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{Aviso de possível gatilho neste capítulo}

Ravi permaneceu parado na antessala mesmo depois que a esposa se foi. Ele cerrou os punhos e lutou internamente contra si mesmo.
Era como se houvessem outras vozes dentro de sua cabeça e cada uma delas repetia uma coisa diferente, enlouquecendo sua razão e pondo à prova suas próprias convicções sobre certo e errado.

Era difícil lutar contra si mesmo. Difícil e assustador.

─ Bom dia, Majestade.

Ele se virou devagar, estreitando os olhos ligeiramente por causa da claridade e assentindo para a duquesa que se aproximava, reverenciando-o com respeito.

─ Como vai, Kendra?

─ Muito bem. ─ Ela se desequilibrou um pouco por causa dos dedinhos de vinho que havia bebericado minutos atrás, mas quando Ravi se prontificou em ajudá-la ela disse que não precisava e sorriu. ─ Estou apenas cansada. O senhor deve imaginar como é desconcertante uma viajem tão longa quanto a que eu fiz.

─ Compreendo. E quero aproveitar para pedir perdão por meus modos de ontem. Eu juro que não sou daquela forma. Jamais trataria meu povo daquele modo, tampouco isso reflete algum comportamento das pessoas do palácio. Foi um erro somente meu.

Kendra Durand o estudou um pouco, percebendo que o cunhado era muito belo, mas com um ar tolo, quase inocente.
Ela queria ter visto essa pureza nos olhos de seu noivo, mas Ruggero parecia passar muito, muito longe disso.

─ Não deveria puxar para si tanta responsabilidade, afinal não faz nem vinte e quatro horas que assumiu o trono. Aliás, quando sai para a lua de mel? Eu sei que Antonella e Bruno cuidarão de tudo muito bem até o regresso de vocês.

Ravi desviou o olhar.

─ Creio que não haverá lua de mel.

─ Não haverá? Mas como assim? Todos os casais têm sua noite especial, momentos a sós... Oh, não me diga que o senhor vai priorizar o trabalho ao invés de sua esposa? Não faça isso, é muito errado.

O rei suspirou pesadamente e cruzou os braços.

─ Acredito que a minha esposa não se importa de ser negligenciada, por que foi ela mesma que escolheu não ter lua de mel. Ela deseja começar os trabalhos aqui em Áquila imediatamente.

Kendra comprimiu os lábios tentando não rir.

Ela tinha que admitir que a 'rata' era muito mais esperta do que pensou.

─ Que lástima! Como uma mulher pode não querer satisfazer seu próprio marido? Céus! Todas nós somos criadas para ajudar nosso esposo, cuidá-lo, respeitá-lo e, lógico, colocá-lo sempre em primeiro lugar. É a tradição. Sinto tanta pena de você, Ravi... Você não merecia tenta falta de consideração.

Incomodado, o novo rei trocou o peso do corpo para a outra perna e engoliu em seco.

─ Eu sei que ela me ama. Estamos bem, o único problema é que a minha esposa possui um gênio forte, mas estou esperançoso que nossas desavenças se esvaiam e tudo fique bem. Eu acredito nisso.

─ O senhor realmente acredita nisso? Oh Deus! ─ Ela olhou em volta, depois chegou mais perto dele, diminuindo o tom de voz. ─ Eu odeio fofocas, mas todos falam que a nova rainha não se preocupa com o senhor, caso contrário teria ido até seu quarto na outra noite, teria lhe ajudado, buscado saber do que o senhor precisava para melhorar... Não pensa assim?

Ravi havia tentado empurrar esses pensamentos para longe, mas sim, tudo isso tinha cruzado sua mente, fazendo-o se atormentar com o afastamento da mulher que amava.
Mesmo bêbado, era o dever dela ter ficado ao seu lado. Casaram-se afinal! Essa postura de sua amada voltava a lhe irritar.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora