XLI

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Bruno sentiu-se numa queda vertiginosa a cada segundo que assimilava mais e mais o que havia acontecido.

Como se sua mente estalasse trazendo-o para a realidade dos fatos, ele correu na direção do filho mais velho e começou a puxá-lo, percebendo que o outro homem deitado no chão não tinha como se defender, pois a única coisa que conseguia fazer era pôr as mãos sobre o rosto, protegendo a face dos golpes violentos de Ruggero.

Entretanto, por mais que tentasse Bruno não tinha forças para tirar o príncipe dali, pois Ruggero estava completamente fora de si, desferindo socos e mais socos, sem se importar de onde poderia acertar; ele só queria machucar o irmão até que o ar se esvaísse de seus pulmões, até que ele morresse bem ali, sabendo exatamente o motivo pelo qual estava sendo assassinado: por ser um covarde.

Desesperado, o padrasto dos rapazes recuou e correu até o corredor, indo chamar os guardas que sempre faziam rondas por dentro do castelo; o grito de Bruno reverberou por todos os lados, alarmando todos que moravam no palácio, explanando a desgraça que estava prestes a acontecer bem ali.

Assustada com berros vindos do lado de fora, Antonella saiu da cama. Ela mal havia chegado ao corredor quando viu três guardas correndo na direção do quarto da nova rainha, sendo seguidos por Bruno.
Cambaleando ela foi atrás, parando rente à porta por causa do choque que tomou ao ver Ruggero sendo imobilizado pelos guardas reais, puxado para trás enquanto se debatia, com as mãos ensanguentadas e a camisa rasgada; porém isso não foi o que a deixou pior, seu maior desespero foi quando viu Ravi - que agora tentava se sentar com a ajuda do pai ─, mas que nem de longe parecia bem, tampouco o mesmo de antes.

O rosto do rei estava coberto de sangue e um dos olhos sequer abria, a boca parecia fora do lugar ou talvez fosse o maxilar arroxeado; Ravi urrava de dor, contorcendo-se enquanto Bruno lutava para imobilizá-lo, pedindo que chamassem o médico na cidade e que levassem Ruggero para fora, porque apesar de estar sendo segurado, ele não parava de repetir que ia matar o irmão, prometendo cumprir aquilo que não tinha conseguido acabar.

Todavia, os olhos de Antonella varreram o resto do cômodo e quando ela viu Karol, completamente atordoada, lutando para cobrir o corpo machucado, entalando-se com as próprias lágrimas, a ex-rainha sentiu que o tempo paralisou, como se pudesse rebobinar a fita da própria vida, retornando ao momento em que passou exatamente por aquilo, exceto pela parte de que ninguém pôde salvá-la.

Um soluço escapou dos lábios de Antonella.

Era a coisa mais difícil do mundo para a monarca aceitar que o filho tinha feito aquilo que estava óbvio. Ela não queria acreditar que Ravi fizera o mesmo que o avô tinha feito no passado. Antonella não conseguiria assimilar que Ravi, seu filho amado, tentara estuprar Karol, assim como o pai de Antonella a estuprou no passado, deixando-a grávida, poucos dias antes dela se casar com Albert e tornar-se rainha.

Antonella não respirava direito. Seu peito parecia comprimir-se até quase desaparecer.

Aos tombos ela foi até a cama onde Karol estava e apesar de odiar aquela mulher, viu-se nela e fez aquilo que queria que alguém tivesse feito em seu passado; a ex-rainha retirou o robe que usava e deu para a moça que mesmo hesitante aceitou, então a ajudou a se livrar do vestido rasgado, por fim deixou que Karol se apoiasse nela para sair da cama, afastando-se do caos que ainda reinava naquele lugar.

Nelly apareceu logo, seguida por Theodoro, e assim que viu sua senhora sendo amparada pela sogra, totalmente debilitada, a mocinha viu seu mundo desabar, afundando na dor que via nos olhos de Karol. Uma dor tão profunda que quase a congelou no lugar.

─ Leve-a daqui! ─ Antonella ordenou a Nelly. ─Tire-a daqui! Vá! Leve-a lá para baixo.

Karol quase tropeçou nos próprios pés quando foi se apoiar em Nelly.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora