Saturno, para facilitar. — Gabrielle desapareceu, depois que me mandou essa mensagem. — contou, acompanhando o olhar da mulher na leitura.

— Já tentou ligar pra ela?

— Sim. Fiz tudo que podia, e que a tecnologia favorece.

— Devemos ligar para a federação. Talvez, eles tenham notícias dela. Tem que ter. Afinal, ela foi para lá, patrocinada por eles.

— Sim, mas ela renunciou ao patrocínio para ser agenciada pelo empresário misterioso.

— Tem razão. Ela não é mais responsabilidade deles. Então, vamos tentar falar com esse empresário.

— Pelo que ela disse na mensagem, acredito que tenha se envolvido com coisas ilícitas, e não duvido que esse cara esteja no meio. Foi bem estranho ela receber essa proposta de uma hora pra outra, de um desconhecido japonês.

— E a Mika?!

— Ela me confessou que a Mika é casada, e tem até uma filha.

— Meu Deus. Ela não disse quem é o cara?

— Não. Por isso é melhor não metermos ela nisto. Pode até ser por isso também. Vai que ele descobriu e quis ferrar com a Saturno?

— Nossa. Estamos encurraladas. Bem pensado, amor. O que podemos fazer pra ajudá-la, então? Ir até o Japão?

— Ela deixou expresso que não devemos procurá-la, e a segurança da avó em minhas mãos. É o que irei fazer. Realizar o último pedido dela.

— Que coisa! Nunca imaginei que ela pudesse se meter onde não devia. Pareceu-me tão centrada.

— Situações difíceis surgem apenas para nos testar, independentemente de nossa índole, Rita. Você mais do que ninguém sabe o que passei em Nova York.

— Eu sei, amor. — jogou o celular e se sentou no colo de Brooke.

— Vou fazer o que estiver a meu alcance para ajudar a Saturno. Afeiçoei-me a ela, desde o primeiro dia que a vi. É como uma irmã pra mim.

— Você que é legal com as pessoas, amor. Sua generosidade e nobreza de espírito me cativam.

— Ah, é? Quer dizer que meu jeito de boa moça te atrai? — desceu a alça da camisola de Rita, com os dentes, e expôs seu seio direito.

— Sim. E como... — sussurrou ofegante, fechando os olhos para se deliciar na respiração de Brooke.

— Deixe-me comprovar se a prática conversa com a teoria. — sugou-lhe o mamilo, enquanto deslizou a mão para sua intimidade, onde: infligiu deliciosamente a calcinha e tocou em sua abertura com a ponta do indicador, constatando o quão úmida estava.

Rita soltou um gemido sôfrego. Para conter o tesão cuidou de pressionar a própria vagina na mão da parceira.

— Alguma dúvida?! — balbuciou, a voz trêmula de desejo.

Antes que pudesse executar a próxima atitude, a porta foi escancarada pela matriarca da b-girl, que pegando-as no flagra levou a mão à boca para conter a surpresa e o constrangimento desenhado em suas bochechas.

— Oh, me desculpe! — murmurou fechando a tábua de alumínio numa velocidade surpreendente.

Brooke e Rita desviaram o olhar da mulher, e consecutivamente da porta para se entreolharem e caírem na risada.

Depois do ocorrido, acabaram perdendo o clima para consumarem o sexo.

Vestiram roupas confortáveis, pois ainda estavam auxiliando na construção do estúdio de dança. Não queriam que nada saísse fora do planejado.

Chegaram na minúscula copa conjugada com a sala, e sentaram na mesa para saborearem as guloseimas do café.

— Bom dia, Plínio. — Brooke sorriu para o irmão. O garoto tinha 16 anos e necessitava de cuidados especiais porque nascera com uma paralisia cerebral severa.

Ele respondeu com gestos eufóricos, remexendo-se sem parar na cadeira.

— Acho que tem alguém de bom humor hoje. — comentou Rita.

— Com uma irmã como eu, não podia ser diferente!

— Arg. Você se acha pouco, né? — Rita lhe lança um pedaço de biscoito.

Brooke gargalha animadamente:

— E você está ficando cada vez mais brasileira.

Rita enrubesce. Estava mesmo sendo conquistada pelo idioma, pelos costumes, e culturas, especialmente pelas gírias. Tinha alma de brasileira, como dizia sua sogra.

Brooke corta um pedaço de bolo e dá carinhosamente em sua boca.

— Não amor. Já comi o suficiente. — Rita nega.

— Que isso, Rita? Só comeu dois biscoitos e um café preto. Está fazendo regime?

— Sim. Olha só pra mim, engordei uns cinco quilos desde que estamos no Brasil.

Brooke a admirou. Realmente. Sua amada havia ganhado uns quilos. Porém, os extras a deixavam com um corpo mais torneado, as coxas mais fartas, os seios mais avantajados, o quadril mais largo.

— Não vejo nada de errado aí. Está linda, Rita, e muito gostosa. — enfatizou com o tom carregado de desejo e luxúria.

As bochechas de Rita ruborizaram. Aproximou os lábios dos de Brooke e retirou a língua para que fosse deliciosamente chupada.

— Rum. Rum. — Selena surgiu, fingindo uma tosse para ser notada.

Ambas olharam. A sogra sempre chegava nos momentos de intimidade e fazia questão de interrompê-los. Rita já estava ficando irritada com a falta de espaço e privacidade.

— Bom dia, mãe.

— Bom dia, filha. Bom dia, Rita.

— Bom dia.

— Desculpe pelo que houve, eu devia ter batido.

— Tudo bem, mãe. Acontece. Ontem só tinha você e o Pli nesse casa, agora somos quatro.

— Mesmo assim, vou tomar mais cuidado da próxima vez. Vou ter que ir no centro comprar umas coisinhas... — alisou a bolsa. — Poderia ficar com o Plínio por algumas horas, Rita?

A nora quase pegou uma xícara e jogou na sogra. Não que não gostasse de cuidar de Plínio. Ele era um menino muito educado, carinhoso, e obediente, mas Selena sempre arranjava uma desculpa pra mantê-la afastada de Brooke. Parecia ter ciúmes da filha. O que no início foi bem compreensível, devido aos anos que se mantiveram distantes por força das circunstâncias.

— Ah, não pode adiar para amanhã ou mais tarde? Hoje vão chegar os pisos e eu queria conferir a entrega junto com a Brooke.

A b-girl e a mãe olharam com desgosto para ela. Não era a resposta que esperavam. Rita sempre concordava. Não reclamava em fazer os serviços domésticos, nem sair para fazer supermercado, ou resolver assuntos. No entanto, dessa vez, decidiu contrariar as expectativas. Uma mulher podia ficar bastante extressada quando empatassem sua foda.

— Amor. Deixa que eu vejo isso. O centro fica longe. E amanhã; mamãe tem que costurar a roupa da dona Divina. — argumentou Brooke.

— Então você fica com seu irmão e eu vou para a construção.

Brooke mordeu os lábios. Conhecia bem àquele olhar de Rita. Sabia que ela estava tentando lhe provocar.

— Você não vai ficar sozinha no meio daqueles marmanjos. Negativo. Você fica cuidando do Plínio, e ponto final.

— Não fica reproduzindo machismo. Você não é meu pai, Brooke.

— Meninas, não briguem por minha causa. — interferiu a sogra numa voz mansa e dramática. — Eu irei outro dia.

— Ah, não se faça de coitadinha, dona Selena. — Rita esbravejou.

— Rita! — Brooke repreendeu.

Selena começou a chorar, e Plínio ficou agitado com o rumo da discussão. Ele não falava, mas era óbvio que entendia tudo que se passava ao seu redor.

— Desculpa. Desculpa. Estou na TPM. — sorriu forçado, se dando conta do exagero. — Pode ir tranquila, dona Selena. E você também, Brooke.

— Ótimo! — Selena secou as lágrimas rapidamente, como se esperasse ouvir àquilo, beijou os três depressa e saiu. Talvez, com medo da nora desistir e arrumar confusão por causa de um pedido tão simples.

— O que deu em você? — Brooke puxou Rita para o quarto do casal. Não queria alterar a voz perto do irmão.

— Só estou cansada de ser capacho da sua mãe. Faço tudo para agradá-la, e ela sempre quer mais.

— Ah, não acredito que está de capricho, Rita!

— Não é capricho. Só você não vê, que ela se aproveita de mim. Ela pensa que você é meu dono, o homem da relação. Não estamos em um relacionamento heterossexual e mesmo que estivéssemos isso é ridículo.

Brooke riu:

— Deixa de bobagem.

— É sério, Brooke. E eu estou me sentindo um camundongo preso na gaiola. Essa casa é muita pequena pra gente. Por que não arranjamos um lugar só pra nós duas?

— Depois vemos isso. Preciso resolver as coisas no estúdio, e arrumar uma forma de proteger a senhora Guilhermina, sem que ela perceba. Nos vemos mais tarde. — Brooke beijou a testa da companheira e se foi.

Rita bufou. Sabia que isso de: "Vemos depois", era na verdade: "Não iremos nos mudar. Não ficarei longe da minha mãe. Quero aproveitar todo tempo perdido."

A única pessoa em que a b-girl conseguia pensar era em Bob. O traficante chefe da Vila São Vicente.

Depois de avaliar a situação com calma, enquanto ia andando pela comunidade, decidiu seguir seu coração.

Foi atrás de Bob, em sua residência.

Como sempre; foi muito bem recebida pelos funcionários do homem. E, o próprio Bob, a abraçou com um sorriso assim que ela entrou.

— Está sumida, Garcia. O que manda? — questionou, amistoso.

Brooke não concordava com os negócios irregulares de Bob, mas o respeitava dentro dos limites. Acabaram por fazer uma amizade, e se afeiçoarem na sua estadia ali.

— A construção do estúdio tem tomado meu tempo.

— Fiquei sabendo que as coisas vão indo bem.

— Sim.

— Então. Do que precisa?

— Eu vim por outro motivo.

— Senta aí. — sugeriu, apontando o confortável sofá.

— Obrigada. — obedeceu.

— E aí? Se meteu em encrenca?

— Eu não. Mas, a Gabrielle sim.

— Gabrielle, Gabrielle Saturno?

— Ela mesmo.

— Está de brincadeira?

— Não. Por que o espanto? — indagou, notando o efeito estranho que o nome da lutadora causou no traficante.

— Ah. Sei que posso confiar em você, não é?

— Claro.

— Gabrielle é minha filha, Brooke.

— Não brinca!

— Não estou. Eu tive uma treta com a Maitê. Como ela andava com muitos caras na região, quando ela ficou grávida não acreditei que a menina fosse minha. Depois que ela morreu, dona Guilhermina veio exigir que eu ficasse longe da neta dela, e me confessou que ela era mesmo minha filha. Consegui uma amostra de DNA dela, e fiz o exame. Deu positivo. Só que a velha não me deixou assumir a paternidade. Disse que Gabrielle não precisava de um ser como eu... Como pai. Resolvi deixar quieto.

— Nossa. Nunca passou pela minha cabeça que vocês pudessem ser pai e filha.

— Er, a vida é engraçada. Mas, conta-me, o que ela aprontou? Faço questão de ajudar, talvez assim eu possa ficar bem com minha consciência.

Em breves instantes, Brooke contou o que se passou com a lutadora, da mensagem, do pedido de proteção.

— Pode ficar tranquila. Vou cuidar da velha em nome da minha garotinha. E não se preocupe. Ela não vai ficar sabendo. Vou colocar uns caras pra vigiar a velha, sem dar manota. Ninguém entra aqui pra mexer com ela, sem antes passar por cima de mim.

— Obrigada, Bob. De verdade. É bom saber que posso contar contigo. — Brooke se levantou e apertou a mão do traficante. Ele correspondeu-a com sinceridade.

A dançarina seguiu direto para a construção. Passou a tarde toda resolvendo os pepinos que surgiam. Estava morrendo de fome. Já eram oito horas, quando decidiu ir embora. Fechou tudo e saiu andando com precisão.

Ouviu gemidos dolorosos vindo de um dos becos e correu para ver do que se tratava. Havia um garoto deitado no chão, cuspindo sangue, segurando a barriga, e mais outros três fugiam do local do crime.

Não conseguiu ver o rosto dos agressores, por causa da iluminação pobre do ambiente. Apenas se curvou na direção do rosto do menino, e se comprometera em ajudá-lo.

Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio Onde histórias criam vida. Descubra agora