Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio

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Mika

Estou parecendo uma idiota nessa fantasia. Onde já se viu? Ser obrigada
a vestir-me de rata? Urgh. Não sei quem é mais ridículo: Mitsuo com seus fetiches esquisitos, ou eu; que acato a todas as suas ordens.

Bufo antes de terminar de pintar parcialmente meus lábios de preto.

Estou cansada. Cansada dessa casa; cansada desta vida de prisioneira; cansada das extravagâncias sexuais de meu marido; cansada do papel de bom moço que Toyo está interpretando; cansada... Definitivamente; cansada.

Não sei por mais quanto tempo vou aguentar. Não nasci para ser dominada. Não vim a esse mundo apenas para sobreviver.

Necessito sentir-me totalmente viva novamente. Quero experimentar da sensação de estar sangrando pra ter certeza que sou mesmo real, que amanhã acordarei e poderei correr na chuva, gritar no trânsito, mandar algum babaca ir se foder, ou ajudar um velhinho atravessar a Rua. Só quero de volta o gostinho de ter o controle sobre suas próprias escolhas, de caminhar com suas próprias pernas, como qualquer ser humano normal.

Mas, não me arrependo de nada. Por incrível que possa parecer. Tenho orgulho da minha princesinha. E pela Kyoko sou capaz de tudo, até de matar se for preciso. Por ela, nenhum sacrifício seria o bastante. Quero proteger minha filha das maldades das pessoas, de toda malícia que nos cerca, envolvê-la com segurança em meus braços e observar os cisnes sobrevoando uma daquelas lagoas de água cristalina... Porém, sei que isso é um sonho impossível para toda mãe. Um dia ela sairá de seu mundo, onde tudo é belo e divertido e conhecerá a realidade em que vivemos, e terá que enfrentá-la, custe o que custar, doa o que doer. Por isso não devo ser uma mãe omissa, que alimenta os sonhos infantis, e depois tem que ver seu filho sofrer porque caiu e não soube se levantar sozinho. Porque é isso que aprendi com a vida. Devo ensiná-la a se defender, mas como toda boa criança nunca desistir de acreditar num futuro melhor. Para cada coisa, o seu tempo. Mas, o tempo pode ser muito ingrato com quem não sabe aproveitá-lo, extraindo o melhor que ele tem a oferecer.

No entanto, de fato, não tenho sido uma boa mãe ultimamente... Desde que... Gabrielle se foi. Arfo. Deixo que minha coluna se esparrame nas costas da cadeira, e fixo minha imagem entristecida e exausta no espelho.

Não sei por quê, insisto em sair transando com tantas mulheres e homens por aí - nunca tive vergonha da minha bissexualidade, se bem que estou mais para pansexual; pouco me importa o gênero da pessoa em questão se eu me sentir suficientemente atraída por ela - Jamais vou conhecer toque tão exultante como o daquela brasileira. Talvez, meu único erro seja esse: tentar substituir o que é e sempre será insubstituível. A verdade é que; todos somos descartáveis, como peças irrelevantes de um jogo cruel, até o amor nos encontrar e tornar-nos únicos e especiais na vida de alguém.

Ilusão foi a minha, em achar que o sexo luxuriante poderia sobrepor; a carícia plena que uma alma tem o poder de proporcionar a outra.

Agora sim consigo entender Gabrielle: ela dizia que o sexo deveria ser apenas uma demonstração genuína de amor, quando todas as outras não fossem suficientes, como uma cachoeira de sentimentos transbordando pelo nosso Ser, necessitássemos extravasá-la.
Mas, ela se foi. Partiu para nunca mais voltar... Ainda que a sinta bem viva dentro de mim.

Ao menos; ainda posso me embebedar, e esquecer de tudo isso nem que seja por alguns instantes de grogueza.

Levanto-me e aliso minha cintura presa por um espartilho preto. Não deveria estar tão magra. A bulimia alcoólica é visível. Contudo, recuso a me submeter a algum tratamento. E, loucura pensar que Gabrielle é minha cura... Pois, se depender dela, morrerei de desidratação em breves dias. A única responsável por mim, sou eu mesma.