— Uma bruxa? — a brasileira repete procurando sair da posição em que se encontrava para se sentar e se encostar na parede, completamente estacada com a revelação. — Você... Ah bem... — murmura tentando definir o que de fato é ser uma bruxa. Não pode deixar de imaginar Tomoyo sugando cruelmente a vitalidade das criancinhas para manter a jovialidade e a beleza intactas, no intuito de esconder covardemente a real idade, quando na verdade não passa de uma velha carrancuda com uma verruga assustadora na testa e um nariz defeituoso.
— Não tenho pactos macabros com demônios, nem com espíritos malignos, muito menos com diabo algum — explica esclarecendo os questionamentos internos de Gabrielle, enquanto ergue uma de suas sobrancelhas.
A lutadora abre um sorriso murcho, de canto, arrependendo-se amargamente de seus pensamentos antecedentes.
— As pessoas têm uma visão deturpada, distorcida e um conceito errôneo sobre nós — Tomoyo prossegue. — É claro que não posso culpá-los, visto que a sociedade vêm alimentando o preconceito desde tempos muito remotos. O Mitsuo me contratou para te proteger.
— Está me dizendo que o Mitsuo sabe o que você é?
— Sim.
— Quer dizer que a Mika também?
— Não. A Mika dificilmente tem conhecimento dos negócios do marido, e quando digo dificilmente, é quase nunca.
— No entanto, ela sabia o que ele pretendia fazer comigo.
— E assim como eu, ela tentou te alertar.
— Só precisava de um motivo concreto.
— Agora você tem — a encara seriamente, fazendo com que ela se lembre das enrascadas que se meteu até levar oito tiros à queima roupa.
Gabrielle silencia sentindo-se uma menina inconsequente que sempre precisa aprender a lição da pior maneira possível.
— Mitsuo é um admirador fiel do xamanismo. Ele estava muito doente quando me conheceu.
— Da tal infecção que o deixou impotente?
Tomoyo confirma a dedução, balançando a cabeça para baixo e para cima.
— Eu era cozinheira numa clínica médica particular. Logo ele notou que eu tinha prática com a magia e que a utilizava na culinária para ajudar os pacientes, sem que percebessem que suas melhoras de saúde e até algumas curas procediam das ervas que eu utilizava nos pratos, como temperos. Preparei-lhe algumas poções quando ele estava internado, entre a vida e a morte. Felizmente, ou não tanto assim, ele sobreviveu. A partir daí ele me contratou para cozinhar para seus lutadores nos Sobreviventes, aumentando suas imunidades.
— Então... — Gabrielle incentiva.
— Foi assim que Juka e eu te salvamos. Mas, não pense que detemos o poder de tudo, Gabi. A cura depende muito da força de vontade do moribundo.
— Espera... — agita a cabeça de um lado para o outro — O Juka também é um bruxo?
— Não. Ele é um mago muito sábio. Um feiticeiro poderoso e anatômico. Além de um estudioso das ciências ocultas.
— Não consigo compreender...
— A feitiçaria é uma prática que se limita aos elementos físicos de acordo com os desejos de seus praticantes. Há magos e bruxas que são feiticeiros, mas é pouco provável que um feiticeiro será um mago ou uma bruxa. Os magos exploram o poder da mente e as bruxas como eu, trabalham com o mundo astral. Estava invocando seus guias espirituais naquela noite com a ajuda de uma simpatia simples. Contudo, apesar dos meus cuidados, suas escolhas me levaram ao fracasso. Não pude impedir que se ferisse — abaixa os olhos sentindo-se impotente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio
General FictionA lutadora amador Gabrielle Saturno recebe uma tentadora proposta para participar de um torneio de Muay Thai no Japão, após ser classificada em uma eliminação rigorosa no Brasil. Chegando lá, ela conhece a sedutora japonesa Mikaela Sato e um romance...