Capítulo Especial

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O sumiço de Jean faz com que Brooke reviva antigas memórias da época em que ela e Francis, sem ainda saberem que eram irmãos biólogicos, haviam fugido dos maus-tratos que sofriam no orfanato e se viram obrigados a morar na rua sob circunstâncias desumanas até serem acolhidos por Tom. Isso a deixa deveras preocupada e com medo de Jean passar por situações semelhantes ou piores como as quais eles viveram. Desse modo, ela faz questão de mobilizar toda a comunidade e organiza um mutirão para procurar pelo menino. As pessoas envolvidas se dividem em grupos para percorrerem o maior trajeto possível. Não que ela não confie no trabalho da polícia, só quer reforçar o engajamento para poder encontrar Jean o quanto antes.

Com tudo isso, o casal teve que adiar o comunicado de que irão se mudar e o estresse de Rita só aumenta, como se Jean fosse um pedaço da sua própria carne que foi arrancado de si e está perdido por aí.

A b-girl sente que está faltando com o dever para com a esposa e convida Maurício para almoçar com ela quando ele estiver disponível. O advogado não demora a responder. Como ele também está focado em encontrar Jean, tem cancelado compromissos para ajudar no que puder.

O cansaço da norte-americana é visível.

- Não sei se é prudente perguntar como você está? - o rapaz indaga depois de cumprimentá-la com um beijo na bochecha.

- Que isso, seria educado da sua parte - Brooke ilustra o que se pode chamar de um sorriso gentil e ambos se sentam. Eles optaram por um restaurante no bairro mesmo e é um estabelecimento caseiro. - Estou tentando ficar bem, mas está difícil.

- Não desanima. Nós vamos encontrar o Jean em breve e tudo irá se ajeitar. Você vai ver.

- Queria ter um pouco do seu otimismo.

- A vida já é complicada demais para não se pensar positivo. E a Rita como está?

- Péssima. Por isso te chamei pra conversarmos.

- O que eu posso fazer para ajudar? Você sabe o quanto gosto dela e de você também. Nos tornamos muito amigos durante o processo do Jean.

- Eu sei. Ela deve ter te contado que está passando por uma gravidez psicológica.

- É, ela me contou sim. A situação do Jean mexeu muito com todos nós, mas principalmente com ela. A Rita é muito amorosa.

O garçom surge, os cumprimenta e entrega o cardápio. Os dois agradecem e ele se vai. Nem um dos dois parece disposto a conferi-lo e sequer estão sentindo fome. Suas estadias ali acaba sendo apenas um ritual simbólico.

- Demais e isso está acabando comigo...

- Como assim?

- Porque não podemos ter o que ela quer.

- O que quer dizer?

- A Rita, ela deseja formar uma família.

- E quem disse que isso é impossível? - Maurício franze a testa. - Nós estamos no século vinte um, e mesmo que não estivéssemos, Brooke, há várias maneiras de se formar uma família e todas elas são válidas desde que o mundo é mundo.

- Eu sei, mas a minha mãe ela vive enfiando coisas na nossa cabeça e acho que a gente acaba ponderando nelas mesmo que inconscientemente.

- Sei como é. Minha mãe também é assim. Ela usa a religião pra justificar tudo. Mas para mim, Deus é amor e Ele está pouco se lixando para como nós vivenciamos isso.

- A questão é que, eu estive pensando... A Rita gosta muito de você e você dela... - Maurício arqueia a sobrancelha desconfiado com o rumo da conversa. - Você é um cara bacana, um homem íntegro, trabalhador, inteligente... Bom, acho que não tem jeito melhor de falar isso. Portanto, não adianta enrolar. Você aceitaria nos doar seu sêmen? - a última frase soa baixa e constrangida para não chegar aos ouvidos de ninguém.

Os traços do rosto de Maurício se suavizam.

- Eu adoraria poder ajudar vocês a terem um filho, mas isso não seria bom pra nenhum de nós. Eu não sei se você entende, mas eu não conseguiria doar meu sêmen pra alguém com quem eu já tenho vínculos, além do mais, eu também quero ter a minha própria família.

- Eu entendo, mas não deixa de ser uma pena. Você seria um ótimo pai pro nosso filho.

- Eu não acho que vocês precisam incluir uma presença masculina no relacionamento de vocês. Vocês serão mães maravilhosas e isso basta. Vocês podem fazer uma fertilização in vintro. Uma das duas doa seu óvulo, a outra gera, e escolhem juntas um doador anônimo. A ciência está aí para tornar a nossa vida mais prática. O amor é completamente natural. Ele não raciocina, ele apenas sente - Maurício pega a mão de Brooke e a acaricia afetuosamente.

A dançarina suspira fundo, sentindo-se mais leve depois da conversa com Maurício.

- Obrigada.

- Pode contar comigo pro que precisarem.

- Eu sei... - Brooke luta contra a emoção que está sentindo e abre um sorriso. - Bom, já que estamos aqui, vamos comer enquanto conversamos mais um pouco.

Maurício retribui o sorriso de forma concordante. Pelo menos poderão usar aquela hora para se entreterem de tantos problemas.

Quando a b-girl chega em casa, Rita está deitada. Ela havia chegado de mais uma busca, tinha tomado banho e almoçado e agora descansava um pouco para poder retornar com o grupo da tarde.

- Oi minha musa - Brooke deita ao lado dela.

- Oi, B. Como foi o almoço com o Maurício? Você não cometeu nenhum deslize, não né?

- Não, pode ficar tranquila. Eu não falei nada a respeito de você ter me contado que ele é gay. Na verdade, ele mesmo acabou comentando isso. Acho que ele finalmente se sentiu seguro pra falar a respeito disso comigo.

- Nossa! Isso é muito bom!

- Eu acho que cometi uma besteira.

- Ah não, Brooke! O que você fez?

- Eu fui pedir pra ele doar o sêmen dele pra nós engravidarmos!

- O quê? Você ficou louca? - Rita avança nela.

- Eu sei que fui idiota, mas é que eu não consigo mais te ver assim, sofrendo por não poder engravidar!

- Você foi muito babaca! Não tem o direito de achar que pode decidir sobre o meu corpo e os meus anseios. Já falei pra parar de reproduzir machismo. A convivência com sua mãe está te afetando drasticamente!

- Desculpa, não foi minha intenção! - Brooke a pega pela mão e começa a beijá-la.

- Temos que decidir isso juntas e não com terceiros! Isso nos expõe desnecessariamente!

- Você tem toda razão! Mil perdões!

- Eu não tenho cabeça para mais nada no momento além de encontrar o Jean, de proteger e cuidar de quem está aqui agora, precisando!

- Você está certa. Nós vamos encontrá-lo, eu prometo.

- Só de pensar que ele está passando frio, fome e perigo, me corta o coração!

- A mim também - Brooke a abraça forte para confortá-la e como se pudesse alcançar Jean de alguma forma.

Durante a busca da tarde não encontram nenhum sinal de Jean e a madrugada praticamente se arrasta para as duas, principalmente porque começa uma chuva torrencial.

Rita finalmente consegue pegar no sono, mas Brooke fica ainda mais inquieta. Então ela resolve vestir uma roupa quente e colocar uma capa de chuva e sair pelas ruas próximas guiada apenas pelo instinto. Para sua surpresa, ela encontra Jean nas proximidades, todo molhado, tremendo de frio e visivelmente faminto, tentando se esconder debaixo de uma marquise. Ela corre para ele e o envolve em seus braços, dando vazão a um sentimento materno recém aflorado.

Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio Onde histórias criam vida. Descubra agora