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Gabrielle olha com confusão das fotos para a reportagem, escrita minuciosamente em japonês. Coloca seu raciocínio para funcionar imediatamente. E não é difícil compreender o que está sendo dito.

— Não faço ideia de como eles chegaram a essa dedução.

— Ah, não?! Não será por que você disse a eles que é lésbica? Faça-me o favor Gabrielle! — indignada, Mika bufa revirando os olhos.

— Não, não disse. Eu jamais expus a minha vida pessoal dessa forma, ainda mais sabendo que você está envolvida nela e no meio de toda essa situação. Nunca te colocaria em problemas tão sérios com o Mitsuo.

— Não é o Mitsuo que me preocupa, Elle. Você sabe — se afasta se sentando no braço do sofá.

— Toyo... — murmura se lembrando do enteado sociopata de Mika.

— Sim. Ele mesmo. Mitsuo já sabe da nossa relação, ele mesmo me incentiva a tal. Claro que com interesse, mas, já é alguma coisa. Agora o Toyo está possesso de ciúmes. Quando ele ver essa revista, as suas dúvidas acabarão. E, tudo estará perdido...

— Não tenho medo dele — Gabrielle estufa o peito com um ar orgulhoso.

— Pode até ser que ele queira cumprir suas ameaças, mas ele não perderá a chance de me atingir.

— Kyoko! — a brasileira leva a mão a testa — Oh merda. Desculpe-me, Mika. Eu vou entrar em contato com a revista e exigir que eles desmintam a matéria — anda apressada até o telefone.

— Não adianta. Toyo é esperto demais. E... não há nenhuma mentira aí.

Gabrielle solta o telefone de volta ao gancho.

— Mika... Perdoe-me... — se aproxima tentando beijá-la.

— Você estava com ela, não é? — a empurra, sentindo impregnado em sua pele o perfume de Tomoyo.

— Não é nada do que você está pensando...

— Tenho que limpar a merda em que você me envolveu. Fique com àquela vadia — ilustra uma expressão decepcionada e sai a passos largos do confortável apartamento.

A brasileira nem tem tempo de alcançá-la, e mesmo que tivesse, Mika está zangada demais para ser convencida com qualquer argumento. Também não é pra menos. Entende os motivos da mulher.

Passa as mãos nervosamente pelos seus cabelos castanhos, que refletem a luz que circunda o ambiente. A direita vai parar por toda extensão de seu rosto.

Desde que chegara em Tóquio, sua vida dera um giro absurdo, que a colocara de cabeça para baixo. Viera focada em um torneio e as situações estavam fugindo de seu controle. Gabrielle Saturno, uma jovem imensamente perfeccionista, não tem mais o poder sobre suas próprias decisões. O universo parece conspirar contra.

Senta no sofá. Matuta sobre os últimos acontecimentos com certo pesar, e uma longínqua sensação de segurança, como se alguém poderoso lhe guardasse nas mãos e estivesse planejando um evento grandioso, que dependesse unicamente dela para se concretizar, talvez um ato de redenção.

Salvar os filhos, que não possuíam mais o brilho de esperança no olhar, e a esposa desesperada de Victor, lhe trouxe grande satisfação íntima. Não se importaria de repetir cada momento, ou se precisasse fazer de novo, o faria sem pensar duas vezes.

Mika e Kyoko precisam dela. Toyo não pode continuar excedendo. É de sua responsabilidade dar fim a tamanha crueldade domiciliar.

Se existe um culpado dessa notícia ter vazado, é somente Li. Tem absoluta certeza que foi o produtor que a deletara no dia do ensaio fotográfico. Não é tão burra quanto parece.

Levanta depressa e trata de juntar suas chaves e a carteira no bolso.  Abre a maçaneta com o intuito de ir atrás do loiro e esclarecer as coisas. Mesmo que o estrago já tenha sido feito, ele não pode sair impune. Está se sentindo uma verdadeira justiceira. Enche os pulmões, solta o ar e infla o peito, pronta para enfrentar o que der e vier, no entanto é abordada de imediato na saída.

Dois homens brancos, altos e musculosos aparecem misteriosamente, a tomam com extrema força pelos braços, impossibilitando-a de reagir.

Um terceiro surge e cuida de tapar sua boca com uma mordaça de tecido, para que não chame a atenção de ninguém, e a cabeça com um capuz preto.

Eles a arrastam apressadamente pelo corredor, e mesmo que ela se debata incansavelmente, não consegue se soltar.

Descem rapidamente as escadas de emergência até que ouve um som de uma porta se abrindo e a empurram dentro do porta-malas de um automóvel. Com dois minutos dão partida e os pneus cantam no asfalto.

Ser sequestrada em Tóquio, definitivamente, não estava nos seus planos.

Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio Onde histórias criam vida. Descubra agora