Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio

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Olhos negros brilhantes, grandes e expressivos, sorriso pequeno e alinhado, e cabelos pretos azulados, invadiram a mente de Gabrielle. Tudo em que consegue pensar é na imagem de Mika. É a única coisa boa que se passa em sua cabeça. Se não tivesse aceitado o patrocínio de Mitsuo, talvez, nunca mais a veria depois daquela fatídica noite. Nunca – essa palavra lhe perfura o coração de súbito, só de imaginar que nunca mais desfrutaria da companhia da adorável e atraente; Mikaela Sato. Estaria no alojamento da federação nesse momento, dedicando-se extremamente aos treinos, com o intuito de apenas vencer a competição, e preencheria seu íntimo com mais um vazio. Carregaria a frustração de mais um romance que ficaria somente nas suas expectativas de se envolver. Continuaria sobrevivendo. E não queria ser só mais uma alma no livro da existência de Deus. Tinha ânsia de viver, tudo que lhe fosse de direito. Usufruir de seu livre-arbítrio como deveria. Permitir-se. Ir além.

No Brasil foi controlada pela avó. As escolhas quando não procediam da senhora que havia lhe criado, limitava-se, reprimia-se para não ser responsável pelos desgostos da idosa.

Bastava ter que discutir todos os santos dias por causa da arte marcial que decidiu praticar. Gabrielle tornara-se uma moça de gestos automáticos, omitindo sua essência, por tolo medo de se mostrar verdadeiramente como é. Custoso demais ficar se policiando, enterrando sua autenticidade. Agora, longe dos cuidados e dos olhos maternos que conheceu, a vida a convida para viver. Aprendeu a prudência, medir as consequências antes de tomar qualquer atitude para não se arrepender. E por mais que tente abafar, algo apita em sua consciência que as coisas não terminarão nada bem. É sua intuição. Aquela vozinha amiga que escapa de seu cerne, que provém do contato elevado com seu eu superior, quem a adiantava o discorrer. Mas, seu orgulho bate de frente. Precisa arriscar. Conhecer o gostinho de aventurar-se e pagar para ver até onde irá. Se for com ou por Mika, ela irá até ao inferno se possível. Em sua mão, está finalmente o poder de escolha!

Necessita experimentar até onde poderá ir por amor. Se o sentimento é mesmo essa vontade de fazer algo para alguém, ser capaz de sacrificar o ego. Não existem dúvidas de que o amor é mais sublime, é calmaria, e estabilidade, no entanto é a paixão que atormenta e a faz ferver. Cega. – sim. Talvez, esteja mesmo com um véu cobrindo seu discernimento, porém o que de mal haverá em acreditar que o amor pode ser de fato real? E tudo que está disposta a fazer por Mika, ela também estará? Certezas só se obtém arriscando, tentando. Enganar-se era uma das partes prováveis a serem digeridas aos corajosos. Sim. – amar exige coragem. Porque quem ama não fica somente nas palavras, a prática é um ato espontâneo.

Afinal, o que tem a perder?

Voltar para o Brasil para sua vida medíocre?

Ter que aturar a aversão de sua avó; fanática religiosa, aos homossexuais? E consequentemente ter que continuar fingindo ser uma heterossexual zelosa à espera do seu príncipe encantado para se casar, e encher a casa com 5 filhos, por falta de coragem de se assumir?

Tóquio a proporciona a tão almejada liberdade. Ela pode ser de fato quem é, sem se esconder ou temer o julgamento das pessoas. Por que ninguém a conhece, e suas opiniões não importam.

Definitivamente, não. Não tem nada a perder. Ir adiante é de sua vontade. Colocará sua vida em jogo. Tem que conquistar as tão sonhadas realizações de que as pessoas tanto falam. Profissionalmente; como uma lutadora reconhecida, materialmente; não é nenhuma prioridade desde que tenha o necessário para viver com conforto, espiritualmente; se sente de bem com o Criador, ou Deus como é conhecido, pois a consciência está tranquila, fazendo aos outros àquilo que faria para si mesma, emocionalmente; a oportunidade enfim surgiu. É tudo ou nada.

– Certo. Me passa a caneta – Gabrielle concorda de imediato, após as reflexões alheias à Li.

Ele abre um sorriso imenso, e logo está com o objeto na mão, que havia tirado da bolsa. Dá a ela dizendo: