Agora que Toyo não representa mais perigo e elas puderam voltar a morar na mansão Nakashima, Gabrielle, Mika e Kyoko estão paradas em frente ao altar de Mitsuo. Uma fotografia do falecido está ao lado da urna com as cinzas e várias velas acesas além de alguns incensos. As três estão vestidas de preto e Kyoko termina de acender a última vela. Mika está chorosa, mas na presença da filha tenta disfarçar o medo que está sentindo do seu futuro incerto. Depois de alguns dias, seguindo o ritual budista, as cinzas serão levadas para o túmulo da família. Com Toyo não houve tanta cerimônia. Simplesmente, os homens de Hiroshi desovou os corpos e ameaçaram e compraram as testemunhas para a polícia não se envolver nos negócios da máfia.
— Mamãe. Não chore — Kyoko agarra a mulher pelas pernas. — O papai está num lugar lindo com nossos ancestrais e em breve irá reencarnar.
— Ah minha linda — ela se abaixa para ficar da altura de Kyoko e a beija seguido de um abraço, admirada com a maturidade da garota. — Eu sei. Estou chorando por nós que teremos que lidar com a vida sem ele.
— Não se preocupe. De onde ele estiver, ele irá cuidar de nós — garante acariciando o rosto abatido de sua mãe. — E agora nós temos a Gabrielle — aponta pegando na mão da mulher alta e musculosa, que sorri emocionada.
— Tem razão. Juntas, ficaremos bem. Agora vai lá pro seu quarto descansar um pouco. Te chamo quando estiver na hora da janta.
— Está bem — Kyoko sai andando tranquilamente com a paz estampada em seus olhos.
Assim que ela se afasta, Mika se dirige para a adega, enchendo o copo de um alcoólico, mas Gabrielle o toma de sua mão antes que ela despeje o conteúdo garganta abaixo.
— Você precisa parar de usar a bebida para fugir dos seus problemas — é taxativa. — Isso está te destruindo.
Mika tem que concordar, anda até mesmo substituindo as refeições por uma taça de algo que possa entorpecê-la. Desata a chorar.
— Eu sei, mas eu tenho tanto medo. Você não entende. Nossa sociedade é extremamente machista. Uma mulher viúva com uma filha pequena pra criar. Você sabe o que eles fazem com as mulheres na máfia? Era o Mitsuo que nos mantinha protegidas.
— Eu não vou deixar que nada ruim te aconteça. Eu já conversei com o Hiroshi. Ele não irá permitir que ninguém toque em você e muito menos na Kyoko.
— Isso que me entristece. Não posso ter respeito por mim mesma? Vou ter sempre que ficar debaixo da sombra de um homem? Não é justo, Gabrielle. Mesmo que não estejamos mais atreladas a máfia, a Kyoko é descendente e herdeira de uma casa e sempre estaremos marcadas por isto.
— Exatamente por isso você tem que se cuidar. Tem que estar apta para zelar de si mesma e da Kyoko até que ela tenha idade suficiente para fazer isto sozinha. Ela é um espírito iluminado. Irá realizar grandes feitos para melhorar a vida na terra. Nada é por acaso. Há sempre um propósito mesmo que seja difícil enxergá-lo no meio de tanto caos. Um dia após o outro e vocês conquistarão o respeito de qualquer homem. Você verá. Você é forte e não precisa de homem nenhum — Gabrielle assegura segurando forte na nuca dela.
Mika roça seu nariz ao dela encostando suas testas.
— Você está certa. Mas também estou preocupada com a luta de hoje. E se você não vencer? Eu não posso perder mais ninguém!
— Eu não vou a lugar nenhum — Gabrielle reforça beijando-a no topo de sua cabeça. — Eu juro que sempre vou voltar pra você — expressa e a beija nos lábios.
A luta entre ela e o russo, está marcada para às vinte e duas horas. Mika deixa Kyoko aos cuidados de Nara que aceita continuar sendo babá da menina mesmo depois de tudo o que aconteceu e acompanha Gabrielle.
A casa está cheia. Todos fizeram questão de comparecer à luta da mulher que sobreviveu a oito tiros a queima roupa. A Rússia escolhe seu melhor lutador. Ali não há distinções de gênero. Mulheres também podem lutar contra homens, isso vai de acordo com o lutador que está disponível. Enquanto se prepara para entrar no ringue, Gabrielle relembra as vezes em que foi acusada de obter vantagem contra as outras mulheres nos esportes por causa da sua variação hormonal e anatômica, que a designa como uma pessoa intersexo. E foi exatamente assim que descobriu que não pertencia totalmente ao binarismo biólogico que classifica o sexo feminino e o masculino. E desde então tem que sempre apresentar um laudo discriminatório comprovando que ela não faz uso de doping para poder continuar lutando muay thai profissionalmente e espera que um dia esse preconceito com corpos que estão fora do padrão mude. Por isso pessoas como ela precisam permanecer lutando e jamais desistirem dos seus sonhos.
Ela respira fundo quando sente braços rodear seu corpo e o perfume de Mika.
— Eu amo você e vou estar te esperando quando você sair daquele ringue.
— Eu vou correndo pros seus braços.
De repente, elas são surpreendidas com um tiroteio que se inicia do lado de fora do galpão, a interpol adentra a propriedade e troca tiros com os mafiosos presentes. Antes de morrer, Toyo havia denunciado a organização para a polícia criminal internacional para se vingar das casas envolvidas no negócio.
Gabrielle tenta proteger Mika com seu corpo e elas se enfiam no meio do tumulto, buscando por uma saída. Ela usa seus poderes como portadora do dragão e conseguem achar uma saída de emergência, um beco que leva até a mata ao redor. Porém, quando elas estão prestes a deixar o lugar, dois policiais as interceptam.
— Paradas, mãos na cabeça!
As mulheres entreolham-se pensando se reagem, mas há um risco delas não conseguirem e então elas cedem, ajoelhando-se e pondo as mãos acima da cabeça.
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Sexo, Ringue e Paixão em Tóquio
General FictionA lutadora amador Gabrielle Saturno recebe uma tentadora proposta para participar de um torneio de Muay Thai no Japão, após ser classificada em uma eliminação rigorosa no Brasil. Chegando lá, ela conhece a sedutora japonesa Mikaela Sato e um romance...