III

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Qualquer alma solteira de Áquila sabia que não dava apenas para perder tempo confabulando sobre a chegada da jovem misteriosa ao castelo, afinal de contas se aproximava o dia da apresentação à corte.

As moças solteiras seriam apresentadas à sociedade, estariam cara a cara com a rainha e poderiam, quem sabe, arrumar o par ideal, casando-se antes do inicio da próxima temporada, fugindo da sina de se tornar "titia".

As ruas de Áquila ferviam!

Boutiques abarrotadas de mães desesperadas, modistas alvoroçadas com o volume insano de pedidos...

Era de perder o fôlego!

E não era muito diferente dentro do castelo, porque a rainha Antonella, uma monarca extremamente amada por seu povo, gostava de tudo impecável, principalmente porque tinha que ser um exemplo para as demais pessoas. O povo só esperava do bom e do melhor na corte.

Suas mãos de dedos lânguidos apontavam para todos os lados no salão de dança, esquadrinhando o ambiente, coordenando a arrumação, já que as criadas viam-se perdidas diante de tantos mandos e desmandos.

Nada parecia o suficiente para a majestade.

Não fazia muito tempo que ela tinha chegado com seu marido e já estava ali. Entretanto, gostando ou não, acabou ouvindo alguns burburinhos e, pouco a pouco, foi se interando do ocorrido.
E isso a deixou estupefata.

Nunca esperou uma atitude tão impensada de Ravi. Seu caçula não parecia capaz de um rompante deste.

─ Quero cortinas verdes daquele lado... ─ A rainha disse, tentando livrar-se logo daquilo. ─ Depois falem com Tomázia sobre o jantar e a sobremesa. Ela sabe dos meus gostos.

─ Pois não, Vossa Majestade. ─ Respondeu uma criada, curvando-se à rainha.

A mulher deixou os preparativos de lado e caminhou pé ante pé pelo longo salão, desviando de algumas mesas e escadas postas ali para arrumar a iluminação, então, viu-se no corredor, incapaz de ainda admirar-se com tanta beleza que se via pelas janelas envidraçadas.

Dali podia-se ver todo o reino, inclusive os montes que se desenrolavam em um verde esplêndido, engolindo tudo, abraçando-se ao horizonte.

Ela, afundada em seus pensamentos, foi jogada à realidade ao ouvir a voz alterada do marido.

Na sala do trono, o rei e o filho mais novo conversavam.

─ Mamãe. ─ Ravi a saudou, curvando-se à chegada da mãe. ─ Como vai a preparação do baile da temporada?

─ Tudo nos conformes. ─ Respondeu, desconfiada. ─ Ravi, que história é essa que corre pelo castelo? Isso é uma espécie de brincadeira?

─ Queria Deus que fosse! ─ O rei intercedeu, sentando-se em seu trono. ─ Ravi perdeu o juízo!

─ Meu pai, permita-me...

─ Querido, isto é verdade? ─ A rainha quis saber, incapaz de ir contra o filho sem um motivo plausível.

O jovem príncipe, receoso pela reação da mãe, segurou-lhe as mãos.

─ Mãe, posso lhe jurar que não tomei nenhuma atitude adversa ao que me ensinaram neste castelo. Agi como sei que vocês agiriam em tal situação.

─ Não, meu filho. ─ O rei trovejou. ─ Não traríamos uma estranha à corte. Jamais.

A angústia pairava no ar.

Ravi sabia que o pai não estava mentindo, tampouco ousaria desmenti-lo caso fosse preciso, mas não temia a nada.
Ele sabia, dentro de si, que não errou.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora