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Gabrielle desperta em uma espécie de pintura, a tinta ainda está úmida e ela caminha com certa dificuldade pelo solo pintado de verde que simboliza a grama. Escuta a canção de uma ave e olha para o céu borrado. Alguns pingos azuis sujam seu rosto. A ave de penugem branca com detalhes vermelhos na parte debaixo das asas moldando a cauda em posição de repouso e na parte de cima da cabeça, a sobrevoa indo parar em uma árvore próxima. Gabrielle a acompanha com o olhar. O gracioso pássaro se desmancha, misturando-se as outras cores do cenário e delas pincelam Tomoyo, trajada em um vestido branco com as mesmas nuances de vermelho na borda e nas alças. Ela caminha até Gabrielle e a tinta do quadro se fixa durante o trajeto.

— Tomoyo! — a brasileira suspira pegando e beijando a mão da jovem mulher.

— Eu mesma — diz sorridente.

— Por que você me deixou?

— Nossa vida no mundo material é breve em comparação com a nossa verdadeira vida no além. Eu estou bem, Gabrielle. Eu vim te ver para pedir que você não se culpe, que não sofra por mim. Eu fiz minha escolha e espero que a respeite. Tenho muito mais a contribuir desse lado nesse momento do que no outro. Não é uma despedida definitiva. Ainda iremos nos encontrar! Estaremos sempre juntas — Tomoyo dirige sua mão direita para o meio do peito de Gabrielle, fazendo menção ao seu coração.

— É difícil. É como se eu tivesse perdido uma parte de mim.

— Não se engane. Você sempre foi completa. Nós apenas nos transbordamos e agora necessitamos desaguar em rumos diferentes, embora estaremos sempre ligadas! Eu já concluí minha tarefa e você deve retornar para terminar a sua, mas vá com a certeza de que eu sempre estarei com você!

Tomoyo puxa Gabrielle pelo queixo e deposita um beijo em sua boca, demorando-se na demonstração de sentimento, renovando-a. Satisfeita, ela dá as costas, com Gabrielle ainda segurando sua mão sem a mínima intenção de soltá-la, e ela transmuta-se na ave novamente, alçando voo em seguida. Uma pena se solta na mão de Gabrielle e a brasileira acorda com a movimentação no furgão do Juka.

O faxineiro chega no endereço e estaciona.

— Você pegou no sono durante toda a viagem.

— É, eu não consegui dormir essa noite.

— Eu sei — Juka vê o carro de Akira estacionar logo atrás pelo retrovisor e a fita. — Chegou a hora da nossa despedida.

— Que despedida? Do que você está falando?

— É o fim da linha para mim. Eu não tenho mais nada para contribuir com sua existência. Já te ensinei tudo o que devia. Já te passei todos os meus conhecimentos. Chegou a hora de você caminhar com suas próprias pernas e eu... Eu irei trilhar o meu próprio caminho, longe daqui.

— Mas Juka... Eu pensei que você iria ficar comigo até o fim! Eu já perdi a Tomoyo. Agora você também quer me deixar?

— Nós sempre seremos amigos, independente da distância que fisicamente irá nos separar. Daqui pra frente, é por sua conta e eu tenho certeza que você tomará as melhores decisões de acordo com tudo o que aprendeu.

Gabrielle suspira fundo.

— Mesmo que eu implore, que eu diga que preciso de você, você não irá ficar, não é?

Juka balança a cabeça negativamente.

— Nada é por acaso. Eu só estive aqui para nossas almas se reencontrarem e eu te orientar, e agora que você está no caminho certo, não tem porque eu continuar aqui, não posso mais interferir. Você amadureceu e não é mais minha responsabilidade.

Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio Onde histórias criam vida. Descubra agora