XLIX

315 43 834
                                    

Dias depois...

O inverno não parecia disposto a dar adeus à Inglaterra, mas naquela manhã um sol extremamente incomum caiu sobre Áquila com raios resplandecentes, acordando a vida que habitava naquele reino ainda tão abalado pelos últimos acontecimentos.

Desde o velório da duquesa, ou talvez antes, no dia da morte da senhorita, ainda vagava por ali uma sensação de luto profundo.
Ninguém queria estar na pele dos monarcas, pois teriam que avisar aos pais da francesa, explicando a fatalidade que a empurrou nos braços da morte precoce.

Quando o corpo de Kendra Durand foi velado no castelo, um dia após a morte, o burburinho foi geral, principalmente por causa do rosto machucado do rei. Supuseram que ele havia, novamente, participado de outro desentendimento, mesmo que tenham dito que foi uma coisa sem importância durante o treino de tiro que o monarca participou na floresta.

Ninguém acreditava nessas mentiras.

E para corroborar com os comentários maldosos, a rainha e ele nem se olhavam; em contrapartida, a mulher passara o velório inteiro na companhia do cunhado, indo de um lado a outro cumprimentar as pessoas.
Parecia o cenário perfeito para criar teorias e enlouquecer com elas.

Depois daquele dia fatídico e mórbido, a população precisou voltar a seus afazeres, rumando para uma direção de normalidade, mesmo que as confabulações em torno da morte da duquesa ainda fossem muitas.
Algumas pessoas não acreditavam em suicídio; e aquelas que acreditavam, puseram-se a rezar na igreja, pedindo que Deus a perdoasse por esse erro tão grande, e que a alma daquela moça não fosse para o inferno.

Mas já no castelo, por entre as colunas de mármore que teciam rotas pelos corredores obscuros, a sensação de vigilância era perturbadora.
Ninguém de fato se sentia seguro ali, e boa parte dos criados achavam que o palácio estava eternamente mal assombrado, já que acreditavam fielmente que o espírito da duquesa ficara preso ali, principalmente pelo amor que tinha por Ruggero.

Um inferno.

Por sua parte, Bruno contratou mais segurança, por precaução, pois até ele suspeitava desse suposto suicídio.
Ademais, sua esposa, ainda atormentada pelo acontecimento, cismava em dizer que a nora tinha algo a ver. Ela repetia que Karol queria roubar Ruggero da duquesa, e por isso fez o que fez. A antiga rainha pensava constantemente numa forma de provar isso, só assim viveria em paz. Ela sentia que devia isso aos pais de Kendra; os monarcas franceses ficaram devastados e lançaram inúmeras ameaças ao castelo, mesmo que fosse da boca para fora.

O problema era que aceitar uma coisa daquela era muito difícil.

Um pai e uma mãe nunca estão prontos para perder um filho.

Entretanto, por mais que fosse complicado seguir a vida, a monarquia de Áquila não tinha escolha, afinal o povo dependia deles.
E não era uma morte que cessaria seus deveres.

Por isso, ainda bem cedo, Karol deslizou para fora dos lençóis da cama de Ruggero, tentando não acordá-lo, muito embora sua vontade fosse de permanecer ali.
Só nos braços dele era que ela conseguia dormir bem, sem pesadelos, sem pensamentos ruins, e era por isso que a rainha fugia no meio da noite, embrenhando-se por entre as sombras até encontrar a porta do quarto do rapaz que sempre estava destrancada.

A parte ruim era ter que fugir no outro dia. Ao menos até decidirem de fato o que fariam dali por diante.
Pois nem o plano de vingança de Lily, nem nada do que aconteceu antes era mais importante do que o bebê que estava para nascer.

E o filho precisaria estar em segurança.

Enquanto se vestia, a monarca lançava olhares para seu amado, dando-se conta de que muito antes do bebê ela já havia decidido abrir mão da vingança.
Talvez, no dia do casamento quando ele se declarou... Naquele dia algo aconteceu dentro dela, algo maior do que qualquer coisa no mundo; ela se sentiu digna.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora