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O dia seguinte chegou depressa e trouxe consigo Mrs. Coimbra, esposa do fidalgo mais importante de Áquila. O pobre homem viera a falecer pouco depois do nascimento das duas filhas do casal, entretanto, deixara de herança uma gorda fortuna que era administrada pelo Rei, já que Mrs. Coimbra e a rainha eram grandes amigas.

Parando a carruagem em frente ao castelo, um criado desceu de seu posto para abrir a portinhola, ajudando a viúva a descer sem tropeçar na barra grossa do vestido escuro que trajava.

A mulher assentiu para seu servo, ajeitou o chapéu e foi guiada para dentro do palácio por um mordomo prestativo que já a conhecia de longa data, tendo grande afeição por ela.

─ Como estão as mocinhas? ─ Bernard, o mordomo, indagou à viúva.

─ Ó! Estão lindíssimas. Serão, finalmente, apresentadas à sociedade nesta temporada. Eu não haveria de estar mais entusiasmada, querido Bernard!

Adentraram a sala de visitas da rainha.

Mrs. Coimbra conhecia cada palmo daquele castelo, já que sua amizade com a rainha vinha desde a infância. Ambas correram por aqueles corredores, subiram e desceram as escadarias e, por vezes, pegaram os cavalos na baía e saíram pelo campo ─ mesmo que os pais de Antonella reprovassem tamanha falta de decoro.

Penélope Coimbra, antigamente atendendo pelo sobrenome de Veiga, não tivera a mesma sorte da amiga de encontrar o casamento tão logo chegou a idade; Penélope casara-se alguns anos depois, quando Martim Coimbra, um português de sotaque carregado, chegara a Inglaterra para uma reunião importante da nobreza da época.

Apaixonaram-se prontamente.

Anos mais tarde Antonella ficara viúva e, pouco tempo depois, acontecera o mesmo com sua amiga.

A diferença, portanto, era que a rainha fora agraciada por um novo casamento, coisa que Mrs. Coimbra já nem podia cogitar, principalmente agora que alcançara os cinquenta e tantos anos, totalmente fora dos padrões para um casamento.

Ela só vislumbrava um bom matrimônio para suas queridas Amélia e Âmbar; tão jovens quanto uma flor que acabou de desabrochar e tão feias quanto possível, mas, claro, atreladas a muito dinheiro, portanto capazes de fazer bom casamento.

─ Queira aguardar um pouco, Mrs. Coimbra. Sua Majestade já está por vir. ─ Bernard avisou, curvando-se em respeito à senhora. ─ Posso servir alguma coisa? Desejas um café fresco?

─ Não se preocupe comigo, Bernard. ─ Ela se sentou no sofá, cruzando as pernas com delicadeza, acostumada com as etiquetas. ─ Acabei de desjejuar com minhas filhas.

─ Perfeitamente, Mrs.

─ Espere, Bernard...

O mordomo parou, atento à senhora.

Bernard trabalhava no castelo há muitos anos e já não era apenas um criado; acumulava bons momentos ao lado de seus monarcas, sendo por vezes um conselheiro de confiança do rei. O devoto servo seguia à risca a regra de não especular diante de nada que acontecia, exceto se fosse muito necessário. E Mrs. Coimbra sabia disso.

─ Pois não?

─ É verdade o boato que corre sobre a andarilha que fora encontrada na floresta? Ó! Não busco fofocas, mas fiquei verdadeiramente assustada. Questionei-me o que poderia ter acontecido para tal moça ser achada de tal forma. Imagine só, que barbaridade!

─ É verdade, Mrs. Coimbra. Uma pobre moça. Os príncipes foram de uma delicadeza invejável ao trazê-la.

A senhora, com alguns vincos no canto dos olhos causados pela idade, curvou-se ligeiramente para frente; curiosa.

A Face do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora