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Por mais que Tomoyo tente me convencer de achar outros meios de me redimir perante essa tal misteriosa justiça Divina das reencarnações, com seus conselhos; não consigo enxergar outras formas. A verdade é que minha alma está manchada dolorosamente pela violência. Seja pela que pratiquei por ignorância moral; seja pelas que me foram cometidas desde que cheguei em Tóquio.

Estou absolutamente decidida a tentar um acordo com Mitsuo e comprar a liberdade de Mika e Kyoko no ringue dos Sobreviventes. E creio, que ninguém conseguirá me fazer mudar de ideia.

Acredito que chegou o momento de lutar, e derramar sangue, seja o meu ou o dos outros; se for preciso, por um motivo realmente digno. Ainda, que minha escolha seja totalmente egoísta. O que recuso-me energicamente; é passar a vida inteira fugindo, na sombra de mim mesma.

Esta viagem para dentro do meu cerne, não pode ser em vão. Eu não poderia voltar a mesma depois de ter ido ao meu inferno astral. Essa é a verdadeira Gabrielle Saturno. Uma lutadora sanguinária capaz de tudo para ter o que deseja. E, se a vida exige que eu parta uma cara e quebre alguns dentes de forma literal; é isto que irei fazer, sem nenhum ressentimento.

Quem empunha uma espada perecerá pela mesma, e obviamente não tenho mais nada o que perder.

Somos somente eu, e eu agora. Pelo que pude constatar na minha quase morte; minha avó ficará segura, graças a Bob. Quem diria! A vida é mesmo engraçada. Tem um jeito todo particular e tortuoso de juntar as peças e extrair o que nos será de serventia. Na hora em que mais precisei descobri finalmente quem é meu pai. E, definitivamente: Tóquio a partir de agora se tornará minha única casa, e caso algum dia eu sinta necessidade de respirar novos ares sei pra onde posso retornar.

Um sorriso malicioso de meia boca se desenha em meus lábios.

Já passei tempo demais deitada nessa cama. Preciso mover meus músculos, antes que eu fique enferrujada.

Levanto-me com o cuidado; que ainda me convém, e avistando um espelho empoeirado ; caminho até ele segurando o ferimento recém cicatrizado no meu abdômen. Admito que meu corpo ainda dói, talvez menos do que há 75 dias. Mal posso acreditar que já vai completar três meses que estou refugiada nessa casa estranha de Juka.

Nesse tempo; Tomoyo me amparou para que eu pudesse dar pequenas caminhadas - pelo que podemos chamar agora de meu quarto - , pra testar as pernas. E, bom, não fiquei paralítica, nem com nenhuma sequela, pelo menos não física. Além; do estrago visível, ficou o moral, sem dúvidas. Por falar em balas, minha cabeça parece bem normal pra uma cabeça com uma bala de um colt 38 alojada.

Sim. Não entendia nada de revólveres - uma vez que as minhas armas sempre foram meus braços - até; Juka me contar por qual fui atingida através da munição. Segundo ele; se conhece uma arma pela sua munição, como se conhecessem as pessoas pelos seus atos. Fiz questão de saber cada mínimo detalhe desse revólver. Posso ser bem possessiva quando se trata de um filho da puta me acertar a queima roupa pelas costas. Uma das coisas mais importantes que aprendi com as artes marciais; foi a de nunca atacar seu oponente pelas costas.

Voltando a arma: A pistola caiu no gosto das polícias brasileiras, a relativa grande quantidade de munição que sua recarga comporta, seu mecanismo de operação semi-automático e o efeito de seus impactos (notadamente a de calibre .40), são motivos suficientes para justificar as contínuas aquisições desse armamento pelas corporações policiais. Apesar do sucesso das substitutas, os substituídos estão longe de ficar para trás - o consenso é que o "trez oitão" tem qualidades que ainda não foram superadas pelas pistolas.

O revólver é a única arma de fogo que possui várias câmeras (variando entre cinco e oito) para um único cano. Estamos falando duma peça chamada "tambor", popularizada simbolicamente nos filmes de faroeste, onde os mocinhos e bandidos giravam os de seus revólveres como roletas, antes de fechá-los. Com mais simples e popular manuseio que as pistolas, os revólveres tem a fama de nunca falhar, e de ter um alto poder incapacitante em seus alvos. Essas funcionalidades foram proporcionadas pelo norte-americano Samuel Colt, o inventor do revólver...

Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio Onde histórias criam vida. Descubra agora