XLVIII

341 42 585
                                    

Emily Brontë é uma escritora que admiro, Caro Leitor. Ela realmente sabe colocar no papel tudo aquilo que uma pessoa é capaz de sentir, seja o sentimento mais macabro ou aquele mais doce, delicado e eterno. De fato, Emily nasceu para isso.
Ah, mas vejamos... Existe algo que li dela que até hoje rodopia em meus pensamentos.

"Amará e odiará sem dar disso demonstração e olhará como uma impertinência o amor ou o ódio que receberá em troca."

E vocês podem me perguntar o motivo pelo qual trouxe isso à tona. E eu lhes digo: Não há um bom motivo.
Há, todavia, um adendo. Digamos que, por acaso, a vida no castelo de Áquila caminha nos dois extremos. Ou existe muita felicidade entre aquelas paredes, ou uma tragédia avassaladora capaz de deixá-los atordoados.

E foi essa segunda coisa que aconteceu na última noite.

Cá estou eu abrindo minhas anotações mais uma vez para vocês. E, certamente agora posso tratar A Face do Anjo como o cavalheiro que ele é.
Não que sejamos amigos, porque prefiro me manter como uma pessoa que apenas observa, anota, e repassa para vocês; mas se eu pudesse ser confidente de alguém ali, seria dele. É melhor ser aliado do inimigo, porque esse homem já demonstrou que não tem a menor empatia por alguém.

A sua frieza é tão mórbida quanto suas palavras e seus atos.

Eu sinto profunda pena da duquesa, mesmo sem nutrir afeto por ela, devo admitir que sua morte foi perturbadora.
Logo, Caro Leitor, nenhum de nós queríamos ser o alvo dessa pessoa.

Os escrúpulos não existem.

E depois desse rápido apanhado de divagações minhas, retomo para o que interessa.

O baile acabou ao som de um grito escandaloso de uma criada que encontrou o corpo de Kendra Durand.
A pobre velhota que ia buscar água nos fundos do castelo, deu de cara com a duquesa espatifada bem ali, sujando as rosas mortas com seu sangue e, claro, tornando aquela noite de festa em um enterro.

Oh, perdoe-me o trocadilho infame.

Depois disso foi uma sucessão de gritos, choros, perguntas atiradas ao vento e desencontros de idéias, já que ninguém entendia como uma moça tão jovem, saudável e importante havia se atirado de uma janela tão alta, entregando-se à morte com tanta facilidade.

E, devo dizer, a ex-rainha entrou em uma espiral de colapsos nervosos. Ela realmente gostava da senhorita. Uma pena.
Então, assim que Antonella foi tirada dali pelo marido – que estava tão abismado quanto ela –, os convidados foram mandados embora, porque logicamente não havia como existir uma festa depois daquilo.

─ A família dela precisa ser avisa imediatamente. ─ Ravi disse com firmeza, mas por dentro seu estômago se revirava com a cena. ─ Alguém, por favor, quer tirar o corpo dela daqui? Levem lá para cima. Vão!

─ Isso não pode ter acontecido... ─ Ruggero balbuciava ao lado dele, observando os guardas pegarem o corpo da duquesa com o maior respeito que podiam ter por um cadáver tão importante para a França. ─ Por que ela faria isso? Theo, isso não faz sentido!

O cortesão apenas abanou a cabeça, pois aparentemente ainda tentava racionalizar a carta que havia recebido e, do nada, ouviu os berros da criada anunciando a morte da duquesa; era como se uma parte de sua mente ainda estivesse em transição e assimilação. Mas a agonia de Ruggero lhe deixava alvoroçado.

─ Alteza, eu não sei... E-eu... ─ Ele olhou para cima e depois para baixo, onde o corpo estivera. ─ Por que ela se jogaria?

Agoniado, Ravi andava de um lado para o outro, com as mãos pousadas na cintura e o rosto franzido.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora